Morrer sem ar deve ser uma das
piores formas de morrer. Se você fuma, imagine isso antes de acender o
próximo cigarro e considere parar de fumar o quanto antes.
Pensar assim pode parecer mórbido, mas esta imagem é uma ameaça real
para os quase 8 milhões de brasileiros portadores de Doença Pulmonar
Obstrutiva Crônica (DPOC), uma condição progressiva causada
predominantemente pelo fumo.
Apesar da palavra pulmonar no nome, a DPOC é uma doença sistêmica, ou
seja, compromete o corpo todo. Associada a uma reação inflamatória
exagerada – uma resposta do organismo a partículas e gases nocivos aos
pulmões – ela gera a limitação progressiva do fluxo de ar que entra e
sai dos pulmões, e é responsável por 40 mil mortes ao ano no Brasil, o
que, estatisticamente, resulta em uma pessoa a cada quatro horas.
As consequências da gradual redução no ar aspirado e expirado começam
de forma discreta. Os sintomas são tosse e catarro crônicos, cansaço e
falta de ar. Com o tempo, o quadro evolui para uma bronquite crônica, e
vai se agravando até chegar ao estágio mais avançado da doença, o
enfisema pulmonar. E os problemas não param por aí: a DPOC pode gerar
depressão e fadiga muscular, e aumenta em duas vezes o risco de infarto e
acidente vascular cerebral (AVC) .
“Muitas pessoas com a doença vão parar no hospital por conta de
problemas cardiovasculares gerados pela DPOC. E um grande número delas
volta para casa medicada para o coração, mas sem ter a doença pulmonar
diagnosticada”, diz o pneumologista José Jardim, da Escola Paulista de
Medicina.
O diagnóstico da DPOC é o grande entrave para mudar o cenário da doença
no Brasil e no mundo. Ele é feito com base no histórico do paciente e
com um teste chamado espirometria . O grande problema, afirma Jardim, é
que a maioria dos médicos nem chegam a desconfiar da doença quando
atende pacientes com problemas respiratórios. Hoje, dos quase 8 milhões
de afetados por ela no País, apenas 350 mil estão fazendo tratamento –
ele é feito com broncodilatadores, remédios de ação prolongada cujo
objetivo é dilatar os brônquios e aumentar o fluxo de ar nos pulmões.
Nem todos os casos de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica, no entanto,
são consequência do fumo ativo ou passivo. Uma parcela dos doentes
(cerca de 20%) tem DPOC por exposição frequente e prolongada a agentes
químicos, poluição, poeira e fumaça proveniente da queima de madeira
(fogão e forno à lenha).
“Mas a grande maioria dos casos é causada pelo cigarro. O tabagismo não
é um vício nem um hábito, é uma doença. E 100% de quem fuma terá algum
mal relacionado ao tabaco. A DPOC é um deles” alerta o pneumologista
Roberto Stirbulov, presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e
Tisiologia (SBPT).
A última estatística mundial da entidade divulgada pela Organização
Mundial de Saúde (OMS) sobre a DPOC mostra que em 2005 a doença matou 3
milhões de pessoas, o equivalente a 5% do total de mortes daquele ano.
Desde então os números vêm subindo, impulsionados pelo adoecimento da
legião de fumantes e ex-fumantes com mais de 20 anos de tabagismo,
quando a DPOC geralmente começa a se agravar. A DPOC já é a 5º causa de
morte no País e será, em menos de duas décadas, a terceira a mais matar
pessoas em todo o mundo, estima a OMS.
Fonte: IG/Saúde.