O sexagenário afoxé Filhos de Gandhy deu início, na tarde deste
domingo, ao seu 66º Carnaval com um cortejo que lotou o Centro Histórico
e o circuito Osmar (Campo Grande).
Apoiando a campanha Vá na moral ou vai se dar mal! Violência contra a
mulher é crime, da Secretaria de Políticas para Mulheres, o bloco seguiu
do Pelourinho ao circuito tradicional da folia pela Av. Carlos Gomes,
deixando cheiro de alfazema no ar. O cantor Aloísio Menezes foi
responsável por entoar os cânticos iorubás do afoxé.
Antes, na área histórica da cidade, o Padê, tradicional ritual
religioso cumprido pela agremiação, saudou o orixá Exu, pedindo a
abertura dos caminhos e um Carnaval de paz.
A preparação dos foliões do Gandhy, entretanto, começou bem antes, nas
ruas da Baixa dos Sapateiros e do Pelourinho, onde as turbanteiras
costuram torços na cabeça dos associados.
Jardecira Santana, 58 anos, afirma que o trabalho, apesar de cansativo,
"é prazeroso". Para a realização do serviço, são cobrados R$ 20, e
cada profissional faz até 20 turbantes em um dia de pico, como o da
estreia do afoxé na folia.
"Só penso na paz e no amor que o Gandhy traz para nós. É tudo de bom!",
define Jardecira, enquanto prepara a fantasia do gerente de vendas João
Paulo Cabral, 35.
Associado há 15 anos, Cabral se arrepia ao falar da paixão pelo bloco.
"O Gandhy é minha tradição, minha religião, é a certeza de um início de
ano de muitas alegrias, é uma energia muito positiva", afirma.
O guru Tio Souza, símbolo do afoxé, destaca o combate da direção do
bloco à troca de colares por beijos - às vezes roubados de forma
agressiva. "Esse mito [da troca do colar por um beijo] não condiz com a
filosofia do Gandhy e vem dos que desrespeitam as instruções passadas no
ato de entrada na entidade", explic