Quando a luz tem
outra tonalidade, quando o corpo que temos fala connosco através dos
sons das articulações, quando o sangue começa a deixar de arder, damos
conta que viemos, mas por aqui não ficamos. Não será aqui o nosso
Carnaval.
De súbito
apercebemo-nos que as coisas complicadas da nossa vida, são afinal as
mais simples. De súbito vemos que as oportunidades perdidas nos conduzem
invariavelmente para a solidão. E aí, a solidão deixa de ser um nome
apenas. Toca-nos, tocamo-la, empurra-nos e agride-nos.
Dói. Dói tanto! E gritamos de dor, e vemos que para alem do corpo, temos alma.
Podemos continuar a
gritar, mas não, temos que acordar e temos de retomar a viagem, partir
para a aventura da insegurança, da descoberta, do medo.
Mas temos que andar depressa, o tempo é tão curto e nós merecemos tanto.
De repente, perdemos o medo de perguntar o caminho, reconhecemos que temos que voltar a aprender, reconhecemos que merecemos….
Do que fica para
trás, pouco se aproveita, o que nos deram nem sempre foi a nós, o que
nos deram nem sempre foi para nós, o que nos disseram, nem sempre foi
para nós.
Muitas coisas não foram ditas, palavras de amor, poemas, muitas coisas não foram feitas, gestos, carinhos.
E muito do que fizemos, assombra-nos a alma, e tentamos esquecer. Não as queremos, mas estão cá dentro. São obra nossa.
Agora o tempo que
nos resta deve ser aproveitado, deve ser de combate, deve ser de
coragem, povoado de riso, busca, luta. E a dor vai saber tão bem, é a
nossa, a da luta. Agora o tempo é de procurar deveres dos bons. De
complicar a vida. De dar até que comece a doer-nos.
E, depois,
continuar até que doa mais. Até que doa tudo. Não queremos perder nem
mais uma gota de alegria, nem mais um fio de sol na alma, nem mais um
instante do tempo que nos resta.
Agora é tempo de seres a minha Terra, Sol, Lua
Agora é tempo de seres o meu Universo.