No imaginário político brasileiro, essa dicotomia – o demolidor x
o conciliador – aparece intimamente relacionada a certas caraterísticas
particulares que marcariam os políticos das várias regiões brasileiras.
Carlos Lacerda, o "tribuno da capital", sempre teve como palco de
atuação a cidade do Rio de Janeiro – antigo Distrito Federal, depois
estado da Guanabara –, cujo campo político era marcado pela
nacionalização, a polarização e a radicalização do debate político. Daí
adviriam sua retórica inflamada e implacável, temida pelos rivais e
admirada pelos seguidores. Já JK representaria a essência do "político
mineiro", habilidoso, conciliador, articulador capaz de aparar arestas e
conviver com adversários que via como potenciais aliados. Não resta
dúvida de que a construção da mineiridade revelou-se eficaz ao projetar o mineiro como elemento indispensável no concerto político nacional.
A tensa conjuntura política da época seria um teste particularmente
difícil para o exercício das "qualidades do político mineiro" na
presidência da República. Seriam elas reforçadas ou abandonadas? Como
desconhecer o fato de que a eleição de JK havia sido contestada e sua
posse se teria devido sobretudo à decisiva atuação do ministro da
Guerra, general Lott?
Como enfrentar, logo no primeiro mês de governo – fevereiro de 1956 –,
um levante de oficiais da Aeronáutica no Norte do país? Como pôr em
prática um ambicioso projeto econômico – o Plano de Metas – sem uma
sólida base político-parlamentar e com a oposição feroz da "Banda de Música" da UDN, com Lacerda à frente?