Santos (SP)
Após marcar belo gol na goleada
por 5 a 2 do Santos sobre o Mogi Mirim e se destacar mais uma vez com
ótima atuação com a camisa alvinegra na noite desta quinta-feira, Arouca
confirmou os insultos racistas que recebeu de torcedores adversários e,
em entrevista após o jogo, o volante preferiu não dar bola ao
preconceito.
“Bom nem ouvir, nem dar ouvido a
essas pessoas. Nem sei se pode chamar de pessoa. É uma situação difícil
de comentar, mas acontece não só no futebol. Espero que alguém possa
tomar providência muito severa porque isso é lamentável”, reclamou
resumidamente.
Apesar
de optar por resposta menos elaborada sobre o lamentável episódio após a
partida, o jogador mostra toda sua frustração e se posiciona de maneira
mais firme em comunicado divulgado na manhã desta sexta. O jogador
classifica o incidente como "lamentável e inaceitável", além de acreditar que as situações deste tipo não se resumem ao futebol.
Confira o texto escrito pelo jogador:
"Na saída do jogo desta quinta-feira, contra o Mogi Mirim, fui alvo de insultos racistas de um torcedor do time
adversário. É lamentável e inaceitável que ainda haja espaço para esse
tipo de coisa hoje em dia. Isso só mostra que o ser humano ainda tem
muito a evoluir e a crescer, que não estamos nem perto de um mundo que
viva a harmonia entre as pessoas e todas as suas diferenças.
Tenho
muito orgulho das minhas origens africanas, que foi o que o sujeito
tentou usar para me ofender, dizendo que eu deveria procurar alguma
seleção de lá para jogar. Dando a entender que um negro igual a mim não
serve para defender a seleção brasileira. Como se algumas das páginas
mais bonitas da história da nossa seleção não tivessem sido escritas por
jogadores como Leônidas, Romário e pelo Rei Pelé, também negros. Não
ouvi os gritos de 'macaco' que alguns repórteres disseram ouvir, mas,
caso tenha realmente acontecido, é ainda mais triste.
Eu
sei muito bem de onde venho e de toda a minha luta para chegar onde
cheguei. Por isso, sentir na pele o que aconteceu comigo hoje – logo
depois do que fizeram com o Tinga outro dia e também do caso do juiz no
Rio Grande do Sul – me deixa muito decepcionado. Acabou com a alegria
pela boa atuação do nosso time, pelo belo gol que fiz, ou seja, pelo que
deveria ser a essência do esporte.
O futebol é um
espelho da nossa realidade, e isso não se resume apenas a xingamentos
racistas. Continuam matando e morrendo por torcerem por um time
diferente do outro. Espero, sinceramente, que casos como esse sejam
severamente punidos, pois, enquanto isso não acontecer, nada vai mudar. A
impunidade e a conivência das autoridades com as pessoas que fazem esse
tipo de coisa são tão graves quanto os próprios atos em si. Somente
discursos e promessas não resolvem a falta de educação e de humanidade
de alguns".