O indígena Aldeli Ribeiro teve as mãos decepadas com golpes de facão em
um confronto ocorrido no domingo (30) no município de Viana, no
Maranhão. De acordo com a CPT (Comissão Pastoral da Terra), ele também
levou dois tiros --um na costela e outro na coluna-- e teve os joelhos
cortados. Ribeiro pertence à etnia gamela e está internado em estado
grave no hospital Djalma Marques, em São Luís, capital do Estado, junto
com outros dois índios.
O governo do Maranhão trata o caso como
confronto entre os indígenas e fazendeiros e os seguranças destes. A CPT
e o Cimi (Conselho Indigenista Missionário) falam que os índios foram
atacados. A Secretaria de Estado de Segurança Pública abriu inquérito
para investigar as circunstâncias.
A CPT afirmou que ao menos
dez indígenas ficaram feridos. O governo diz que foram cinco índios
feridos e duas pessoas do grupo dos fazendeiros.
"Foi na sorte que escapei", diz índio
Inaldo Gamela, outro indígena ferido, foi baleado de raspão na cabeça. Ele afirmou ao UOL
que um grupo de 150 índios, incluindo mulheres e adolescentes, ocupou
pacificamente uma fazenda para retomar a propriedade, que teria sido
grilada décadas atrás. Ainda de acordo com ele, um grupo maior de
fazendeiros e seguranças chegou armado ao local.
Rejane Galeno/Jornal Vias de Fato
Inaldo Gamela após a alta hospitalar
Cercados, os indígenas teriam decidido recuar e abandonar a fazenda.
Ainda com base na versão de Gamela, os fazendeiros, mesmo com o recuo do
grupo, começaram a atirar e atacar com facões e pedaços de pau.
Inaldo disse que não percebeu quando levou o tiro e que, em determinado
momento do confronto, sentiu tontura e caiu. "Fiquei zonzo e aí vi que
estava sangrando. Tive a sensação de que não ia resistir. Foi na sorte
que escapei", relatou. Um amigo o ajudou a sair do local. A bala não
ficou alojada em sua cabeça, e ele teve alta hospitalar na manhã de
hoje.
Segundo Inaldo, outros indígenas tiveram de fugir pela
mata. Alguns dos índios feridos foram atendidos em municípios próximos a
Viana. "O que aconteceu foi um massacre, com características de
linchamento."
Governo diz que polícia evitou confronto maior
Inaldo declarou que a polícia maranhense foi avisada do ataque dos
fazendeiros e nada fez. O governo do Maranhão informou que a Polícia
Militar foi acionada para impedir a continuidade do confronto. "Após
chegarem ao local, os policiais prestaram socorro às vítimas
encaminhando-as para hospitais da região", afirmou a administração
estadual em nota.
O governo não confirmou a informação de que um
índio teve as mãos decepadas. Segundo a assessoria de imprensa
estadual, ele teve fratura exposta, mas já foi operado.
"Equipes
da Polícia Civil foram encaminhadas ao local do confronto. Elas se
integraram aos policiais militares que já atuavam na área para conter
novos confrontos", prossegue o texto do governo. A PM permanece no local
com reforço do efetivo.
O
Ministério da Justiça informou que vai averiguar "o ocorrido envolvendo pequenos agricultores e supostos indígenas". Minutos depois, o texto publicado no site do ministério foi editado e a palavra "supostos" foi retirada.
De acordo com com o Cimi, este foi o terceiro ataque aos gamelas em
três anos. Inaldo afirmou que cerca de 2.000 pessoas distribuídas em
povoados compõem a etnia gamela. O povo tem tentado retomar áreas que
diz ter perdido para grileiros.