quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Em lados opostos, mães sentem do


Luciana perdeu Lucas atropelado por adolescente que Valdeci entregou à polícia
Alean Rodrigues

Valdeci entregou o filho: “É doloroso, mas tinha que fazer isto para ele aprender a lição” / Luiz Tito
 


Luciana de Jesus Nery perdeu o filho Lucas, de 4 anos, atropelado por uma moto pilotada por um adolescente de 16 anos. Ao saber do ocorrido, a dona de casa Valdeci Gomes dos Santos  entregou o filho aos policiais militares, que o apresentaram na delegacia. Na vida destas duas mulheres, o sofrimento de mães que, de uma forma ou de outra, perderam os filhos.
Abalada com a tragédia, Luciana  contou que pegou o filho nos braços e o levou para casa acreditando que ele estava desmaiado. “Joguei água no rosto dele, que não respondia. Coloquei ele no carro de um vizinho e fui para o hospital, mas ele morreu antes de chegar. Meu filho morreu em meu braços”, disse, enquanto beijava a fotografia do filho.
Lucas tinha 4 anos
O adolescente fugiu do local, mas, ao chegar em casa, teve que enfrentar  a mãe, Valdeci. “Ele deixou o local com medo de ser agredido. Chegou aqui nervoso e me contou o que houve. Fui no hospital e quando soube da morte, trouxe a polícia e o entreguei”, disse. Ela afirmou que, mesmo sabendo que o que houve foi uma fatalidade, o filho deve pagar pelo ato que cometeu. “Não estou comendo nem dormindo. Sei a dor que esta família está passando. É doloroso, mas tinha que fazer isto para que ele aprenda a lição. Se erra, deve pagar pelo erro”, frisou.
O acidente aconteceu a poucos metros da casa da criança, no povoado de Sítio do Aragão, na zona rural da cidade de Santo Estêvão (a 157 km de Salvador). O enterro de Lucas ocorreu na tarde de ontem, no Cemitério Municipal do município.

Irmãos presenciaram o acidente
De acordo com familiares de Lucas, ele estava na companhia do irmão de 10 anos, que foi levar outra irmã para pegar o transporte escolar. Ao retonarem para casa, a motocicleta bateu nele, que foi arremessado a cerca de 3 metros e bateu a cabeça em uma estaca. “Ele acenou para a irmã e ao se virar, a moto, que vinha em alta velocidade, pegou ele em cheio e jogou lá na cerca”, contou uma vizinha que presenciou o acidente. O delegado Antônio Carlos Sena Costa , titular de Santo Estêvão, ouviu o adolescente e o encaminhou ao Juizado de Menores, onde ele aguarda  a decisão da Justiça. O boletim do ato infracional de homicídio culposo já foi encaminhado para o Judiciário e para o Ministério Público. “Agora, eles devem decidir se vão determinar medida socioeducativa e como deve ser cumprida”, explicou.

Sucata comprada em leilão
A motocicleta que atropelou o garoto de 4 anos pertencia ao próprio adolescente e foi comprada por ele em um leilão, em São Paulo. O veículo não poderia circular, já que é considerado sucata, conforme consta em nota fiscal do leilão, que foi entregue pelos pais do adolescente na delegacia de Santo Estêvão. Mas ele não é o único que utiliza motocicletas de forma irregular, sem habilitação ou com imprudência. Ao passar pelas ruas do município de Santo Estêvão, é comum encontrar adolescentes guiando este tipo de veículo –  muitos deles sem os devidos itens de segurança, como o capacete.

Apreensões constantes
Crianças e jovens são transportados por adultos sem o mínimo de segurança. Exemplo disso foi  uma mulher que, ontem, estava na garupa de uma moto usada para revenda de botijões de gás. No colo, ela carregava um bebê com poucos dias de vida. Ao perceber que estava sendo observado, o motociclista deixou o local em alta velocidade. O delegado Antônio Carlos Sena informou que é comum ocorrência de irregularidades envolvendo motos. Em média, a delegacia apreende 30 veículos por mês. Destes, 30% estão nas mãos de menores. “Temos um trabalho intenso e conjunto com a Polícia Militar e Ministério Público para combater este tipo de ocorrência”, afirmou. Na delegacia, até ontem, no início da tarde, havia cerca de 500 motos apreendidas. Destas, 90% foram recolhidas por diversas irregularidades, entre elas, furto, documentação irregular e condutores menores ou sem habilitação