Os
caminhos já estão traçados para que o PP conquiste a vaga de vice na
chapa de Rui Costa (PT), candidato à sucessão do governador Jaques
Wagner (PT). Esse foi um dos recados evidenciados pela liderança do PP
baiano, o deputado federal Mário Negromonte. Ele e o presidente estadual
da sigla, deputado federal João Leão, devem disputar a indicação dentro
do partido.
Nesta
entrevista, o deputado considera a possibilidade de a senadora Lídice
da Mata (PSB), candidata ao Palácio de Ondina ir para o 2º turno.
Negromonte, porém, exalta o nome de Rui ao destacar que o secretário da
Casa Civil “é jovem, talentoso".
Tribuna
- O prazo estipulado pelo governador para o anúncio do vice se finda.
Não vai haver consenso, conforme sugerido por ele, entre o PP e o PDT?
Mário Negromonte- Olha,
existiu uma disputa entre PP e PDT e eu preferia que não tivesse
existido, e aí a coisa ficou pessoalizada entre Marcelo Nilo e a minha
pessoa, e eu tenho uma grande estima pelo deputado Marcelo Nilo. Ele tem
uma grande liderança na Bahia, um deputado atuante, seis mandatos, um
excelente presidente da Assembleia, um colaborador do governo com muita
decisão. Ele foi decisivo no apoio da Assembleia às ações do governo,
ele foi muito firme, muito leal, mesmo sendo isento mostrou que as
coisas do governo deveriam andar. Marcelo é um grande companheiro.
Lógico que isso aí ficou muito tenso, pois deveria ter decidido a chapa
toda lá atrás. Deveria ter definido logo no início tudo ou então agora
no final. Com isso a vice ficou hiper- valorizada.
Tribuna
- Na sexta-feira o senhor se reuniu com o governador. Pode-se dizer que
o PP é o preferido? Qual o cenário que o senhor vislumbra?
Negromonte -
O governador vai estabelecer um critério. O que eu sinto é que o
critério que ele vai desenvolver vai desaguar no Partido Progressista. O
critério é o tamanho de bancada estadual e federal, de prefeitos,
vereadores, tempo de televisão, a expressão nacional. A última votação
que nós tivemos nos municípios com a população de 2 milhões de
habitantes só quem bate a gente é o PT com 2,2 milhões. Os municípios
administrados pelo PP, somando os 56 dá uma população de mais de 2
milhões.
Tribuna
- Há rumores de que o governador Jaques Wagner prefere Marcelo Nilo e o
secretário Rui Costa prefere o senhor. Como o senhor avalia essa
questão? Tem algum fundamento?
Negromonte -
Eu acho que a preferência passa mais pelo governador. O governador
escolheu o candidato a governador, escolheu o candidato ao Senado e vai
escolher o vice.
Tribuna - Nos últimos dias muito se falou no nome do deputado federal João Leão. O senhor cederia o posto para ele?
Negromonte -
A preferência vai ficar entre mim e ele. O deputado João Leão é um
grande companheiro. Eu digo o seguinte: se tem dois deputados que
prestaram serviços à Bahia, sou eu e Leão. Eu sei que tem muitos
parlamentares que têm serviços prestados, mas eu tenho seis mandatos, em
todos os municípios em que sou votado eu tenho obras, e isso ajudou
muito o estado. A mesma coisa é João Leão, que é um excelente
parlamentar, trabalhador. Eu acho que se ele for escolhido eu estarei
contemplado. Se for eu, ele estará contemplado. Aí vai depender, daqui
pra frente, de uma visão, tanto do candidato quanto do governador, do
estilo de cada um, o que pode agregar. Desde o início eu tinha
demonstrado o interesse de ir para o Tribunal. Conversei lá atrás com o
governador sobre isso. Mas, vamos ver. Vou conversar com João Leão hoje e
amanhã, pois o governador quer decidir isso lá para o dia 14 ou 15.
Tribuna - O senhor cogita a possibilidade de abrir mão da vice para pleitear uma vaga no Tribunal de Contas?
Negromonte -
Isso está no jogo e pode acontecer. Vai depender da disposição do
deputado João Leão em disputar e da minha disposição. Eu tenho recebido
muitos apelos de parentes e amigos para não disputar a vice. Até já
passou pela minha cabeça fazer dobradinha com Mário Junior. Ele na
federal e eu na estadual, portanto tudo isso pode aparecer.
