JULIANA DEODORO
Na quarta-feira, dia 15 de agosto, a banda Ó do Forró tocava Asa Branca, última música de sua apresentação em homenagem ao centenário do rei do baião, Luiz Gonzaga, na Avenida Paulista, quando, segundo relato dos músicos, o som foi interrompido. “Um policial revoltado dizia: ‘Parou, parou, parou. Peguem os instrumentos e vão embora’”, conta Adan Oliveira, que toca zabumba e faz vocal. Eles voltaram nesta quarta-feira, 22, a fazer da calçada um salão, mas para a última apresentação na via.
Oliveira lembra que, depois de questionar o motivo da interrupção, os músicos foram avisados de que agentes da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) teriam pedido a intervenção. A Prefeitura, porém, nega que tenha havido reclamação por parte de funcionários da companhia e informa que esse não é o procedimento-padrão para queixas.
Na ocasião, os policiais militares disseram que os músicos poderiam ficar, mas que, se houvesse qualquer outra denúncia, os equipamentos da banda seriam recolhidos.
A banda chegou mais cedo à Avenida Paulista, entre as Ruas Augusta e Haddock Lobo, nesta quarta. Eles queriam “sentir o clima”, antes de decidir se tocariam. “Assim que chegamos, a primeira coisa que os comerciantes nos falaram é que iam pegar pesado com a gente. A calçada é livre, isso está errado. Conversamos e decidimos que, se era para sermos presos porque estávamos levando cultura, seríamos presos”, afirma Oliveira.
Apesar da tensão, a apresentação aconteceu sem interrupções, mas os músicos, que tinham planos de tocar todas as quartas-feiras deste mês, decidiram cancelar a última apresentação, marcada para a próxima semana. “Não queremos bater de frente. Vamos terminar com a imagem positiva, sem atritos”, explica Oliveira.
Sivaldo Fernando, também integrante da banda, apesar do desapontamento, comemora o resultado da homenagem. “Não é um protesto, é apenas uma homenagem. Nossa missão foi cumprida”, afirmou
Segundo o artista de rua Celso Reeks, as abordagens feitas pelos policiais militares acontecem pela falta de conhecimento do Decreto 52.504/11, que regulamenta as apresentações em vias pública. “Ao ver pessoas festejando, confraternizando, ou se manifestando, as autoridades estranham e acabam impedindo que as coisas aconteçam”, lamenta.
As apresentações da banda Ó do Forró deram tão certo, na visão dos músicos, que eles pensam em criar um projeto itinerante de homenagens. A próxima será a Dominguinhos. “Meu sonho é me apresentar dentro do metrô. As pessoas saem do vagão e encontram uma banda de forró”, conta Oliveira.