domingo, 19 de agosto de 2012

A Idosos buscam testes de HIV



MARIANA LENHARO
Mais idosos passaram por testes de HIV na cidade e no Estado de São Paulo em 2011, em comparação com o ano anterior. É o que mostram levantamentos feitos a pedido do Jornal da Tarde por três laboratórios privados e por um Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids, da secretaria estadual de Saúde.
O fenômeno reflete, segundo especialistas, mudanças comportamentais nesse grupo, que passou a prolongar a vida sexual com a ajuda de medicamentos contra impotência, como o Viagra.
No Laboratório Delboni Auriemo, por exemplo, foram feitos 3.730 testes de HIV em idosos da capital em 2011. O aumento foi de 26,3% em comparação com 2010, quando foram registrados 2.952 testes.
Outro laboratório a registrar fenômeno semelhante foi o Salomão-Zoppi Diagnósticos, também na capital. Lá, a porcentagem de crescimento do exame na terceira idade foi de 46% entre 2010 e 2011. Quando a comparação é feita entre os cinco primeiros meses deste ano em relação aos cinco primeiros meses do ano passado, constata-se um aumento de 75% nos pedidos de testes.
No Lavoisier, um levantamento feito em todo o Estado de São Paulo com 11.739 pessoas mostrou que, entre 2010 e 2011, foi registrado aumento de 28,6% em exames feitos por pessoas com mais de 60 anos de idade.
Se em 2010 2.937 idosos procuraram o laboratório para saber se tinham HIV, em 2011 esse número subiu para 3.779.
Para a infectologista do Lavoisier Maria Lavinea Figueiredo, a aids é um problema sério entre pessoas com idade acima de 60 anos por causa do estágio imunológico mais frágil dessa população, uma vez que a doença ataca justamente o sistema de defesa do corpo. Além disso, o próprio tratamento com antirretrovirais pode agravar problemas típicos da idade avançada, como colesterol alto, diabete e hipertensão.
Outro problema é que o idoso, muitas vezes, acredita que a aids é uma doença que atinge apenas os mais novos. “Hoje em dia eles têm acesso a remédios que permitem que tenham relações sexuais, apesar da idade avançada. E ficam mais suscetíveis a contrair doenças sexualmente transmissíveis.”
Sem estigma
Para o diretor técnico do laboratório de patologia clínica do Salomão-Zoppi Gianfranco Zampieri, o teste de HIV está deixando de ser estigmatizado. “Antes, o médico ficava constrangido em recomendar. Hoje, já faz parte dos exames de rotina”, lembra.
Já no Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids, o número de idosos testados para aids passou de 75, em 2010, para 101 em 2011. O aumento foi de 34,6%, mas, de acordo com a assistente de gerência do núcleo de DST e do Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA), Angela Maria Peres, esse ainda não é o público principal do núcleo – que costuma realizar mais de 3 mil exames por ano.
“Quem sempre nos procurou foi a população mais vulnerável: homens que fazem sexo com homens, travestis, transexuais”, lembra Angela. “Essa população que tem mais de 60 anos só passa a nos procurar quando tem alguma indicação de que o parceiro ou a parceira é HIV positivo”, completa.
Para o presidente do Grupo Pela Vidda, Mário Scheffer, qualquer aumento de testagem de HIV deve ser comemorado. “Hoje, a testagem passa a ter um duplo sentido. Além do benefício pessoal, já que o quanto antes diagnosticada a doença, mais a pessoa vai se beneficiar com o tratamento, o paciente que descobre precocemente também vai evitar transmitir a doença para outros, promovendo um maior controle da epidemia