Tribuna - Qual o cenário mais palpável?
Negromonte -
O cenário mais palpável no meu entender hoje é que o governador vai
fazer a opção pelo PP para a vice. Estamos hoje na disputa eu e o
deputado João Leão. Vamos sentar e discutir quem se adapta melhor à
chapa.
Tribuna
- E se o governador insistir por uma mulher, quem o PP tem para
mostrar? A ex-deputada estadual Eliana Boaventura reúne o partido e
consegue dar densidade à chapa?
Negromonte - Não.
Nós já decidimos com o governador que os dois nomes seriam o meu e o do
deputado João Leão. Ao dizer isso eu não quero vetar ninguém, nem
mulher nenhuma. Se o governador insistir com essa tese, o partido vai
fazer uma convenção para saber se é isso que todos querem.
Tribuna - Qual seria outro nome além de Eliana, já que há informações de que ela não agregaria tanto?
Negromonte - Pois
é. Não passa pela nossa cabeça isso agora. O que queremos é buscar um
nome que agregue mais, que seja um complemento da personalidade de Rui
Costa e que seja competitivo para vencer.
Tribuna - O deputado Marcelo Nilo já demonstra descrença. O senhor acha que pode haver um racha?
Negromonte -
Eu não acredito. Marcelo Nilo é um deputado muito fiel, muito leal. Ele
pode ficar chateado, magoado, tem as razões dele para ficar com esse
sentimento, mas romper não. Acho também que o Félix Mendonça, que é o
atual presidente, não iria por esse caminho.
Tribuna - Em caso de o PP não ser o escolhido, essa possibilidade de rompimento pode ser aventada?
Negromonte - Olha,
eu não vou cogitar essa possibilidade porque a conversa com o
governador foi muito boa. Se nós não tivéssemos essa certeza, lógico que
reuniríamos o partido e tomaríamos uma decisão sobre qual rumo seguir.
Mas a conversa foi muito boa e estamos muito seguros em função do nosso
potencial, em função da nossa densidade eleitoral.
Tribuna - Essa briga pela vice seria estratégica para encobrir fragilidades do secretário Rui Costa e do PT?
Negromonte - Olha,
eu não diria que o deputado Rui Costa tem fragilidades. Eu acho que em
função de dois candidatos fortes, um partido que poderia causar
problemas se fosse preterido e o outro que é presidente da Assembleia,
fiel, trabalhador, que tem ajudado muito o governo, o que fez com que o
governador ficasse entre a cruz e a espada. O governador diante disso
ficou numa situação difícil, e como é muito habilidoso, conhece política
nacional, estadual e municipal, achou que com o tempo pudesse
administrar, minimizar quaisquer sequelas que ficassem de um lado ou de
outro.
Tribuna
- Como o senhor observa o cenário da oposição estadual que até o
momento não decidiu se o candidato será o ex-governador Paulo Souto ou
se será o ex-ministro Geddel Vieira Lima?
Negromonte -
É um cenário meio confuso, pois são dois candidatos com perfis
diferentes. Um que já esteve no comando, perdeu a eleição sentado na
cadeira, é uma reeleição praticamente, vamos dizer, difícil. O
ex-governador Paulo Souto sabe que essa é uma eleição da mudança e eu
acho que o Geddel tem mais o perfil da mudança, pois não foi testado
ainda e nós sabemos também, no íntimo, para quem acompanhou a política
de Antonio Carlos Magalhães e de Luis Eduardo Magalhães, que a
preferência de Neto deve recair mais para Paulo Souto, pela convivência
que tiveram no passado. O Neto tem que ser juiz desse jogo. Sabemos que o
grupo dele, que o PSDB e que os outros partidos desejam mais Paulo
Souto. Geddel tem um grande instrumento que é o PMDB nacional, que ele
tem força, é um jovem com ideias mais modernas, está com muita vontade
de ser candidato. Não se podem fazer comparações com ele, em relação a
obras, porque ele não foi governo, então teria um discurso novo. Eu
prefiro não opinar quem vai ser. O Neto vai ter uma dificuldade muito
grande, pois no início Paulo Souto não demonstrava interesse por saber
que era uma eleição muito difícil, ele já tinha sido por ser uma pessoa
também muito correta, não querer dever em campanha, não querer ficar com
pendências.
