Luciana perdeu Lucas atropelado por adolescente que Valdeci entregou à polícia
Alean Rodrigues
Luciana
de Jesus Nery perdeu o filho Lucas, de 4 anos, atropelado por uma moto
pilotada por um adolescente de 16 anos. Ao saber do ocorrido, a dona de
casa Valdeci Gomes dos Santos entregou o filho aos policiais militares,
que o apresentaram na delegacia. Na vida destas duas mulheres, o
sofrimento de mães que, de uma forma ou de outra, perderam os filhos.
Abalada com a tragédia, Luciana contou
que pegou o filho nos braços e o levou para casa acreditando que ele
estava desmaiado. “Joguei água no rosto dele, que não respondia.
Coloquei ele no carro de um vizinho e fui para o hospital, mas ele
morreu antes de chegar. Meu filho morreu em meu braços”, disse, enquanto
beijava a fotografia do filho.
O adolescente fugiu do local, mas,
ao chegar em casa, teve que enfrentar a mãe, Valdeci. “Ele deixou o
local com medo de ser agredido. Chegou aqui nervoso e me contou o que
houve. Fui no hospital e quando soube da morte, trouxe a polícia e o
entreguei”, disse. Ela afirmou que, mesmo sabendo que o que houve foi
uma fatalidade, o filho deve pagar pelo ato que cometeu. “Não estou
comendo nem dormindo. Sei a dor que esta família está passando. É
doloroso, mas tinha que fazer isto para que ele aprenda a lição. Se
erra, deve pagar pelo erro”, frisou.
Lucas tinha 4 anos |
O acidente aconteceu a poucos metros da
casa da criança, no povoado de Sítio do Aragão, na zona rural da cidade
de Santo Estêvão (a 157 km de Salvador). O enterro de Lucas ocorreu na
tarde de ontem, no Cemitério Municipal do município.
Irmãos presenciaram o acidente
De acordo com familiares de Lucas, ele
estava na companhia do irmão de 10 anos, que foi levar outra irmã para
pegar o transporte escolar. Ao retonarem para casa, a motocicleta bateu
nele, que foi arremessado a cerca de 3 metros e bateu a cabeça em uma
estaca. “Ele acenou para a irmã e ao se virar, a moto, que vinha em alta
velocidade, pegou ele em cheio e jogou lá na cerca”, contou uma vizinha
que presenciou o acidente. O delegado Antônio Carlos Sena Costa ,
titular de Santo Estêvão, ouviu o adolescente e o encaminhou ao Juizado
de Menores, onde ele aguarda a decisão da Justiça. O boletim do ato
infracional de homicídio culposo já foi encaminhado para o Judiciário e
para o Ministério Público. “Agora, eles devem decidir se vão determinar
medida socioeducativa e como deve ser cumprida”, explicou.
Sucata comprada em leilão
A motocicleta que atropelou o garoto de 4
anos pertencia ao próprio adolescente e foi comprada por ele em um
leilão, em São Paulo. O veículo não poderia circular, já que é
considerado sucata, conforme consta em nota fiscal do leilão, que foi
entregue pelos pais do adolescente na delegacia de Santo Estêvão. Mas
ele não é o único que utiliza motocicletas de forma irregular, sem
habilitação ou com imprudência. Ao passar pelas ruas do município de
Santo Estêvão, é comum encontrar adolescentes guiando este tipo de
veículo – muitos deles sem os devidos itens de segurança, como o
capacete.
Apreensões constantes
Crianças e jovens são transportados por
adultos sem o mínimo de segurança. Exemplo disso foi uma mulher que,
ontem, estava na garupa de uma moto usada para revenda de botijões de
gás. No colo, ela carregava um bebê com poucos dias de vida. Ao perceber
que estava sendo observado, o motociclista deixou o local em alta
velocidade. O delegado Antônio Carlos Sena informou que é comum
ocorrência de irregularidades envolvendo motos. Em média, a delegacia
apreende 30 veículos por mês. Destes, 30% estão nas mãos de menores.
“Temos um trabalho intenso e conjunto com a Polícia Militar e Ministério
Público para combater este tipo de ocorrência”, afirmou. Na delegacia,
até ontem, no início da tarde, havia cerca de 500 motos apreendidas.
Destas, 90% foram recolhidas por diversas irregularidades, entre elas,
furto, documentação irregular e condutores menores ou sem habilitação