sexta-feira, 30 de junho de 2017

Cachoeira: polo político e estratégico da guerra pela independência da Bahia

Praça da Aclamação, em Cachoeira (Foto: Betto Jr/CORREIO )Para vencer a batalha do dia a dia, o vendedor de picolés Alder Peixoto Silva, 42 anos, lembra da guerra. Talvez o único a percorrer todos os dias os caminhos da independência da Bahia em Cachoeira, no Recôncavo, ele aponta um a um os locais que foram importantes na vitória dos baianos. Polo político e estratégico do 2 de Julho, Cachoeira mantém de pé prédios e sobrados onde a guerra foi pensada, mas também lugares nos quais foi derramado muito sangue.
“Saber que pessoas do povo, inclusive da minha raça, da minha cor, deram a vida para se livrar do julgo português, dá um orgulho danado. Diante do sangue derramado, é até fácil para a gente enfrentar a vida”, diz Alder, emocionado, na Praça da Aclamação, ao lado do marco onde teria tombado Tambor Soledade, único morto daquele primeiro confronto entre brasileiros e lusitanos. “É aqui que nasce tudo”, resume.
Com Alder e outros personagens da vida comum cachoeirana, além de dois historiadores, o CORREIO revisitou os lugares por onde passaram os heróis da época. Foram refeitos os sete passos da independência em Cachoeira: a Casa de Câmara e Cadeia, a Casa Número 23, a Santa Casa de Misericórdia, a Igreja Matriz, o Rio Paraguaçu, a Casa Número 3 (na vizinha São Félix) e a própria Praça da Aclamação.
Guerra
Debruçada na sacada da Câmara de Vereadores de Cachoeira, antiga Casa de Câmara e Cadeia, é como se a recepcionista Janete Magno fizesse parte daquela história. Foi ali que, em uma sessão extraordinária no dia 25 de junho de 1822, Dom Pedro I foi aclamado Defensor Perpétuo do Brasil, o que significou uma declaração de guerra contra Portugal.
Não à toa, 25 de junho é a data magna da cidade. “Eu faço uma viagem no tempo quase todos os dias. Trabalhar aqui é lembrar da importância de ser livre”, diz Janete. A mais ou menos um quilômetro dali, a Casa de Número 23, um sobrado aparentemente qualquer em Cachoeira, foi o primeiro lugar onde a guerra foi pensada. Segundo registros históricos, ali foram feitas as primeiras reuniões antilusitanas.
“No início de 1822, reuniões secretas articularam a guerra. Onde hoje mora uma família comum foi o início da movimentação toda”, afirma a historiadora Tamires Costa, mestranda na Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB) que pesquisa os lugares de memória que fazem parte do cotidiano de Cachoeira. As ideias discutidas pela elite açucareira e proprietários de terra foram ganhando adeptos e conquistaram o povo.