Se fosse homem, o que iriam dizer?
Mas, minha nossa, foi uma mulher, Park Geun-hye, solteira, 61 anos,
há menos de um mês empossada como presidente da Coreia do Sul — na
prática, um país do Primeiro Mundo em todos os sentidos — quem assinou
um espantoso decreto que entra em vigor amanhã, e que na prática proíbe
as mulheres de usar minissais em públicdo, sob pena de abordagem pela
polícia e multa equivalente a 90 reais.
O pretexto da medida, ridícula em pleno século XXI, sobretudo num
país moderno, com uma economia que ultrapassa 1,5 trilhão de dólares, é
coibir a “superexposição” das “pessoas” em público.
Na vida real, atingirá as mulheres, no auge da moda de roupas curtas
no país sob influência, principalmente entre adolescentes e jovens, dos
grupos femininos de K-pop , a salada de ritmos típica da Coreia do Sul
cujo maior sucesso é Gangnam Style, do rapper PSY.
A medida parece coisa do vizinho do Norte, a ditadura comunista cuja
principal atividade consiste em proibir os cidadãos de fazer
coisas. Mas, num país sério, humilha as mulheres por implicitamente
fazer um julgamento moral sobre roupas curtas e, sobretudo, constitui
uma intolerável intervenção do Estado na vida das pessoas.
Não sem razão, está provocando, obviamente, polêmica – que se
transforma em fúria entre cantoras, atrizes e outras celebridades. (
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A presidente Park Geun-hye no dia de sua posse: medida moralista e ridícula (Foto: Lee Jae-won / Reuters)
Ao adotá-la, a presidente Park faz lembrar medidas moralistas e
retrógradas de seu pai, o ditador Park Chung-hee, que chegou ao poder
por meio de um golpe militar em 1961 e só deixou o comando do país 18
anos depois, ao ser assassinado pelo chefe do equivalente da CIA na
Coreia do Sul.
O espantoso é que a proibição constou da pauta da primeira reunião de
gabinete da nova presidente, semanas atrás. Isso tendo uma série de
problemas cabeludos pela frente — a começar pelo regime delirante e
histérico do Norte, governado por um jovem inexperiente de 28 anos cuja
única credencial é ser filho e neto dos ditadores anteriores, mas
montado num arsenal atômico, o qual, por sinal, ameaçou explodir um
míssil sobre… os Estados Unidos, principal aliado da Coreia do Sul.
Espera-se que a presidente não imite o pai em outros terrenos. Ela já
chegou a dizer que o golpe de Estado de 1961 foi “necessário” para a
Coreia do Sul mas, felizmente, em duas ocasiões — em 2007 e no ano
passado, já de olho nas eleições que a levaram ao poder em fevereiro –,
pediu perdão público, em nome do ditador Park, pelas violações de
direitos humanos ocorridas ao longo de seu período.