O neurologista e especialista em Medicina da Dor, Adriano Scaff, fala sobre os principais problemas referentes às dores da coluna, a segunda queixa mais frequente da população brasileira. Veja abaixo as dicas do especialista sobre o assunto:
Por que dores na coluna têm sido tão frequentes nos dias de hoje? Existe uma estatística?
Adriano Scaff: A dor na coluna é a segunda dor mais frequente do ser humano. Recentemente, o sedentarismo, associado com o stress, as posturas inadequadas e viciosas no trabalho e durante o uso de smartphones aumentaram a incidência destas dores.
Quais os tipos de doenças mais comuns na coluna vertebral? Em que faixa etária é mais comum esses problemas?
Adriano Scaff: As doenças mais frequentes na região da coluna são as doenças miofascais (musculares) seguidas pelas doenças dos discos invertebrais (hérnias, protrusões, degenerações), bem como as dores das articulações (facetas). Na coluna cervical temos uma incidência maior das doenças articulares em detrimento da lombar, onde as dores são mais de origem discogênica (do disco).
É possível fazer a prevenção para evitar problemas na coluna?
Adriano Scaff: Sim, o exercício físico, o controle do stress e dos hábitos alimentares são medidas gerais para prevenção. Porém medidas mais específicas como a ergonomia do trabalho, exercícios específicos para o fortalecimento da musculatura eretora da espinha (músculos profundos da coluna), controle da obesidade e do exagero de alimentos inflamatórios (que estimulam os mecanismos da dor) são ideais para quem sofre deste problema. Vale à pena ressaltar que o stress, a depressão e a ansiedade, são fatores que geram alterações (aumento) na percepção de dor pelo cérebro, podendo muitas vezes ser o principal mecanismo causador da dor em uma pessoa, onde seu tratamento é fundamental para o controle da doença.
Os tratamentos são diferenciados?
Adriano Scaff: Quando falamos de dor na coluna, a literatura mundial demonstra que o tratamento multidisciplinar (médico, fisioterapeuta, nutricionista, psicólogo, dentre outros) é o método mais eficaz para tratar a maioria dos casos. Devemos olhar o paciente como um todo, o que não acontece em muitas ocasiões. Em muitos casos o profissional se baseia apenas nos exames de imagem (ressonância, tomografia, RX) para tomar uma decisão, quando o diagnóstico em sua maioria é feito clinicamente, com a história e o exame físico. Estes exames deveriam ser complementares ao diagnóstico clínico. A dor deveria ser tratada na maioria das vezes com medicamentos, repouso (na fase aguda) e fisioterapia específica. Quando não existe a melhora satisfatória, os bloqueios, a radiofrequência e as cirurgias minimamente invasivas, como por exemplo, a cirurgia endoscópica, podem ser úteis, sendo avaliados caso a caso. Associada a estas terapias, a avaliação da psicologia e da nutrição, quando detectado algum distúrbio emocional e alimentar complementam o tratamento.
Quais os hábitos dos dias modernos que mais comprometem a coluna
Adriano Scaff: A falta de tempo para exercitar-se é o principal fator. O exercício físico além de movimentar e fortalecer a musculatura, melhora o sono e alivia o stress. O exercício libera endorfina, uma substância poderosa no alívio da dor. O trabalho com posturas erradas e viciosas, como por exemplo, a pessoa que passa muito tempo sentada seja no computador ou dirigindo, por exemplo, sobrecarregam a coluna e em alguns casos geram dor. Os smartphones hoje tem um papel importante a medida que a coluna cervical é sobrecarregada pela postura da cabeça em relação ao pescoço (fletido).
A hérnia de disco pode manifestar tanto na coluna lombar como na cervical? A hérnia de disco pode ser assintomática ou provocar dor de moderada e leve intensidade até dor muito forte e incapacitante?
Adriano Scaff: As hérnias de disco podem se manifestar em toda a coluna, tanto cervical, torácica e lombar, sendo que nesta última ela é mais frequente. Mas vale lembrar que ter hérnia de disco não significa ser doente, muitas hérnias de disco não causam sintomas e são achados de exames. Ela deve ser tratada quando se encontra sintomática, a intensidade da dor não tem correlação com tamanho da hérnia e com gravidade. Pequenas hérnias podem geral dor forte e grandes hérnias podem ser assintomáticas. A dor esta correlacionada com o grau de inflamação local que a hérnia gera. Casos que devem ter mais atenção são os casos onde além da dor, a pessoa apresenta fraqueza nos membros (braços e pernas e esfincteres).
O que se tem de mais avançado em tratamento para coluna?
Adriano Scaff: O desenvolvimento da ciência no tratamento das patologias da coluna é relativamente recente quando comparado as áreas chamadas básicas da medicina, como cardiologia, ginecologia, etc. Mas na área médica por exemplo, o desenvolvimento das técnicas minimamente invasivas, como os bloqueios, a radiofrequência e as cirurgias endoscópicas (todas estas técnicas feitas com anestesia local e sedação) foram um grande avanço. Na fisioterapia o desenvolvimento de técnicas específicas para o tratamento da dor e para o fortalecimento da musculatura eretora da espinha, são fundamentais para o bem-estar do paciente. Toda esta evolução vem a evitar na maioria dos casos as grandes cirurgias e suas morbidades (complicações).