Ao ler o documento de apoio, Marina comparou Aécio ao ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010). "Ao final da presidência de
Fernando Henrique Cardoso [1995-2002], a sociedade brasileira demonstrou
que queria a alternância de poder, mas não a perda da estabilidade
econômica. E isso foi inequivocamente acatado pelo então candidato da
oposição, Lula, num reconhecimento do mérito de seu antecessor", leu a
ex-senadora, que foi ministra do Meio-Ambiente no governo petista.
"Agora, novamente, temos um momento em que a alternância de poder fará
bem ao Brasil (...) Aécio retoma o fio da meada virtuoso e corretamente
manifesta-se na forma de um compromisso forte, a exemplo de Lula em
2002, que assumiu compromissos com a manutenção do Plano Real, abrindo
diálogo com os setores produtivos", declarou.
Leia a íntegra do documento lido por Marina:
'Ontem,
em Recife, o candidato Aécio Neves apresentou o documento 'Juntos pela
Democracia, pela Inclusão Social e pelo Desenvolvimento Sustentável'.
Quero, de início, deixar claro que entendo esse documento como uma carta compromisso com os brasileiros, com a nação.
Rejeito qualquer interpretação de que seja dirigida a mim, em busca de apoio.
Seria
um amesquinhamento dos propósitos manifestados por Aécio imaginar que
eles se dirigem a uma pessoa e não aos cidadãos e cidadãs brasileiros.
E
seria um equívoco absoluto e uma ofensa imaginar que me tomo por
detentora de poderes que são do povo ou que poderia vir a ser
individualmente destinatária de promessas ou compromissos.
Os
compromissos explicitados e assinados por Aécio têm como única
destinatária a nação e a ela deve ser dada satisfação sobre seu
cumprimento.
E é apenas nessa condição que os avaliei para orientar minha posição neste segundo turno das eleições presidenciais.
Estamos vivendo nestas eleições uma experiência intensa dos desafios da política.
Para mim eles começaram há um ano, quando fiz com Eduardo Campos a aliança que nos trouxe até aqui.
Pela
primeira vez, a coligação de partidos se dava exclusivamente por meio
de um programa, colocando as soluções para o país acima dos interesses
específicos de cada um.
Em curto espaço de tempo, e
sofrendo os ataques destrutivos de uma política patrimonialista,
atrasada e movida por projetos de poder pelo poder, mantivemos nosso
rumo, amadurecemos, fizemos a nova política na prática.
Os partidos de nossa aliança tomaram suas decisões e as anunciaram.
Hoje estou diante de minha decisão como cidadã e como parte do debate que está estabelecido na sociedade brasileira.
Me posicionarei.
Prefiro
ser criticada lutando por aquilo que acredito ser o melhor para o
Brasil, do que me tornar prisioneira do labirinto da defesa do meu
interesse próprio, onde todos os caminhos e portas que percorresse e
passasse, só me levariam ao abismo de meus interesses pessoais.
A política para mim não pode ser apenas, como diz Bauman, a arte de prometer as mesmas coisas.
Parodiando-o, eu digo que não pode ser a arte de fazer as mesmas coisas.
Ou seja, as velhas alianças pragmáticas, desqualificadas, sem o suporte de um programa a partir do qual dialogar com a nação.
Vejo
no documento assinado por Aécio mais um elo no encadeamento de momentos
históricos que fizeram bem ao Brasil e construíram a plataforma sobre a
qual nos erguemos nas últimas décadas.
Ao final da
presidência de Fernando Henrique Cardoso, a sociedade brasileira
demonstrou que queria a alternância de poder, mas não a perda da
estabilidade econômica.
E isso foi inequivocamente
acatado pelo então candidato da oposição, Lula, num reconhecimento do
mérito de seu antecessor e de que precisaria dessas conquistas para
levar adiante o seu projeto de governo.
Agora,
novamente, temos um momento em que a alternância de poder fará bem ao
Brasil, e o que precisa ser reafirmado é o caminho dos avanços sociais,
mas com gestão competente do Estado e com estabilidade econômica, agora
abalada com a volta da inflação e a insegurança trazida pelo
desmantelamento de importantes instituições públicas.
