"Vocês verão a volta triunfal do carlismo na Bahia. O carlismo é uma
legenda que não se apaga, queiram ou não os cronistas políticos", disse o
senador Antonio Carlos Magalhães em 2006, um ano antes de morrer, após
sofrer sua maior derrota: a perda de uma hegemonia de quase duas décadas
no governo do Estado.
A mais concreta chance de retomada se dá agora, seis anos depois, com o
herdeiro ACM Neto (DEM), que disputa com Nelson Pelegrino (PT) o segundo
turno em Salvador.
"Mas, se o neto ganhar, óbvio que vai se tornar uma liderança aqui", afirma.
Valter Pontes/Divulgação | ||
ACM Neto (DEM) com eleitores durante um ato da campanha em Bate Estaca, em Salvador |
Apesar disso --e do discurso do avô--, ACM Neto diz não representar nem
mesmo uma maneira "repaginada" ou mesmo "nova" do carlismo.
"Esses rótulos que a imprensa dá são todos inadequados. Todo mundo sabe
do orgulho enorme que tenho do senador Antonio Carlos. Agora, não há que
se falar em reedição do que quer que seja."
Aos 33, ele vem adotando apenas o nome "Neto" em parte de suas peças
publicitárias, trocou antigos aliados do DEM por rostos jovens do
partido e acena para alianças como a com o PV, de sua vice, e com o PMDB
do ex-ministro Geddel Vieira Lima, que "todos sabiam que tinha
diferenças públicas" com seu avô.
Rival na disputa, Pelegrino diz que a fuga do "carlismo" é pautada por pesquisas.
"Mas eu diria que ele corresponde ao que há de pior no grupo do avô, com
opressão, mentiras e cooptação de pessoas", afirma o petista.
Porém, ao mesmo tempo em que lembra que ex-carlistas como César Borges e
Otto Alencar hoje são aliados do PT, ACM Neto passou a citar cada vez
mais o avô "e seu amor incondicional pela Bahia".
No maior evento da campanha até aqui, um comício em setembro com o
senador Aécio Neves (PSDB-MG), se emocionou ao falar de ACM --a quem
recorre ao prometer ampliar o Bolsa Família na cidade.
"O PT solta boatos na periferia de que vou acabar com o programa, mas a
origem dele remete ao Fundo de Combate à Pobreza, de ACM", diz.
Para o professor Paulo Fábio Dantas, da Universidade Federal da Bahia,
ACM Neto tenta se equilibrar entre o ônus e o bônus dessa corrente.
"É ainda recente a memória social sobre o lado autocrático e oligárquico
dessa tradição. Por outro lado, também se mantém a imagem carismática e
de espécie de déspota eficaz do avô", afirma.
O cientista político Joviniano Neto diz ser impossível uma desvinculação. "Parte da força dele vem da marca ACM."
Pela última pesquisa Ibope ele tem 47% das intenções de votos ante 39% do petista.