segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Bule Bule e Rafael Neto em Paulo Afonso: um show de cultura popular

Antônio Galdino
Foto: Antônio Galdino Foto: Antônio Galdino Da esq: Rafael Neto e Bulu Bule, na pérgula da piscina do CPA
 
Dia 22 de setembro, os amantes das cantorias, da poesia sertaneja, foram ao Clube Paulo Afonso para prestigiar o mestre Bule Bule e o jovem Rafael Neto que lançava a 2ª edição do seu livro “Não sou poeta matuto, sou cientista das rimas”.
O público pequeno não comprometeu a qualidade do evento, para deleite dos que apreciam esta arte. O jovem poeta Rafael Neto, ao lado da mãe Eudes e do avô, Antônio Romão, o Poeta de Cristo, que o incentivou e apoia, era sorrisos e gratidão pela oportunidade do evento. O reencontro com Bule Bule nos remeteu ao baú de memórias...
O cantador Bule Bule já morou muitos anos em Paulo Afonso e participou de edições do Modernismo, evento cultural regional que teve como liderança o professor Luiz José e ativas participações de Júnior Padão, Sávio Mascarenhas, Gorette Moreira, Nadja Monteiro, Professora Arlete e outros sonhadores.
Foto: Antônio Galdino Foto: Antônio Galdino A mãe Eudes, orgulhosa do filho poeta Rafael, ao seu lado e do pai, Poeta de Cristo
O Modernismo durou 20 anos e foi o maior evento cultural da região, reunindo mais de uma dezena de municípios em Paulo Afonso, a cada ano. Pintores, músicos, escritores, cantores, atores, homens e mulheres, alguns deles destaques na região, deram os primeiros passos nesse evento cultural. E ali estava, levando a poesia sertaneja, o ritmo da viola, o repente que só os cantadores produzem, com excepcional maestria, na hora, o cantador Bule Bule, baiano de Antônio Cardoso, cidadão sertanejo.
Depois fez voos mais altos, cresceu levado pela arte, percorreu o Brasil afora levando o cordel na bagagem e na alma como fez na Bienal Internacional do Livro no Ceará e outros grandes eventos desse porte até ser reconhecido pelo seu talento e ocupar cadeira na Academia Brasileira de Literatura de Cordel – ABLC.
Foto: Antônio Galdino Foto: Antônio Galdino À direita, Sebastião da Suprave, saudando os poetas
Na vasta produção de Bule Bule, vários CDs e DVDs, livros e mais de 80 folhetos de cordel um deles, com 24 estrofes de 10 versos, defendia o Raso da Catarina, ameaçado de ser depósito de lixo atômico.
O lixo atômico chegando
Começa logo o arraso
A coivara do atraso
Fica logo incendiando
Os rios vão se acabando
Morre árvore grossa e fina
Ecologia termina
Pra quem pensa em preservar
Peço pra não acabar
O Raso da Catarina
Foto: Antônio Galdino Foto: Antônio Galdino Bule Bule e Bruno Vinícius
Mais de 20 anos depois Bule Bule volta a Paulo Afonso, com a saúde debilitada pelas sessões de hemodiálise que tem que fazer frequentemente mas com a “alma inundada da poesia” e ofereceu, ao lado do jovem Rafael Neto, do veterano Geraldo Alves e do iniciante na arte da cantoria, Bruno Vinícius, momentos de especial enlevo, prestigiado por um pequeno número de pessoas que estiveram na pérgula da piscina do Clube Paulo Afonso, recebidos ali pelo seu diretor sócio-cultural, Sávio Mascarenhas.
Ao ser elogiado e aplaudido por dividir a cantoria com um jovem iniciante, Bruno Vinícius, Bule Bule disse "Mas é essa a minha obrigação. Tenho feito isso por onde ando. Esses jovens precisam desse incentivo, de uma oportunidade. E esse menino tem talento".
Foto: Antônio Galdino Foto: Antônio Galdino Téo Guedes
Os que ali estiveram saíram com a alma mais leve e ainda puderam se deleitar com a voz e o violão de Teo Guedes, da equipe de Bule Bule, fazendo uma homenagem a Luiz Gonzaga.
O reencontro foi também uma oportunidade de “matar essa saudade,/ afogar essa danada, /nas águas do São Francisco”.
Poeta de Cristo, avô de Rafael Neto, não se conteve, pegou a viola do neto e fez repente com o mestre Bule Bule, com quem já havia cantado há 47 anos.
O professor Antônio Galdino, diretor do jornal Folha Sertaneja, também lembrou de Bule Bule e sua trajetória em Paulo Afonso há muitos anos. Sebastião Leandro de Morais, dos Supermercados Suprave, um grande incentivador da cultura em Paulo Afonso, quase sempre atuando nos bastidores, discreto, também falou da beleza dessa arte e de Rafael Neto a quem tem apoiado em vários momentos.
Foto: Antônio Galdino Foto: Antônio Galdino Bule Bule e Poeta de Cristo
O poeta Jotalunas, criador com Luiz Ruben, do projeto Mala do Poeta, ao apresentar os poetas, falou da sua emoção de ter a oportunidade de “aplaudir Bule Bule e todos os cantadores que mantém viva essa cultura popular nordestina, orgulho de todos nós”. E todos aplaudiram, com entusiasmo o Clube Paulo Afonso, na pessoa do seu diretor Sávio Mascarenhas, pelo apoio a esta iniciativa.
Outro cantador, já andado pelos caminhos sertanejos, Geraldo Alves, não se fez de rogado e também acompanhou o mestre Bule Bule nas “sextilhas”, “nos oito pés a quadrão”, num “martelo agalopado” ou “cantando galope na beira do mar”, assim como fez o poeta Rafael Neto, o jovem talento iniciante Bruno Vinícius ou o veterano quase septuagenário, Antônio Romão, Poeta de Cristo.
E a festa da cultura popular promete outros momentos... É como se fosse um retorno às origens. Vem aí mais uma edição da Mala do Poeta, no Restaurante Gato Risonho e o CPA abre, de novo, suas portas para os repentista, cantadores do sertão, Garaldo Alves e Ivanildo Vilanova. Será em novembr