02/09/2012 09:45 |
O amor. Um dia ele chega para todo
mundo, acredite você leitor (leitora), ou não. Na contemporaneidade, o
sociólogo polonês Zygmunt Bauman, em seu livro “O Amor Líquido”,
transforma a célebre frase marxista – “tudo que é sólido se desmancha no
ar” – em ponto de partida para debater a fragilidade dos laços humanos e
lançar o conceito de “líquido mundo moderno”.
Em síntese, o autor traz uma reflexão crítica de como esse mundo
“fluido”, uma das principais características dos compostos líquidos,
fragilizou os relacionamentos humanos. O sociólogo observa que o amor
tornou-se, na sociedade moderna, como um passeio no shopping center –
ícone do capitalismo – e como tal deve ser consumido instantaneamente e
usado uma só vez, sem preconceito. É o que considera a sociedade
consumista do amor.
Pois bem, é nesta linha fluida, sem preconceito e destarte liberal, com
frases como “Ter parceiro único pode se tornar coisa do passado" e
“Variar é bom, todo mundo gosta”, que a psicanalista e escritora Regina
Navarro Lins, crítica do que considera “amor romântico”, lança os dois
volumes do “O Livro do Amor” (Editora Best Seller, 364 páginas). Entre
os seus dez livros, destaca-se também “A cama na varanda”.
Psicanalista há 39 anos, Lins acredita que as pessoas ainda sofrem
muito por causa dos desejos, medos, culpas e frustrações. O Livro do
Amor é um estudo que começa desde a pré-história, seguindo por todos os
períodos da humanidade, até chegar à atualidade. “Descobri coisas muito
interessantes, como que o amor é uma construção social, de que em cada
época ele se apresenta de uma forma. Na Grécia era diferente da idade
média”, avalia.
No século XX, o livro é divido em três partes. Para a psicanalista o
que mudou o amor na contemporaneidade foram duas invenções: o automóvel e
o telefone. “Pela primeira vez na história as pessoas puderam marcar
encontro pelo telefone, mesmo com os moralistas defendendo que era uma
indecência a voz do homem entrar pelo ouvido da mulher”, lembrou.
Regina Navarro Lins acredita que muito dos nossos comportamentos atuais
tem origem em períodos históricos passados, como o “amor romântico”,
surgido lá..., no século XII. “Eu aponto também as tendências de como o
amor está se transformado. A repressão diminuiu, ainda bem. O sexo é da
natureza, é desejável, mas a nossa cultura judaico-cristã, sempre viu o
sexo com maus olhos. Nos últimos dois mil anos foi visto como algo
abominável, a repressão sexual foi horrorosa”, apontou.
Sobre o tão alardeado amor romântico, Lins inicia sua crítica
observando o caráter sub-humano que foi atribuído a mulher ao longo dos
anos. “A mulher foi considerada incompetente e burra. O cavalheirismo é
uma ideia péssima para as mulheres. Gentileza é outra coisa. O
cavalheirismo implica sempre em o homem tratar a mulher como se ela
fosse incompetente. Não tem sentido, se observarmos como a mulher foi
considerada no passado, até hoje pessoas defenderem a ideia de que a
mulher não pode puxar uma cadeira”, comparou a psicanalista.
Regina Navarro defende também que o amor romântico é baseado na
idealização do outro, a invenção de uma pessoa, atribuindo a ela
características que não tem. “Depois passa a vida ‘azucrinando’ o outro
para mudar o jeito de ser, para se enquadrar naquilo que se imaginou.
Esse tipo de amor prega coisas mentirosas, como de que não existe
desejo por mais ninguém, de que os amados vão se completar e nada mais
vai faltar, que um terá todas as suas necessidades completadas pelo
outro. É um amor prejudicial, o que critico é o que ele propõe. As
pessoas só vão viver bem em um relacionamento se tiver a liberdade de ir
e vir”, observou.
E sobre o ciúme? Para a psicanalista, aceitar o ciúme como algo natural
é limitador para a vida. “Sofre o ciumento é quem é o alvo do ciúme. Eu
nunca vi uma relação boa, quando as pessoas tem ciúme do outro. Na
nossa cultura, aprendemos que quem ama sente ciúme, o que é um equivoco.
Daqui a uns 30 ou 40 anos as relações serão muito mais frouxas, as
pessoas não vão querer se fechar em uma relação a dois. Com o amor
romântico saindo de cena, termina essa exclusividade que só se tem olhos
para o outro”, prevê Lins.
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