terça-feira, 25 de setembro de 2012

Baixa renda deixa 277 mil fora da escola


 

 



  • Crianças que deveriam estar na escola, trabalham nas sinaleiras de Salvador
Todas as manhãs, Geraldo*,  11 anos, morador da Rua da Polêmica, em Brotas, acorda às 7h e segue até a sinaleira da Avenida Antônio Carlos Magalhães, na Pituba. Lá, passa o dia limpando  vidros de carros em troca de moedas. Em 2011, ao invés de rodo e sabão, Davi manuseava livros e cadernos para cursar a 5ª série do ensino fundamental. A troca o faz agora integrar o grupo de 277 mil pessoas com idades de 4 a 17 anos que estão fora da escola na Bahia.
O dado é do relatório intitulado De Olho nas Metas 2011, do programa Todos pela Educação. O programa é desenvolvido por  gestores públicos, educadores, comunicadores e outros segmentos sociais que buscam fazer o Brasil, até 2022, assegurar a todas as crianças e jovens o direito à  educação básica de qualidade.
Segundo a pesquisa, a Bahia fica atrás apenas de São Paulo, com 607 mil potenciais estudantes fora da escola, e Minas Gerais, com 363.981. No Brasil, o total de crianças que estão fora da escola chega a cerca de 3,8 milhões.
Obstáculos - Relatório elaborado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), denominado Todas as crianças na escola em 2015 - Iniciativa global pelas crianças fora da escola, aponta que a desigualdade social é a principal consequência para o abandono escolar.  O destino destas crianças e jovens é trabalhar para ajudar a família.
"Os alunos oriundos de família com baixa renda ou que precisam trabalhar para ajudar no sustento são fortes candidatos a abandonar os estudos antes mesmo de chegar ao ensino médio", diz a coordenadora do programa Aprender, do Unicef no Brasil, Maria de Salete Silva.
De acordo com Maria de Salete, falta estrutura até fisiológica para combinar estudo e trabalho. "Uma criança que trabalha e estuda dificilmente vai renovar a matrícula no ano seguinte, por conta do cansaço. O jovem precisa de dedicação e bem-estar físico para continuar estudando".
Distorção - Dados do Unicef indicam que a situação financeira dos pais também é responsável pelo fracasso escolar, que, por sua vez, eleva os índices de distorção idade-série. O estudo aponta que o percentual de crianças das famílias com renda familiar per capita de até ¼ do salário mínimo, com idade superior à recomendada, chega a 62,02%. Já nas famílias com renda familiar per capita superior a dois salários mínimos a taxa é de 11,52%.
Foi por conta de problemas financeiros que o casal Graziela Oliveira, 23 anos, e Rogério Oliveira, 24 anos, tiveram que tirar a filha Maria Eduarda, 4, da escola em 2011. No início deste ano, matricularam a filha em uma escola particular em São Cristóvão. Mas, novamente, tiveram que cancelar a matrícula da menina, pois ficaram desempregados e não conseguiram pagar  nem mesmo a primeira mensalidade.  
A solução encontrada pelo casal foi tentar uma vaga na escola da rede municipal do bairro, mas o ano letivo já havia começado e não foi mais possível efetuar a matrícula.
Para que Maria Eduarda não sinta os efeitos da distorção idade-série quando retornar à escola, Graziela tenta promover atividades educativas dentro da própria casa. "Todos os dias eu separo um horário para ensinar a ela as letras e os números. Não quero que minha filha fique para trás quando voltar a estudar", afirmou.
Na opinião de Maria de Salete Silva, do Unicef, um aluno que abandonou a escola, ao retornar, vai se deparar com diversos problemas. "Muitos não terão o mesmo ritmo de aprendizagem que os colegas. Outros não vão se adequar ao ensino. Por causa disso, acabam abandonando os estudos de vez".