domingo, 17 de março de 2024

Irmã Adele, a freira que dá esperança aos invisíveis da periferia de Salvador



Pelo portão principal do Centro Nova Semente, inúmeras pessoas chegam em busca de alimentos, roupas, orientação ou simplesmente um abraço. Irmã Adele Pezone, a última freira da Congregação das Irmãs Missionárias de Jesus Redentor no Brasil, dedica-se incansavelmente para garantir que ninguém saia dali com a barriga vazia, as mãos vazias ou o coração vazio.

Às 8h30min da manhã, o porteiro da grande casa de acolhimento, localizada no bairro da Mata Escura, periferia de Salvador, já está autorizado a abrir o portão para quem chegar. Antes desse horário, a dinâmica religiosa já está em andamento, com as orações matinais das laudes e um momento de meditação pessoal. Embora não haja uma grande aglomeração, a presença de pessoas em situação de vulnerabilidade social é constante; muitas vezes, elas não vêm sozinhas, pois outros que compartilham da mesma realidade também estão por perto. São familiares de detentos, ex-detentos, em busca de apoio para se reintegrarem à sociedade. Chegam cansados, famintos e necessitados de cuidados. Na porta da sala principal, avista-se a missionária italiana, que se aproxima dos 85 anos; suas mãos nunca estão vazias, seu semblante nunca demonstra insatisfação ao receber quem a procura.

Apesar do cansaço da idade avançada e das marcas do tempo em seu rosto, a freira descarta a ideia de retornar ao seu país de origem, a Itália. Ela reconhece que as demandas daqueles que ela assiste não param, e mais voluntários para trabalhar com os mais pobres são urgentemente necessários. Para ela, a miséria não descansa, e a "chaga" da discriminação e do preconceito ainda estão presentes.

Quem vive nas proximidades do bairro Mata Escura, Jardim Santo Inácio e regiões adjacentes sabe que pode contar com a religiosa. "Uma irmã de idade avançada, mas com entusiasmo suficiente para abrir a porta de casa e acolher quem busca algum tipo de ajuda, ou também pegar o carro e levar algum donativo para quem está faminto", relata José Alves, um dos colaboradores do espaço.

A missionária não esconde os constantes embates que enfrenta para continuar sua missão na capital baiana. Embora as autoridades de sua Congregação na Itália já a tenham convidado para retornar ao país de origem, a obediência à sua consciência a faz perceber que ainda há muito para ser feito.

O comportamento da Irmã Adele em enfrentar tais desafios reflete a importância de ser fiel à própria consciência e ao chamado interior. Sua dedicação sincera e seu espírito de sacrifício em prol dos outros ressaltam o valor da liberdade interior na vida religiosa, onde a obediência não é apenas seguir ordens, mas acompanhar o chamado de Deus, mesmo que isso signifique enfrentar desafios significativos. (Clécia Rocha)