Loções, xampus, cremes, pílulas e laser. Quando nada disso faz mais
efeito e os cabelos vão embora para sempre, ainda resta uma saída: o
microtransplante de pelos do próprio paciente. Na técnica comum, eles
são retirados da nuca e das têmporas, porque estes fios não têm
tendência à queda. O problema é quando estas áreas já não apresentam um
grande número de fios. Médicos da Universidade da Califórnia encontraram
a solução: usar os pelos da perna. A técnica, publicada na revista
científica, revista “Archives of Dermatology”, tem dado bons resultados e
já chama a atenção de cirurgiões brasileiros.Os primeiros especialistas
a aplicarem a técnica dizem que seus pacientes ficaram satisfeitos. Um
deles, o médico Sanusi Umar, do Departamento de Dermatologia da
Universidade da Califórnia, afirma que usar os pelos da perna
(geralmente da parte de trás) não é a primeira opção em casos de
microtransplante para tratar a calvície, mas é uma alternativa quando o
indivíduo não conta com muitos fios na nuca ou na parte lateral da
cabeça. Como último recurso, ainda existe a possibilidade de
transplantar pelos do peito e das costas.
Veja como é o implante
Para
Miguel Sorrentino, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia
Plástica e especialista há 25 anos em transplante capilar, a nuca e as
têmporas são as melhores áreas para se retirar fios para transplantes,
inclusive porque costumam crescer igualmente.
— Nos casos em que o
indivíduo não têm uma área doadora de folículos na cabeça, é possível
usar os pelos das pernas. Em teoria, servem até fios extraídos de outras
áreas do corpo. Estes são removidos desde a raiz: é preciso
transplantar inclusive os bulbos. A anestesia é local com sedação, ou a
critério médico. Por isso, quando se usam pelos das pernas, é importante
levar em conta o aspecto estético, porque, no local de onde se retirou o
fio, não crescerá outro — explica Sorrentino, acrescentando que
qualquer cirurgião plástico especializado em transplante capilar é capaz
de realizar a técnica de implante de pelos das pernas.
Esta é uma
boa notícia, afirma o empresário Maurício Oliveira, de 38 anos. Ele,
que já passou por uma cirurgia de microtransplante capilar e até pensa
em fazer outra, começou a perder seus cabelos aos 27 anos, numa
velocidade tal que não houve tratamento clínico que pudesse dar jeito.
Saber que, se precisar, terá de onde tirar mais fios para doar para si
mesmo, é um alívio, brinca.
— Tentei tudo que existe no mercado
para evitar a queda de cabelos; apelei até para simpatias, e nada deu
certo. Depois de passar anos fazendo malabarismos com o pente, jogando
um fio para lá e outro para cá, resolvi o meu problema com o transplante
capilar. Nos primeiros dias após a cirurgia, o desconforto é grande. Eu
dormia sentado, mas valeu a pena — conta Maurício.
Na técnica
apresentada pelos americanos, eles conseguiram implantar nos pacientes,
em média, mil folículos retirados de suas próprias pernas. Porém,
Sorrentino diz que a média fica em torno de 500. No local da extração,
aparecem pequenos pontos vermelhos das cicatrizes. Uma desvantagem é que
os pelos das pernas não atingem o mesmo tamanho dos fios dos cabelos,
porque carregam as informações da região do corpo de onde vieram,
explica Sorrentino. Além disso, eles têm espessura diferente e são mais
ondulados, o que pode ser um problema se a pessoa tiver cabelos lisos:
—
A técnica de transplante de pelos das pernas ainda é limitada, e a
tendência é que o resultado não tenha a mesma naturalidade que se
consegue quando se utiliza folículos da própria cabeça. Entretanto, não
deixa de ser uma alternativa válida. Hoje, os microtransplantes para
tratar calvície proporcionam resultados naturais, e estamos evoluindo.
Antes
de tentar transplantes capilares, é melhor consultar o dermatologista
sobre opções clínicas disponíveis, até para saber se a calvície já se
instalou ou a queda de cabelos foi acarretada por outro motivo, como
estresse. A dermatologista Karla Assed lembra que as diferenças são o
tipo dos fios que caem e a forma de rarefação. Na calvície, a queda é
continuada, e há substituição por fios cada vez mais finos e menores,
até a interrupção de seu crescimento e redução de sua densidade. Na
queda comum, não há rarefação.