O chamado núcleo duro do poder, aquele
que auxilia e influencia diretamente o presidente Michel Temer, está
praticamente desfeito. Atuais e ex-ministros do círculo de confiança do
Planalto enfrentam inquéritos e citações em delações. Veja as
principais:
Romero Jucá, ex-ministro do Planejamento e atual líder do governo no Senado
Nomeado para o cargo de líder do governo
no Senado no último fim de semana, Jucá é alvo de oito investigações no
Supremo Tribunal Federal (STF). Em maio do ano passado, chegou a ocupar o
posto de ministro do Planejamento por dez dias antes de pedir demissão.
Sua situação havia ficado insustentável após o vazamento da gravação do
infame diálogo com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado.
Na conversa, Jucá sugeria um pacto para
frear a Lava Jato e “estancar essa sangria”. Apesar de não ocupar mais
nenhum ministério, Jucá continua próximo de Temer e é um dos
responsáveis por ajudar o pacote de reformas do governo no Senado.
Suspeitas: Sua coleção de investigações no STF inclui o inquérito 3989,
em que o senador é investigado pelos crimes de lavagem de dinheiro,
formação de quadrilha e corrupção passiva relacionados aos desvios na
Petrobras ao lado de outras figuras do PMDB.
Três inquéritos apuram suspeita de
responsabilidade e contra a ordem tributária, apropriação indébita
previdenciária e falsidade ideológica, além de crimes eleitorais. O
restante dos inquéritos apura suspeita de corrupção passiva e ativa,
ocultação de bens e formação de quadrilha e obstrução da Justiça.
Alguns do inquéritos andam lentamente. Um
deles, que investiga um esquema de desvios de verbas federais para
municípios de Roraima, tramita no STF desde 2004. Só no ano passado o
tribunal autorizou a quebra de sigilo bancário do senador.
Em sua delação, o ex-diretor de Relações
Institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho disse que Jucá recebeu 22
milhões da empreiteira em troca de apoio para medidas provisórias e
projetos de interesse da empresa. Na planilha de pagamentos/doações da
empresa, o senador era chamado de “Caju”.
Moreira Franco, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência
Amigo de Temer há mais de 20 anos,
Moreira Franco ocupou até o início de fevereiro o cargo de secretário do
Programa de Parcerias de Investimentos. Acabou sendo promovido ao cargo
de ministro após o seu nome ter sido citado em uma das delações da
Odebrecht. Menos atingido por denúncias do que outros membros do núcleo,
teve sua influência ampliada nas últimas semanas.
Suspeitas: O executivo da Odebrecht
Claudio Melo Filho citou Moreira Franco 34 vezes em sua delação. Nas
planilhas da empresa, o ministro apareceu com o apelido “Angorá”. Mello
disse que tratou com Moreira – que ocupou o cargo de ministro da Aviação
Civil no governo Dilma Rousseff – os planos da empreiteira na área de
concessão de aeroportos. Melo relatou que Moreira teria solicitado ainda
recursos da empreiteira para o PMDB.
Moreira também foi citado em conversas de
WhatsApp entre o ex-deputado da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e o
empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS. “Eles tão chateados porque Moreira
conseguiu de você para Michel 5 paus e você já depositou inteiro e eles
que brigaram com Moreira, você adia. É isso”, disse Cunha em um dos
textos.
Moreira é alvo ainda de uma investigação
do MPF do Rio de Janeiro que apura o prejuízo causado por um erro no
sistema de informática da Caixa que pode ter resultado em um prejuízo de
1 bilhão de reais ao banco público entre 2008 e 2009. O erro permitiu
que a Caixa assegurasse títulos “podres” de difícil recebimento no
mercado. À época, Moreira Franco era vice-presidente de Loterias e
Fundos do governo.
José Yunes, ex-assessor especial do gabinete da Presidência
Suspeitas: Amigo de Temer há cinco décadas, Yunes deixou o cargo em dezembro após ser citado em uma delação da Lava Jato.
O executivo da Odebrecht Cláudio Melo
Filho disse em delação que Yunes recebeu parte dos 10 milhões de reais
supostamente solicitados pelo próprio Temer, em maio de 2014, em um
jantar no Palácio do Jaburu. A propina seria destinada para a campanha
eleitoral do PMDB daquele ano.
Eliseu Padilha, ministro-chefe da Casa Civil, está licenciado
É considerado o braço-direito do
presidente. Suspeitas: Oficialmente, Padilha ainda não é investigado na
Lava Jato, mas seu nome foi citado várias vezes. O executivo da
Odebrecht Cláudio Melo Filho, por exemplo, disse que em maio de 2014 o
então vice-presidente Temer pediu 10 milhões de reais a Marcelo
Odebrecht para serem usados em campanhas eleitorais do PMDB.
Segundo o delator, o dinheiro não foi
registrado oficialmente. Desse total, 4 milhões de reais deveriam ser
entregues a Eliseu Padilha. Ainda segundo Melo, a parte de Padilha foi
enviada para o escritório do ex-assessor da Presidência José Yunes. O
ministro licenciado foi citado 45 vezes na delação de Melo. Na planilha
do Odebrecht, o apelido de Padilha era “Primo” – o documento aponta
ainda mais um pagamento de R$ 1 milhão a Padilha.
Otávio Marques de Azevedo, ex-presidente
da Andrade Gutierrez, também disse em depoimento que a sua empreiteira
acertou com Padilha o repasse de 1 milhão de reais para Temer na
campanha de 2014. Além das suspeitas na Lava Jato, Padilha é alvo de
investigações por suspeita de grilagem de terras e crime ambiental no
Rio Grande do Sul e de mais uma acusação por crime ambiental em Mato
Grosso.
Geddel Vieira Lima, ex-ministro da Secretaria de Governo
Geddel balançou no cargo por vários dias
antes de deixar o governo em novembro passado. Ele era responsável pela
articulação política entre o Planalto e o Congresso. Suspeitas: Um dos
alvos da Lava Jato, Geddel deixou o cargo de ministro após ser implicado
em um caso não relacionado de tráfico de influência.
O peemedebista foi acusado de pressionar
seu colega Marcelo Calero, que chefiava a pasta da Cultura, para que
usasse sua influência na liberação da construção de um edifício de luxo
em uma área histórica de Salvador. Mesmo com a revelação do escândalo,
Geddel se manteve firme no cargo por uma semana graças ao apoio
irrestrito de Temer. Só decidiu pedir demissão quando o escândalo
envolveu o próprio Temer.
Antes disso, o ex-ministro apareceu em
mensagens do celular do empresário Léo Pinheiro, da OAS, pedindo
dinheiro para campanhas. Investigadores suspeitam que Geddel junto com
Eduardo Cunha pode ter usado sua influência para atuar em favor da OAS
dentro da Caixa (Geddel ocupou uma vice-presidência do banco) e em
outros órgãos.
O executivo da Odebrecht Cláudio Mello
afirma que Geddel recebeu mais de 5 milhões da empreiteira nas campanhas
de 2006, 2008, 2010 e 2014. Em troca, ele ajudou a liberar recursos
federais para grandes obras e apresentou uma emenda que atendia
interesses da empreiteira. Nas planilhas da empresa, Geddel era
identificado pelo codinome “Babel”.
Informações de Uol