Aécio
retoma o fio da meada virtuoso e corretamente manifesta-se na forma de
um compromisso forte, a exemplo de Lula em 2002, que assumiu
compromissos com a manutenção do Plano Real, abrindo diálogo com os
setores produtivos.
Doze anos depois, temos um passo
adiante, uma segunda carta aos brasileiros, intitulada: 'Juntos pela
democracia, a inclusão social e o desenvolvimento sustentável'.
Destaco os compromissos que me parecem cruciais na carta de Aécio:
- O respeito aos valores democráticos, a ampliação dos espaços de exercício da democracia e o resgate das instituições de Estado.
- A valorização da diversidade sociocultural brasileira e o combate a toda forma de discriminação.
- A
reforma política, a começar pelo fim da reeleição para cargos
executivos, que tem sido fonte de corrupção e mau uso das instituições
de Estado.
- Sermos capazes de entender que, no mundo
atual, a ampliação da participação popular no processo deliberativo,
através da utilização das redes sociais, de conselhos e das audiências
públicas sobre temas importantes, não se choca com os princípios da
democracia representativa, que têm que ser preservados.
- Compromissos sociais avançados com a Educação, a Saúde, a Reforma Agrária.
- Prevenção frente a vulnerabilidade da juventude, rejeitando a prevalência da ótica da punição.
- Lei para o Bolsa Família, transformando-o em programa de Estado.
- Compromissos
socioambientais de desmatamento zero, políticas corretas de Unidades de
Conservação, trato adequado da questão energética, com diversificação
de fontes e geração distribuída.
- Inédita determinação
de preparar o país para enfrentar as mudanças climáticas e fazer a
transição para uma economia de baixo carbono, assumindo protagonismo
global nessa área.
- Manutenção das conquistas e
compromisso de assegurar os direitos indígenas, de comunidades
quilombolas e outras populações tradicionais. Manutenção da prerrogativa
do Poder Executivo na demarcação de Terras indígenas.
- Compromissos
com as bases constitucionais da federação, fortalecendo estados e
municípios e colocando o desenvolvimento regional como eixo central da
discussão do Pacto Federativo.
Finalmente,
destaco e apoio o apelo à união do Brasil e à busca de consenso para
construir uma sociedade mais justa, democrática, decente e sustentável.
Entendo
que os compromissos assumidos por Aécio são a base sobre a qual o pais
pode dialogar de maneira saudável sobre seu presente e seu futuro.
É
preciso, e faço um apelo enfático nesse sentido, que saiamos do
território da política destrutiva para conseguir ver com clareza os
temas estratégicos para o desenvolvimento do país e com tranquilidade
para debatê-los tendo como horizonte o bem comum.
Não
podemos mais continuar apostando no ódio, na calúnia e na desconstrução
de pessoas e propostas apenas pela disputa de poder que dividem o
Brasil.
O preço a pagar por isso é muito caro: é a estagnação do Brasil, com a retirada da ética das relações políticas.
É
a substituição da diversidade pelo estigma, é a substituição da
identidade nacional pela identidade partidária raivosa e vingativa.
É ferir de morte a democracia.
Chegou
o momento de interromper esse caminho suicida e apostar, mais uma vez,
na alternância de poder sob a batuta da sociedade, dos interesses do
país e do bem comum.
É com esse sentimento que, tendo
em vista os compromissos assumidos por Aécio Neves, declaro meu voto e
meu apoio neste segundo turno.
Votarei em Aécio e o
apoiarei, votando nesses compromissos, dando um crédito de confiança à
sinceridade de propósitos do candidato e de seu partido e,
principalmente, entregando à sociedade brasileira a tarefa de exigir que
sejam cumpridos.
Faço esta declaração como cidadã
brasileira independente que continuará livre e coerentemente, suas lutas
e batalhas no caminho que escolheu.
Não estou com isso fazendo nenhum acordo ou aliança para governar.
O que me move é minha consciência e assumo a responsabilidade pelas minhas escolhas.