LUND,
Suécia — Os líderes das igrejas Católica e Luterana assinaram nesta
segunda-feira uma declaração conjunta durante um ato ecumênico que dá início às
comemorações dos 500 anos da cisma que dividiu o cristianismo no Ocidente. O
documento, considerado histórico, destaca que o que une as duas religiões é
maior do que o que as divide. O Papa Francisco aproveitou a oportunidade para
reconhecer aspectos positivos da Reforma liderada por Martinho Lutero, num
gesto de reconciliação.
“Por meio
do diálogo e do testemunho compartilhado nós não somos mais estranhos
distantes. Pelo contrário, nós aprendemos que o que nos une é maior do que o
que nos divide”, diz a declaração. “Enquanto estamos profundamente agradecidos
pelos dons espirituais e teológicos que recebemos pela Reforma, nós também
confessamos e lamentamos perante Cristo que Luteranos e Católicos feriram a
unidade visível da Igreja. As diferenças teológicas foram acompanhadas por
preconceitos e conflitos, e a religião foi instrumentalizada para fins
políticos”.
Esta é a
primeira viagem de um Papa para a Suécia em quase três décadas. Francisco
participou de uma missa conjunta na Catedral Luterana de Lund, que foi
confiscada dos católicos no século XVI. Em 31 de outubro de 1517, o monge
católico alemão Martinho Lutero pregou suas “95 teses” na porta de uma igreja
em Wittenberg, no sul de Berlim, com críticas à Igreja Católica pela corrupção
de Roma, incluindo a venda de privilégios eclesiais e indulgências, nepotismo e
usura.
Lutero e
seus seguidores foram excomungados, o que provocou a cisma no cristianismo no
Ocidente. A disputa entre católicos e protestantes gerou batalhas em diversos
países europeus, incluindo a Guerra dos 30 Anos, que provocou cerca de 8
milhões de mortes.
— Devemos
olhar nosso passado com amor e honestidade e reconhecer nossa culpa e pedir
perdão — disse o Papa, em homilia.
Durante a
cerimônia, o cardeal católico suíço Kurt Koch recordou “os fracassos” dos
católicos e luteranos que “provocaram a morte de centenas de milhares de
pessoas”.
—
Lamentamos o dano causado mutuamente por católicos e luteranos — acrescentou.
A Igreja
Católica também homenageou a contribuição de Lutero:
— Com
gratidão, reconhecemos que a Reforma contribuiu para dar um papel central à
santa escritura na vida da Igreja — declarou Francisco. — Não podemos nos
resignar à divisão e ao afastamento que a separação provocou entre nós. Temos a
ocasião de reparar um momento crucial de nossa história, superando as polêmicas
e mal entendidos que impediram o entendimento entre nós.
DIÁLOGO
DIFÍCIL
Em um
longo sermão, o pastor Martin Junge, secretário-geral da Federação Luterana
Mundial, que organiza o evento, também considerou que este "momento
histórico" é uma oportunidade para que católicos e luteranos "se
distanciem de um passado marcado pelo conflito e a divisão".
— Nós nos
damos conta de que aquilo que nos une supera com folga o que nos divide. Somos
brotos da mesma videira — reforçou, lamentando a fragmentação dos cristãos.
Ainda
assim, mesmo com a declaração conjunta assinada pelo papa e pelo presidente da
Federação Luterana Mundial, o bispo palestino Munib Yunan, persistem desacordos
doutrinários: a simbologia muito diferente em torno da eucaristia.
Mais tarde, foi celebrado um encontro ecumênico
em um estádio de Malmö, cuja renda será destinada a refugiados sírios