Morar na rua não faz de alguém, necessariamente, pedinte ou desocupado. Cândido Roque Ferreira da Silva, 51, e Pedro Limiro Landim, 46, são exemplos disso. Eles moram nas ruas de Salvador há décadas e trabalham duro para garantir o pão de cada dia.
Roque passa as noites e as madrugadas percorrendo becos e esquinas da capital em busca de materiais recicláveis. Atua no ramo há oito anos, após um amigo da Feira de São Joaquim o ensinar a fazer reciclagem. Reclama por ganhar apenas R$ 0,30 pelo quilo da garrafa PET. Mas recusa trabalhos que o exponham ao sol, como os de pedreiro.
Esse é, inclusive, o motivo pelo qual ele só trabalha à noite. "Com esse sol todo, não dá para trabalhar durante o dia. Vamos virar peixe na frigideira. Não quero ser peixe frito".
Para Roque, a insegurança é a pior coisa das ruas. Só em 2015, ele teve dois carrinhos de mão furtados, além de comida. Mas continua a sonhar: "Vou fazer exame de sangue, estudar e voltar para a profissão que eu era antes: mecânico. Quando quebra um carro aqui, eu conserto". Roque é de Encarnação de Salinas, está em Salvador há 45 anos e é pai de dez filhos.
Já o carioca Pedro veio para Salvador aos 7 anos com a mãe e os três irmãos, após o pai abandonar a família. Há mais de duas décadas, garante o sustento com a lavagem de carros na Ladeira da Fonte das Pedras, ao lado da Itaipava Arena Fonte Nova – serviço pelo qual cobra entre R$ 20 e R$ 30, a depender do tipo de veículo.
Pedro conta com orgulho da vez em que um homem se recusou a pagar o valor cobrado por ele: "Eu disse 'pode levar' [o carro]. Depois, ele voltou e pagou o preço certo, me pediu desculpas e elogiou meu trabalho". O carioca garante ser 'estudado' e diz que vive dessa forma porque gosta de andar pelas ruas.