Antônio Galdino
Foto: Antônio Galdino
Da esq: Rafael Neto e Bulu Bule, na pérgula da piscina do CPA
Dia 22 de setembro, os amantes das cantorias, da poesia sertaneja,
foram ao Clube Paulo Afonso para prestigiar o mestre Bule Bule e o jovem
Rafael Neto que lançava a 2ª edição do seu livro “Não sou poeta matuto, sou cientista das rimas”.
O público pequeno não comprometeu a qualidade do evento, para deleite
dos que apreciam esta arte. O jovem poeta Rafael Neto, ao lado da mãe
Eudes e do avô, Antônio Romão, o Poeta de Cristo, que o incentivou e
apoia, era sorrisos e gratidão pela oportunidade do evento. O reencontro
com Bule Bule nos remeteu ao baú de memórias...
O cantador Bule Bule já morou muitos anos em Paulo Afonso e participou
de edições do Modernismo, evento cultural regional que teve como
liderança o professor Luiz José e ativas participações de Júnior Padão,
Sávio Mascarenhas, Gorette Moreira, Nadja Monteiro, Professora Arlete e
outros sonhadores.
Foto: Antônio Galdino A mãe Eudes, orgulhosa do filho poeta Rafael, ao seu lado e do pai, Poeta de Cristo
O Modernismo durou 20 anos e foi o maior evento cultural da região,
reunindo mais de uma dezena de municípios em Paulo Afonso, a cada ano.
Pintores, músicos, escritores, cantores, atores, homens e mulheres,
alguns deles destaques na região, deram os primeiros passos nesse evento
cultural. E ali estava, levando a poesia sertaneja, o ritmo da viola, o
repente que só os cantadores produzem, com excepcional maestria, na
hora, o cantador Bule Bule, baiano de Antônio Cardoso, cidadão
sertanejo.
Depois fez voos mais altos, cresceu levado pela arte, percorreu o
Brasil afora levando o cordel na bagagem e na alma como fez na Bienal
Internacional do Livro no Ceará e outros grandes eventos desse porte até
ser reconhecido pelo seu talento e ocupar cadeira na Academia
Brasileira de Literatura de Cordel – ABLC.
Foto: Antônio Galdino À direita, Sebastião da Suprave, saudando os poetas
Na vasta produção de Bule Bule, vários CDs e DVDs, livros e mais de 80
folhetos de cordel um deles, com 24 estrofes de 10 versos, defendia o
Raso da Catarina, ameaçado de ser depósito de lixo atômico.
O lixo atômico chegando
Começa logo o arraso
A coivara do atraso
Fica logo incendiando
Os rios vão se acabando
Morre árvore grossa e fina
Ecologia termina
Pra quem pensa em preservar
Peço pra não acabar
O Raso da Catarina
Foto: Antônio Galdino Bule Bule e Bruno Vinícius
Mais de 20 anos depois Bule Bule volta a Paulo Afonso, com a saúde
debilitada pelas sessões de hemodiálise que tem que fazer frequentemente
mas com a “alma inundada da poesia” e ofereceu, ao lado do jovem Rafael
Neto, do veterano Geraldo Alves e do iniciante na arte da cantoria,
Bruno Vinícius, momentos de especial enlevo, prestigiado por um pequeno
número de pessoas que estiveram na pérgula da piscina do Clube Paulo
Afonso, recebidos ali pelo seu diretor sócio-cultural, Sávio
Mascarenhas.
Ao ser elogiado e aplaudido por dividir a cantoria com um jovem
iniciante, Bruno Vinícius, Bule Bule disse "Mas é essa a minha
obrigação. Tenho feito isso por onde ando. Esses jovens precisam desse
incentivo, de uma oportunidade. E esse menino tem talento".
Foto: Antônio Galdino Téo Guedes
Os que ali estiveram saíram com a alma mais leve e ainda puderam se
deleitar com a voz e o violão de Teo Guedes, da equipe de Bule Bule,
fazendo uma homenagem a Luiz Gonzaga.
O reencontro foi também uma oportunidade de “matar essa saudade,/ afogar essa danada, /nas águas do São Francisco”.
Poeta de Cristo, avô de Rafael Neto, não se conteve, pegou a viola do
neto e fez repente com o mestre Bule Bule, com quem já havia cantado há
47 anos.
O professor Antônio Galdino, diretor do jornal Folha Sertaneja, também
lembrou de Bule Bule e sua trajetória em Paulo Afonso há muitos anos.
Sebastião Leandro de Morais, dos Supermercados Suprave, um grande
incentivador da cultura em Paulo Afonso, quase sempre atuando nos
bastidores, discreto, também falou da beleza dessa arte e de Rafael Neto
a quem tem apoiado em vários momentos.
Foto: Antônio Galdino Bule Bule e Poeta de Cristo
O poeta Jotalunas, criador com Luiz Ruben, do projeto Mala do Poeta,
ao apresentar os poetas, falou da sua emoção de ter a oportunidade de
“aplaudir Bule Bule e todos os cantadores que mantém viva essa cultura
popular nordestina, orgulho de todos nós”. E todos aplaudiram, com
entusiasmo o Clube Paulo Afonso, na pessoa do seu diretor Sávio
Mascarenhas, pelo apoio a esta iniciativa.
Outro cantador, já andado pelos caminhos sertanejos, Geraldo Alves,
não se fez de rogado e também acompanhou o mestre Bule Bule nas
“sextilhas”, “nos oito pés a quadrão”, num “martelo agalopado” ou
“cantando galope na beira do mar”, assim como fez o poeta Rafael Neto, o
jovem talento iniciante Bruno Vinícius ou o veterano quase
septuagenário, Antônio Romão, Poeta de Cristo.
E a festa da cultura popular promete outros momentos... É como se
fosse um retorno às origens. Vem aí mais uma edição da Mala do Poeta, no
Restaurante Gato Risonho e o CPA abre, de novo, suas portas para os
repentista, cantadores do sertão, Garaldo Alves e Ivanildo Vilanova.
Será em novembr