26/09/2013 05:06 |
Calma, Creuza! Tá de ressaca, é? A vodca leva essa fama por uma questão
cultural. As pessoas tendem a beber vodca em quantidades soviéticas,
misturada com dezenas de outros ingredientes (afinal, como dizia uma
velha comunidade do Orkut, vodca serve pra fazer drinque até com
detergente).
Como você falou, o uísque tem uma graduação alcoólica parecida. Aliás,
cachaça, rum e tequila costumam flutuar em torno dos 40%. O gim tem um
pouco a mais. Quanto mais álcool, maior a interferência no cérebro. “Ele
interfere em sistemas de armazenamento e transferência da memória de
curto para longo prazo”, diz sobriamente o neurologista Mauro Muskat, da
Unifesp. Ele explica que o que acontece é um bloqueio de algumas áreas
cerebrais, relacionadas com atransferência da memória de curto
prazo (mediadas no hipocampo) e com a memória de longo prazo (mediadas
na região frontal do cérebro).
Na linguagem rasteira das buatchis, tu deu pt, queimou a largada.
O neurologista lembra que não é só quantidade que influi, mas também a
velocidade em que o álcool invade o organismo. Uma pessoa que não está
acostumada a beber e bebe muito rápido muitas vezes não fica
necessariamente embriagada, mas pode, mesmo assim, ter alterações
específicas relacionadas ao armazenamento de memória, ou seja, pode ter
aqueles períodos de branco no dia seguinte. “Isso é bem individual, vai
variar de organismo para organismo”, diz Muskat.
Vale lembrar também que uma pesquisa da Universidade da Califórnia,
feita com imagens de ressonância magnética de cérebros de estudantes
universitários, sugeriu que a amnésia alcoólica não depende da
quantidade de álcool ingerida, e pode se tratar de uma questão genética:
algumas pessoas têm um componente bioquímico no cérebro que faz com que
o álcool afete mais intensamente a atividade cerebral em áreas ligadas
ao autodomínio, atenção e memória de trabalho. Com isso, elas ficam mais
propensas a perder a memória quando bebem.
É um estudo. E estudo tem de monte.
Mas isso tudo volta à história de como a gente bebe esses destilados. De maneira geral:
uísque – cheio de gelo ou cheio de energético na balada. Se beber
muito, amnésia. Se beber em casa, é devagar, degustando. Logo, sem
apagar.
tequila – salvo estudiosos del tequila, entusiastas e recém-chegados de
uma viagem ao México que foi além do spring break em Cancún, humanos
costumam beber em shots grosseiros, lambuzados de sal e limão.
Resultado: pessoas uivando – e amnésia.
cachaça – como abrideira de refeições, bebemos cerimoniosamente ou em
shots, além, claro, da caipirinha. mas é raro beber em quantidades
alambiqueiras numa balada. É uma bebida do dia, do sol, do churrasco.
Encharque-se de caipirinha e veja se não há amnésia.
vodca – também funciona bem como abrideira e há uma infinidade de
nuances e sabores, mas, na prática, quem a consome no Brasil ou faz
drinques mais ou menos requintados ou usa para turbinar a noite
insanamente. Por isso é relacionada à amnésia com mais frequência.
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