Há 29 dias Paulo Cícero de
Lima, 55 anos, está caminhando com uma cruz de 40 quilos sob as costas. O
protesto surgiu após ficar 16 anos preso por um crime que não cometeu. Em 1993,
ele foi acusado de ter matado uma jovem de 21 anos no interior de São Paulo a
marretadas. A ação teria acontecido em frente a uma criança de 4 anos.
Paulo foi condenado e passou
por mais de 14 presídios desde então. "Não fiz aquilo eu estava passando
pelo local e a polícia me pegou. Estava com a roupa suja de sangue de uma
galinha que tinha matado. Não quiseram me ouvir", reclama. Por volta das
17h45 desta segunda-feira ele caminhava pelo Eixinho Sul, na altura da 210.
O andarilho chegou à capital
federal no fim da noite deste domingo pela BR 040. "Quero que meu processo
seja reaberto. Não vou embora enquanto
isso não acontecer. Vou tirar essa mancha na minha vida", argumenta.
Perdas
Paulo deixou a cadeia em
2009. Desde então ele tenta mudar sua história. "Voltei ao local do crime,
conversei com as pessoas e muita gente ainda está viva. Fui acusado por um
homem que se dizia policial, mas não era. Me contaram que na verdade o
assassinato foi um acerto de contas", explica o homem.
Durante os últimos dias,
Paulo dormiu na rua e contou com a ajuda de pessoas desconhecidas. "Comi e
bebi o que me ofereceram. Passava a noite na beira da pista. Tenho muito a
agradecer", disse após mais de 10 horas de caminhada nesta segunda. Ao
todo, Paulo passou por São Paulo, Minas Gerais e Goiás.
Segundo o andarilho, o
protesto surgiu após um sonho. Ele teria que carregar a cruz até a Catedral
Metropolitana de Brasília para ter o problema resolvido. "Sou devoto de
Maria. Sonhei que se eu carregasse a cruz ela me intecederia por mim. Acredito
que quando eu chegar lá (na Catedral), ela vai tocar no coração de alguém para
me ajudar", explica. O objeto custou cerca de R$ 200 e é feito em madeira
e possui uma roda para ajudar no traslado.
Abandono
"Muitos sonhos ficaram
soterrados nesse estigma de assassino. Perdi o contato com meus filhos, por
exemplo", conta o pai de quatro filhos e oito netos. Na noite do crime,
Paulo recorda de um desentendimento com a ex-mulher. "Saí de casa me
deparei com o crime e me enrosquei nesse problema", lamenta.
Dentro da cadeia Paulo diz
que viveu pressionado pelo medo de os outros detentos saberem da história.
"Os próprios agentes falavam que se eles ficassem sabendo iriam me matar.
Tinha muito medo", diz. Paulo deixou a cadeia em 2009. Após o período
preso, trabalhou como ajudante de serviços gerais em algumas empresas no
interior de São Paulo. Anres de encarar o desafio, ele estava morando em
Jundiaí com a mãe e os irmãos.