segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Estagiária que aplicou café na veia declara que nunca havia dado injeção


 

 

A estagiária de enfermagem Rejane Moreira Telles, de 23 anos, que no último dia 14 aplicou café com leite na veia de Palmerina Pires Ribeiro, de 80 anos, morta horas após o procedimento, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, declarou ao Fantástico deste domingo (21) que nunca havia injetado qualquer tipo de medicação antes. Rejane, que segundo o delegado da 64ª DP, Alexandre Ziehe estava há apenas três dias no estágio, disse ter consciência do risco de injetar na veia o que seria aplicado em alimentação oral. "Mas, como tava junto, qualquer um se confunde", defendeu-se (veja a reportagem no vídeo acima).
O médico Armando Porto Carreiro, especialista em terapia nutricional do Hospital Antonio Pedro, da Universidade Federal Fluminense (UFF), discorda da afirmação de Rejane: "É bastante fácil de diferenciar um do outro".
Neste sábado (20), a estudante voltou a frequentar as aulas do curso técnico de enfermagem. Por telefone, o diretor da escola, que se identificou apenas como Sérgio, disse que ela é uma excelente aluna e que vai receber o diploma ao fim deste ano.
Em entrevista, a estagiária conta que, quando percebeu o erro, pensou em pedir ajuda. "Injetei o leite e botei pelo lugar errado. Me passou pela cabeça chamar a supervisora. Sendo que a outra menina que estava do meu lado, ela falou que sabia e que ia me ensinar. Ela pegou, falou pra mim e pra outra estagiária que estava do meu lado para ir fazendo os procedimentos. Mas não deu explicação nem de que e nem como. Continuou sentada no posto de enfermagem, brincando no celular", completou, antes de admitir que não tem preparo para o procedimento realizado. “Agora, no momento, não.”
Segundo os médicos, o café com leite foi direto para o coração e o pulmão, e Palmerina parou de receber oxigênio. "É como se o paciente estivesse sendo sufocado", explicou Armando Carneiro.
O delegado informou que acredita que as estagiárias receberam a ordem para fazer o procedimento. "Eu estou convencido que elas receberam uma ordem pra fazer. Mas, no curso, durante o curso e pelo supervisor da escola, também foi dito que elas não poderiam fazer sem a supervisão."
A polícia indiciou quatro pessoas por homicídio culposo, quando não há intenção de matar: as estagiárias Rejane e Luciana, e as técnicas de enfermagem Rayane e Adriele.
Palmerina morreu no Posto de Atendimento Médico (PAM) de São João de Meriti, na Baixada Fluminense. A filha da idosa, Loreni, percebeu que a estagiária estava aplicando o alimento pela sonda da medicação. "Eu vi minha mãe se debater. Buscar o fôlego, ela buscava o fôlego assim, no ar", disse. "A menina colocou café com leite na veia da minha mãe. Meio copo, meio copo."
Loreni é uma das 16 filhas de Palmerina, que era viúva havia 40 anos. Desde que a mãe morreu, os filhos se reúnem todos os dias na casa de Palmerina. "Minha mãe lavava roupa. Minha mãe costurava para fábrica, levava a gente pra escola e lutou por nós. Nenhum filho ficou sem estudar", lamenta, dizendo não estar revoltada com o caso. “Se os olhos delas fecharam dessa forma, com certeza foi pra que houvesse uma grande mudança aqui no nosso município.”
Outros casos
Os erros cometidos são comuns. No dia 10 deste mês, Ilda Maciel, de 88 anos, morreu em um hospital de Barra Mansa, no Sul do Estado do Rio, depois de ter recebido sopa na veia, injetada por uma técnica de enfermagem. “Foi um erro muito grande, né? Isso não podia ter acontecido de jeito nenhum. Se ela fez isso com a minha mãe, ela faz com mais pessoas, né?”, lamentou a filha, Rute Maciel.