O Ministério da Defesa informou que não vai comentar a decisão
Foto: Folhapress
Da Redação
O ex-presidente do PT José Genoino anunciou nesta
quarta-feira (10) que irá deixar o cargo de assessor especial do
Ministério da Defesa. A decisão vem depois de Genoino ser condenado, na
terça, pelo Supremo Tribunal Federal (STF) durante julgamento do
mensalão.
"Retiro-me do governo com a consciência dos
inocentes", disse Genoino, que leu uma carta em pronunciamento feito no
diretório nacional do PT em São Paulo.
O poítico foi condenado pela maioria dos ministros
do STF - 6 votos a 1 - por corrupção ativa. A pena ainda não foi
determinada - a Corte deve divulgar a informação ao fim do julgamento.
O Ministério da Defesa informou que não vai comentar a decisão.
Confira a íntegra da carta:
"Carta aberta ao Brasil
"Carta aberta ao Brasil
Eles passarão, eu passarinho
Mário Quintana
Mário Quintana
Dizem, no Brasil, que as decisões do Supremo
Tribunal Federal não se discutem, apenas são cumpridas. Devem ser
assumidas, portanto, como verdades irrefutáveis. Discordo. Reservo-me o
direito de discutir, aberta e democraticamente com todos os cidadãos
do meu país, a sentença que me foi imposta e que serei obrigado a
cumprir.
Estou indignado. Uma injustiça monumental foi cometida!
A Corte errou. A Corte foi, sobretudo, injusta.
Condenou um inocente. Condenou-me sem provas. Com efeito, baseada na
teoria do domínio funcional do fato, que, nessas paragens de teorias
mal-digeridas, se transformou na tirania da hipótese pré-estabelecida,
construiu-se uma acusação escabrosa que pôde prescindir de evidências,
testemunhas e provas.
Sem provas para me condenar, basearam-se na
circunstância de eu ter sido presidente do PT. Isso é o suficiente? É o
suficiente para fazerem tabula rasa de todo uma dedicada, com grande
sacrifício pessoal, à causa da democracia e a um projeto político que
vem libertando o Brasil da desigualdade e da injustiça.
Pouco importa se não houve compra de votos. A
tirania da hipótese pré-estabelecida se encarrega de "provar" o que não
houve. Pouco importa se eu não cuidava das questões financeiras do
partido. A tirania da hipótese pré-estabelecida se encarrega de afirmar
o contrário. Pouco importa se, após mais de 40 anos de política, o meu
patrimônio pessoal continua o de um modesto cidadão de classe média.
Esta tirania afirma, contra todas as evidências, que não posso ser
probo.
Nesse julgamento, transformaram ficção em
realidade. Quanto maior a posição do sujeito na estrutura do poder,
maior sua culpa. Se o indivíduo tinha uma posição de destaque, ele
tinha que ter conhecimento do suposto crime e condições de encobrir
evidências e provas. Portanto, quanto menos provas e evidências contra
ele, maior é a determinação de condená-lo. Trata-se de uma brutal
inversão dos valores básicos da Justiça e de uma criminalização da
política.
Esse julgamento ocorre em meio a uma diuturna e
sistemática campanha de ódio contra o meu partido e contra um projeto
político exitoso, que incomoda setores reacionários incrustados em
parcelas dos meios de comunicação, do sistema de justiça e das forças
políticas que nunca aceitaram a nossa vitória. Nessas condições, como
ter um julgamento justo e isento? Como esperar um julgamento sereno, no
momento em que juízes são pautados por comentaristas políticos?
Além de fazer coincidir matematicamente o julgamento com as eleições.
Mas não se enganem. Na realidade, a minha
condenação é a tentativa de condenar todo um partido, todo um projeto
político que vem mudando, para melhor, o Brasil. Sobretudo para os que
mais precisam.
Mas eles fracassarão. O julgamento da população
sempre nos favorecerá, pois ela sabe reconhecer quem trabalha por seus
justos interesses. Ela também sabe reconhecer a hipocrisia dos
moralistas de ocasião.
Retiro-me do governo com a consciência dos
inocentes. Não me envergonho de nada. Continuarei a lutar com todas as
minhas forças por um Brasil melhor, mais justo e soberano, como sempre
fiz.
Essa é a história dos apaixonados pelo Brasil que
decidiram, em plena ditadura, fundar um partido que se propôs a mudar o
país, vencendo o medo. E conseguiram. E, para desgosto de alguns,
conseguirão. Sempre. São Paulo, 10 de outubro de 2012 José Genoíno
Neto"