Alunos sem aulas, negociações frustradas,
insatisfação para todos os lados e um prejuízo que ganha contornos
irremediáveis a cada novo capítulo de uma novela que parece estar longe
de um final. Nesta quinta-feira, a greve dos professores da rede
estadual de ensino completa 100 dias de duração.
Segundo a vice-coordenadora do Sindicato dos Trabalhadores em Educação
(APLB), Marilene Betros, é a paralisação mais longa já realizada pela
categoria na história da Bahia. “Não era nosso desejo que a greve
durasse tanto. Mas as circunstâncias nos obrigaram a continuar de braços
cruzados”, disse a sindicalista.
Na manhã de ontem, a classe se reuniu no saguão da Assembleia
Legislativa da Bahia (AL-BA), elaborou uma contraproposta e a encaminhou
ao Ministério Público Estadual (MP-BA). Entre as reivindicações, está a
readmissão de professores do Regime Especial de Direito Administrativo
(Reda), demitidos no último mês de junho; e a divisão do reajuste de
salarial em parcelas pagas ainda no ano de 2012. “Também solicitamos o
pagamento imediato dos vencimentos suspensos e a retirada dos processos
contra a APLB”, afirmou Betros.
Contudo, de acordo com a vice-coordenadora da APLB, o órgão
estadual anunciou na última terça-feira que não participará mais das
negociações entre os professores e o governo do Estado.
Em nota conjunta com o Tribunal de Justiça, o MP-BA informou que
“persistindo o impasse, em razão da não obtenção de um acordo em tempo
hábil e visto a aproximação de uma situação de dano irreversível ao
calendário escolar, não resta outra alternativa às referidas
instituições mediadoras senão considerar, nas atuais circunstâncias,
concluídas as negociações”. Uma nova assembleia dos professores foi
marcada para a próxima sexta-feira (20).
Medo – A assembleia dos professores realizada na manhã de ontem foi
marcada por momentos de tensão. Enquanto discursava para os cerca de
400 grevistas acampados no saguão da ALBA, o cordenador-geral da APLB,
Rui Oliveira, afirmou que precisaria abandonar a reunião por ter
recebido informações de que o Batalhão de Choque da Polícia Militar
estaria a caminho da Casa para expulsar os grevistas do local.
“Fui informado agora de que há também ordens de prisão, por isso,
vou ter que me retirar”, disse Rui Oliveira durante a assembleia.
O comandante-geral da Polícia Militar, coronel Alfredo Castro,
negou a possibilidade de retirar os professores a força do saguão da
Assembleia Legislativa. A assessoria da PM também informou que não há
nenhuma determinação de cumprimento a mandados de prisão contra os
sindicalistas.
Ao final da assembleia, a Associação de Pais e Mães de Alunos de
Escolas Públicas distribuiu pedaços de bolo para os professores. Segundo
o presidente da entidade, Antonio Daltro Moura, a ação foi realizada
como marco aos 100 dias de greve. “Foi o bolo simbólico dos 100 dias, um
tempo que nossos alunos perderam”, pontuou.
Os professores estão acampados na AL-BA desde os primeiros dias da
greve. Na noite da última segunda-feira, os aparelhos de
ar-condicionado, a água e a luz foram cortados para tentar forçar os
grevistas a abandonar o local. O acesso aos banheiros nos períodos fora
do expediente da Casa também estão suspensos. Os professores, no
entanto, permanecem no saguão, dormindo em barracas de camping.
Escolas estão funcionando
De acordo com a Secretaria da Educação do Estado da Bahia (SEC),
das 1.411 escolas que integram a rede estadual, 1.126 já estão
funcionando normalmente.
Ainda segundo a SEC, o movimento de retorno dos professores, que era
visto apenas nos municípios do interior, também teve início em Salvador e
Região Metropolitana nos últimos dias.
Em nota, a SEC garante que as escolas que ainda permanecem
paralisadas cumprirão o ano letivo. A orientação é que utilize os
sábados deste ano e o mês de janeiro de 2013, e se necessário o mês de
fevereiro para fazer a reposição de aulas.