Muitas vezes as pessoas só são homenageadas depois que morrem; isso deixa a nos
entender que não somos merecedores de
homenagens. Contrário, pois, a esse princípio, quero homenagear,
hoje, em vida, um grande líder do passado e grande
homem do presente: José Bastos de
Santana.
Só a extrema pobreza espiritual seria capaz de desconhecer o
enorme prazer de ser grato. Este meu “escrito” é, também, um testemunho pessoal: É miséria morrer de fome nas favelas. Mas é miséria, também, deixar o espírito morrer à míngua da honestidade de proclamar o que há de grande e belo nas ações humanas.
“Nenhum povo tem a consciência de seu destino e a certeza do seu valor se ignora seu passado”. - A História de Santo Estevão não pode parar no tempo, se abstendo de juízos valorativos de seus filhos ilustres. Longe de mim, pois, a pretensão de acrescentar novos subsídios a nossa história. O que busco com meu escrito, é tão somente romper o silêncio e propor justa homenagem a um santestevense do
quilate de José Bastos de Santana. Um
socialista sacerdotal.
José Bastos foi um líder de visão capaz de
associar a lógica e a intuição. Soube unir mentes e corações num processo de liderança apaixonante e levar a
paixão para uma realidade de vida na
comunidade de Santo Estevão. Ele nasceu líder; contudo não se furtou de aprender, mais ainda, com o povo, sobretudo com os mais
jovens, a fazer política de excelência...
José Bastos nunca se deixou trair pela vaidade excessiva; é um líder popular, que nunca se permitiu
inclinar para o populismo, que é a vistosa máscara da demagogia.
Sempre pautou suas palavras com verdade, evitando sempre falar em público aquilo que poderia trazer-lhe desconforto na intimidade.
O líder não precisa, necessariamente, ser
culto, mas deverá ser sábio e mirar-se sempre em exemplos de homens vencedores... Zé Bastos é um político crítico do mundo; perspicaz e observador, com base na
realidade que o rodeia. Não foi buscar esse estilo de liderança política em nenhuma Escola
Superior; conquistou ao longo dos tempos, a partir de uma trajetória de realizações,
marcada pela retidão moral
e ética. Sempre foi um homem político em pleno sentido, com ênfase na vida prática. Por maior que fosse a sua tormenta, tinha
serenidade sempre; jamais renunciou ao equilíbrio, a sensatez, a
justiça e retidão para com os
companheiros...
Renunciou do seu projeto político nos anos 70, para dar preferência a um jovem, pelo alcance dos benefícios que causaria ao mundo moderno... Com fé numa revolução mágica da juventude, escolheu o jovem Advogado, Almir Fonseca, para candidato
a Prefeito, se opondo aos mandatários da época, que representavam a oligarquia ditatorial da contracultura e a falsa
percepção de progresso cultural político...
Zé Bastos era um vanguardista que acreditava na juventude
como a força mais sutil do mundo e buscava nos jovens, valores
representativos. Suas reuniões eram democráticas e dialogais; nunca deixou a individualidade
triunfar sobre a coletividade. Tinha uma percepção sutil do que é justo e um profundo respeito aos princípios. Sabia compartilhar razões e fundamentos; mantinha respeito para com as idéias dos outros e sabia harmonizar as palavras, os sentimentos e as ações.
Líder da oposição, Presidente do MDB, serviu a política com gosto. Ele representou um momento da história de Santo Estevão que
muitos desconhecem. Não
abdicou dos seus princípios, sobretudo éticos. Não abdicou das suas pretensões de
transformação da sociedade para melhor.
Defendia que as alianças tinham que ser pautadas de tal maneira a não comprometer o objetivo do
processo, tampouco colocar em risco os princípios ideológicos socialista.
Ele foi protagonista da
transformação; o precursor da mudança social-política de Santo Estevão. Com
o seu beneplácito, tornaram-se políticos: Almir, Renato,
Antenor, Fonseca, Claudiosé, José Sobral, Gaguinho, Antonio de Pua e muitos outros. Com o
seu apoio, foram eleitos quatro vereadores pelo MDB: Nelly Lobo, Chiquinho,
Cazuza e Julinho.
Enquanto outros chefes
políticos apoiavam Deputados, “raposas” velhas da política, José Bastos, no ano de 1978, hipotecou
o seu incondicional apoio a Luciano Ribeiro, jovem revolucionário, com pouco mais de 30 anos, para Deputado Estadual, e alcançou com louvor, a posição de mais votado no município, ostentando a rara
sensibilidade de perceber o quanto um gesto pode ser importante para uma
juventude.
Aos 93 anos, Zé Bastos viu de tudo; no passado
ouviu o Rádio noticiar: “Getúlio suicidou-se”; “Jânio renunciou” “Os bons tempos de Juscelino Kubitschek” e, como num pesadelo, a população festejando a vitória da ditadura, com velas acesas e rosários nas mãos, contrastando com a política atual, dessa mistura de atraso e modernização configurando-se em política de sujas
alianças.
Zé Bastos é virtuoso. A sua virtude maior é a generosidade. Tem uma disposição congênita para fazer o bem e
importar-se com os outros. É sublime a sua benevolência e vontade de fazer deste, um mundo melhor para os que lhe são caros. É um ser humano que tem sentimento e bom coração. É um permanente cavalheiro; um mestre na arte do bem receber; um anfitrião impecável.
Tive o privilégio de conviver e poder contar com sua amizade magnânima. Homenageá-lo, é mais que um dever; é minha obrigação. Faço-o com veneração e respeito.
Ele está no panteão da nossa história pela grandeza das suas qualidades.
Que o Cristo Jesus
prolongue os seus dias aqui na terra com saúde e paz.
Obrigado pela sua
amizade, velho guerreiro!!!
Por Manuel Lobo