Apesar do cargo máximo da República ser ocupado por uma mulher, a
participação feminina brasileira nas esferas do poder ainda é baixa. Em
um ranking que avalia a penetração política por gêneros em 146 países,
preparado pela União Interparlamentar, o Brasil ocupa o modesto 110º lugar, atrás de nações como Togo, Eslovênia e Serra Leoa.
Embora representem 51,7% dos eleitores brasileiros, a participação
das mulheres na Câmara dos Deputados é de 9%, número semelhante aos 10%
registrados no Senado. São Paulo, a maior cidade do País, possui os
mesmos 9% de vereadoras na Câmara Municipal. No Poder Executivo, a
situação não é diferente: das 26 capitais, somente duas têm mulheres
como prefeitas.
A tímida representação feminina no Poder Legislativo se mantém inalterada mesmo depois da aprovação da Lei Eleitoral 9.100,
promulgada em 1995, segundo a qual 20% dos postos deveriam ser ocupados
pelas mulheres. Em 1997 é alterada para o mínimo de 30%.
Em 2010, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) promoveu uma reforma na
lei, tornando obrigatória 30% a proporção mínima de participação das
mulheres, mas os partidos políticos alegam dificuldades em atrair as
mulheres para seus quadros. Nas últimas eleições legislativas, a média
de candidatas à Câmara dos Deputados foi de 19%; para as assembleias
legislativas, 21%.
Para o professor da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE,
José Eustáquio Diniz Alves, o fenômeno não decorre da carência de
mulheres aptas a concorrer, mas antes do modo como os partidos são
organizados: “Eles são controlados por homens, que dão pouco espaço para
as mulheres estruturarem suas campanhas”, diz.
A composição partidária brasileira reflete o patriarcalismo da
sociedade, na opinião de Marlise Matos, coordenadora do Núcleo de
Estudos e
Pesquisas sobre a Mulher da UFMG (Universidade Federal de Minas
Gerais). “Todo o processo político acaba sendo muito desestimulante para
a mulher”, avalia Marlise.
Sem o devido apoio, a proporção de candidatas efetivamente eleitas é
baixa. Em 2010, a relação de candidatas à Câmara Federal e às
Assembleias Legislativas e aquelas efetivamente eleitas foi de 4,9% - em
1994, a taxa atingiu 17%.
Criada em 2003, a Secretaria de Políticas para as Mulheres reuniu os esforços para ampliar a participação feminina nos cargos públicos no Fórum Nacional de Instâncias de Mulheres de Partidos Políticos,
instrumento multipartidário cujo objetivo é fortalecer a inserção da
mulher no poder, por meio de cursos, seminários e campanhas
institucionais.Para a ex-presidente do Chile e atual diretora-executiva da ONU Mulheres, Michelle Bachelet, a situação no Brasil exige a criação de políticas transversais no mais alto nível da gestão pública. “Instituições fortes, que promovam o empoderamento das mulheres, são indispensáveis para garantir avanços e impedir retrocessos”, avalia.
Pioneiras
A luta das mulheres pelo espaço na política é antiga. Ainda no
período do Império, em 1880, a dentista Isabel de Mattos Dillon evocou
na Justiça a Lei Saraiva (que permitia aos detentores de títulos
científicos votar) para requerer seu alistamento eleitoral.
Nos anos seguintes, surgiram várias iniciativas isoladas para
permitir o voto feminino. Em 1894, Santos, no litoral paulista, promulga
o direito das mulheres ao voto. A medida foi derrubada no ano seguinte.
Em 1905, três mulheres conseguiram se alistar e votar em Minas Gerais.
Em 1928, o Brasil elege sua primeira prefeita: Alzira Soriano de
Souza, na cidade Lages, no Rio Grande do Norte. O voto feminino só se
tornou um direito nacional em 1932.
Aos poucos, as mulheres foram conquistando cargos que, até então,
eram exclusividade masculina. Em 1933, a média paulista Carlota de
Queirós é eleita a primeira deputada federal do País. “Cabe-me a honra,
com a minha simples presença aqui, de deixar escrito um capítulo novo
para a história do Brasil: o da colaboração feminina para a história do
País”, disse em seu primeiro pronunciamento na Câmara em 13 de março de
1934.
A Casa ao lado, o Senado, só elegeu suas primeiras parlamentares em
1990. Júnia Marise (Minas Gerais) e Marluce Pinto (Roraima) foram as
primeiras senadoras eleitas do Brasil. Em 1994, Roseana Sarney é a
primeira mulher escolhida pelo voto popular para chefiar um estado, o
Maranhão.
Em 2011, as brasileiras obtiveram grandes conquistas. A primeira
mulher presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, tomou posse. E no
Parlamento, foram eleitas as primeiras vice-presidentas da Câmara dos
Deputado (Rose de Freitas, do Espírito Santo) e do Senado (Marta
Suplicy, de São Paulo).