Levante a mão quem nunca se automedicou por causa de uma
dor. É corriqueiro achar que ela é um mal passageiro, entupir-se de
analgésico e esperar até ela se tornar insuportável para ir ao médico.
Estudos indicam que 64% dos brasileiros tentam se livrar da sensação
dolorosa sem procurar ajuda.
Foi assim com a auxiliar de dentista Antônia Sueli
Ferreira, 45 anos, de São Paulo. "Tomei muito remédio durante três meses
por causa de cólicas fortíssimas e do que parecia ser uma lombalgia.
Só depois fui ao médico. E então descobri que tinha um
câncer colorretal. Tive de ser submetida às pressas a uma cirurgia. Por
sorte, estou bem", conta. Segundo o cirurgião Heinz Konrad, do Centro
para Tratamento da Dor Crônica, em São Paulo, "a dor é um mecanismo de
proteção que avisa quando algo nocivo está acontecendo".
A origem do malestar? Eis a questão — e, para ela,
precisamos ter sempre uma resposta. "Na dúvida, toda dor precisa ser
checada, ainda mais aquela que você nunca sentiu igual", aconselha o
cardiologista Paulo Bezerra, do Hospital Santa Cruz, em Curitiba. Aqui, selecionamos sete dores que você nunca deve ignorar.
Dor de cabeça
Dos 10 aos 50 anos, ela geralmente é causada por
alterações na visão ou nos hormônios — esta, mais comum entre as
mulheres. E esses são justamente os casos em que a automedicação aumenta
o tormento. "Isso porque, quando mal usado, o analgésico transforma uma
dorzinha esporádica em diária", avisa o neurocirurgião José Oswaldo de
Oliveira Júnior, chefe da Central da Dor do Hospital A.C. Camargo, em São Paulo. Acima dos 50 anos, as dores de cabeça merecem ainda mais atenção: é que podem estar relacionadas à hipertensão.
Dor de garganta
Costuma ser causada pela amigdalite de origem bacteriana ou viral. "Se
não for tratada, a amigdalite bacteriana pode exigir até cirurgia",
alerta o otorrinolaringologista Marcelo Alfredo, do Hospital e
Maternidade Beneficência Portuguesa de Santo André, na Grande São Paulo.
A do tipo viral baixa a imunidade e, em 10% dos casos, vira bacteriana.
Portanto, pare de banalizar essa dor. Se ela parece nunca ir embora,
abra os olhos: certos tumores no pescoço também incomodam e podem ser
confundidos, pelos leigos, como simples infecções.
Dor no peito
"Quando o coração padece, a dor é capaz de se espalhar na
direção do estômago, do maxilar inferior, das costas e dos braços",
descreve o cardiologista Paulo Bezerra. Em geral, isso acontece quando o músculo cardíaco recebe menos sangue devido a um entupimento
das artérias. "A sensação no peito é como a de um dedo apertado por um
elástico. E piora com o estresse e o esforço físico", explica Bezerra.
Não dá para marcar bobeira em casos assim: o rápido diagnóstico pode
salvar a vida.
Dor nas pernas
Muita gente não hesita em culpar as varizes — às
vezes injustamente. "A causa pode ser outra", avisa a fisiatra Lin Tchia
Yeng, do Hospital das Clínicas, em São Paulo. Uma artrose, por exemplo,
provoca fortes dores nos pés e nos joelhos. Se não for tratada, piora
até um ponto quase sem retorno.
"Em outros indivíduos a dor vem das pisadas", explica
Lin. "É quando há um erro na posição dos pés ou se usam calçados
inadequados." Sem contar doenças como hipotireoidismo e diabete, que
afetam a circulação nos membros. "Há medicamentos específicos para
resolver a dor nesses casos", diz a reumatologista Solange Mandeli da
Cunha, do Centro de Funcionalidade da Dor, em São Paulo.
Dor abdominal
Uma dica: o
importante é saber onde começa. Uma inflamação da vesícula biliar começa
no lado direito da barriga, mas tende a se irradiar para as costas e os
ombros. Contar esse trajeto ao médico faz diferença. "Se a pessoa não
for socorrida, podem surgir perfurações nessa bolsa que guarda a bile
fabricada no fígado", diz o cirurgião Heinz Konrad.
Nas mulheres, cólicas constantes — insuportáveis no período menstrual — levantam a suspeita de uma endometriose,
quando o revestimento interno do útero cresce e invade outros órgãos.
"Uma em cada dez mulheres que vivem sentindo dor no abdômen tem essa
doença", calcula a anestesiologista Fabíola Peixoto Minson, do Hospital
Israelita Albert Einstein, em São Paulo.
Dor nas costas
A má postura e o esforço físico podem machucar a coluna lombar. "É uma
dor diária, causada pelo desgaste físico e pelo sedentarismo", diz o
geriatra Alexandre Leopold Busse, do Hospital Sírio-Libanês, em São
Paulo. Conviver com o tormento? Essa é a pior saída. A dor nas costas,
além de minar a qualidade de vida, pode escamotear o câncer no pâncreas
também. "No caso desse tumor, surge uma dor lenta e progressiva", ensina
a fisiatra Lin Tchia Yeng. Por precaução, aprenda que a dor nas costas
que não some em dois dias sempre é motivo de visitar o médico.
Dor no corpo
Se ele vive moído, atenção às suas emoções. A depressão,
por exemplo, não raro desencadeia um mal-estar que vai da cabeça aos
pés. "O que dá as caras no físico é o resultado da dor psicológica", diz
Alaide Degani de Cantone, coordenadora do Centro de Estudos e Pesquisas
em Psicologia e Saúde, em São Paulo.
"Quem tem dores constantes aparentemente sem causa e que vive triste,
pessimista, sem ver prazer nas coisas nem conseguir se concentrar
direito pode apostar em problemas de ordem emocional", opina o
psiquiatra Miguel Roberto Jorge, da Universidade Federal de São Paulo.
E, claro, essas dores que no fundo são da alma também precisam de
alívio.