Tribuna
- O senhor acredita que o candidato mais fácil para o candidato do PT
vencer seria Paulo Souto por causa da comparação entre governos?
Negromonte -
O que os prefeitos falam de Rui? Falam que ele é desconhecido, então
isso é uma boa virtude. Se ele tivesse defeitos? Qual o defeito em um
político? É governar sem ética, com corrupção, mas nada disso ele tem.
Rui foi vereador, foi deputado um dos mais bem votados, então isso vai
depender de tempo e de ser trabalhado. A partir do momento em que Rui
começa a se movimentar – e ele já está fazendo isso –, as pessoas vão
passar a conhecê-lo. Tem pessoas que são mais sisudas, já outras são
mais engraçadas ou riem mais. Eu me considero uma pessoa sisuda, mas um
sisudo que tem voto. Eu me elegi seis vezes, e na última eleição com 170
mil votos. Isso não é demérito ser mais sisudo. Meu pai já dizia: -
Homem e mulher de muito riso pouco siso. Meu filho foi eleito com quase
115 mil votos, minha mulher é prefeita por duas vezes, então, se eu
risse muito acho que ia tomar o lugar de Obama, de Lula ou de Dilma, ou
de Jaques Wagner (risos).
Tribuna
- Como o Senhor observou a crítica do líder do PMDB, Eduardo Cunha, de
que o PT quer hegemonia e não trata bem os aliados?
Negromonte -
Olha esse é o sentimento da maioria dos congressistas. Isso é uma coisa
real, e por que está acontecendo? Quer dizer, é um somatório de tudo
aquilo que vem acontecendo. Dizem que vão descontar tudo em 2014 e dizer
que estamos sofrendo. Falta de espaço no governo, falta de compromisso e
de honrar as emendas. Sempre digo que emenda parlamentar é igual
salário de funcionário público, tem que ser uma coisa sagrada, pois as
emendas que levam obras para os municípios. Quando o governo não leva as
obras, nós levamos através das emendas, obras da saúde, do calçamento,
da água, da energia. Quer dizer, nós complementamos as ações do governo
do estado. Quando isso não acontece é ruim para o município, é ruim para
prefeito, para o deputado para o governo do estado e para o governo
federal. Um dos motivos para a criação desse blocão quer tornar as
votações mais independentes é que o governo não tem dialogado com os
movimentos sociais, com a classe política e tem dialogado pouco com os
empresários. O governo certamente não está fazendo as obras que esse
povo que está fazendo manifestações nas ruas deseja. O que eles querem?
Eles dizem que agora querem saúde padrão Fifa, querem tarifa zero de
ônibus.
Tribuna - Essa rebelião pode dificultar a reeleição da presidente Dilma?
Negromonte - Olha,
dá tempo de corrigir. Se ela tiver habilidade, conversar, e não é fácil
porque muitos setores fazem comparações com o governo, do tratamento
que ele dispensava com o Congresso, com os movimentos sociais. Eles veem
que realmente existe uma diferença, ou seja, ela que nunca passou no
crivo do voto, nunca foi vereadora, deputada estadual, federal,
senadora, governadora, tem essa dificuldade. Política é isso, 90% é
atenção, é carinho.
Tribuna
- Qual o cenário que o senhor consegue perceber com as candidaturas de
Aécio Neves, de Eduardo Campos com Marina Silva disputando com a
presidente Dilma?
Negromonte - A
eleição não está fácil nem nacionalmente, nem nos estados. Essa é uma
eleição difícil porque é um momento novo que a sociedade está
experimentando. O político que não se atualiza, não conversa com a
sociedade e não muda de acordo com o que a sociedade necessita, está na
contramão. O que está acontecendo hoje no Congresso? A questão dos
espaços no governo que foram reduzidos. Por exemplo, o nosso partido no
governo Lula tinha um número menor de deputados e de senadores, mas
tinha mais espaços no governo. Hoje nós só temos praticamente o
Ministério das Cidades, uma vice-presidência na Caixa Econômica e uma
bancada maior. Nós estamos reivindicando e a presidente ficou de ouvir o
presidente do nosso partido, Ciro Nogueira, sobre isso. Eu sei que tem
pessoas que perguntam como é que estamos no governo e estamos fazendo
rebelião? Ora, pelo que estou entendendo, ninguém está fazendo rebelião
contra o governo. O Congresso quer é mostrar mais autonomia, votar os
projetos de interesse maior, fazer uma pauta dos congressistas, dos
parlamentares de acordo com o que está acontecendo nas ruas, e o
Congresso precisa fazer isso logo. Lembro-me que quando teve a primeira
manifestação, eu mandei um ofício para o presidente da Câmara, Henrique
Alves, dizendo que era para pautar tudo aquilo que os movimentos de rua
estavam falando, e vamos discutir. Eu fui um dos primeiros a fazer um
discurso sobre recursos de campanha. Tem que fazer uma reforma política,
se pode ou se não pode porque cada um, cada partido quer a sua reforma,
o que torna difícil. Então vamos fazer uma proposta a curto prazo que
reúna a todos, que seria a questão do financiamento de campanha. Se não
resolver esse negócio de dinheiro em campanha, todo mês vai ter político
preso, vereador, prefeito, deputado. Vai encher a Papuda.
Tribuna
- O senhor é o vice-presidente nacional do PP e vai ser alçado à
condição de presidente do partido que é um aliado estratégico da
presidente Dilma. Essa relação nacional dá mais peso na disputa pela
vice de Rui Costa?
Negromonte -
Eu quero dizer dois fatos relevantes que aconteceram no Brasil e na
Bahia. Eu era líder do partido e uma parte desejava o apoio a (José)
Serra. A presidente Dilma tinha traço na pesquisa, e na reunião do
partido eu disse que: - Eu quero submeter a uma convenção para o partido
escolher e o ministro Marcio Fortes deve entregar o cargo amanhã.
Entrega o cargo e rompe ou então fica no cargo e apoia o governo.
Terminada a reunião, fomos levar o apoio a Dilma. Aqui a mesma coisa. O
partido estava dividido, não queria o apoio a Wagner e eu trabalhei para
que construíssemos esse apoio a Wagner. O presidente Lula também me
pediu que eu construísse essa aliança, já que estávamos fazendo essa
aliança lá em cima. As questões regionais nesta eleição vão pesar muito.
Quer dizer, nós temos problemas, o PMDB tem problemas, o PSD tem
problemas. A senadora Ana Amélia, do Rio Grande do Sul, é adversária
histórica do PT, é candidata ao governo e deve ficar com Eduardo Campos.
E aí tem o Bendito de Lira, candidato ao governo de Alagoas, também vai
ter problemas, a mesma coisa o PMDB.
Tribuna
- O senhor acredita que a candidatura da senadora Lídice da Mata pode
tirar votos do PT, já que passeiam pelo mesmo campo político?
Negromonte -
Eu acredito que a candidatura de Lídice pode provocar o segundo turno,
principalmente porque ela vai capitalizar votos nos grandes centros, em
Salvador, na Região Metropolitana, Itabuna, Ilhéus, Conquista. A gente
sabe também que o PT sofre por estar no governo há 12 anos. A gente tem
reclamação na Bahia e no Brasil também da ação do PT nos municípios de
sufocar os aliados. Muitos prefeitos que reclamam que nessa última
eleição de 2012 houve um jogo brutal.
Tribuna - O PP quer sair como da eleição? Quais as apostas?
Negromonte - Nós
vamos trabalhar para elegermos cinco deputados estaduais, quatro
federais, ter o vice-governador e trabalhar para dar a vitória ao
secretário Rui Costa. Ele é um político talentoso, jovem, competente, e,
no decorrer da campanha, o que se tiver de defeito vai corrigindo.
Tribuna - O que pode dificultar para que ele se torne um candidato viável?
Negromonte - Tem
coisa que depende muito da pessoa. Essa questão vai depender muito
dele, de ser uma pessoa mais versátil, de atender as lideranças. No
campo do governo, ele diz que está tranquilo, pois pode mostrar que este
governo fez mais do que os outros, fez mais na saúde, nas estradas,
energia, na educação, na segurança, então esse legado que o governo
Wagner deixa é bom para ele, mas isso não é tudo. A sociedade cobra
muito classe política, cobra lealdade, sinceridade, ética, não roubar,
competência. Você tem que ter jogo de cintura, tem que ser político,
portanto, ele tem que ter todos esses componentes e mostrar confiança
para a sociedade do que quer fazer. Se faltou fazer algo no governo
Wagner de obra estruturante, de obra social, ele tem que dizer que vai
fazer aquilo.
Colaboraram: Fernanda Chagas e Lilian Machado/Tribuna da Bahia