Pelo portão principal do Centro Nova Semente, inúmeras pessoas chegam em busca de alimentos, roupas, orientação ou simplesmente um abraço. Irmã Adele Pezone, a última freira da Congregação das Irmãs Missionárias de Jesus Redentor no Brasil, dedica-se incansavelmente para garantir que ninguém saia dali com a barriga vazia, as mãos vazias ou o coração vazio.
Às 8h30min da manhã, o porteiro da grande casa de acolhimento, localizada no bairro da Mata Escura, periferia de Salvador, já está autorizado a abrir o portão para quem chegar. Antes desse horário, a dinâmica religiosa já está em andamento, com as orações matinais das laudes e um momento de meditação pessoal. Embora não haja uma grande aglomeração, a presença de pessoas em situação de vulnerabilidade social é constante; muitas vezes, elas não vêm sozinhas, pois outros que compartilham da mesma realidade também estão por perto. São familiares de detentos, ex-detentos, em busca de apoio para se reintegrarem à sociedade. Chegam cansados, famintos e necessitados de cuidados. Na porta da sala principal, avista-se a missionária italiana, que se aproxima dos 85 anos; suas mãos nunca estão vazias, seu semblante nunca demonstra insatisfação ao receber quem a procura.
Apesar do cansaço da idade avançada e das marcas do tempo em seu rosto, a freira descarta a ideia de retornar ao seu país de origem, a Itália. Ela reconhece que as demandas daqueles que ela assiste não param, e mais voluntários para trabalhar com os mais pobres são urgentemente necessários. Para ela, a miséria não descansa, e a "chaga" da discriminação e do preconceito ainda estão presentes.
Quem vive nas proximidades do bairro Mata Escura, Jardim Santo Inácio e regiões adjacentes sabe que pode contar com a religiosa. "Uma irmã de idade avançada, mas com entusiasmo suficiente para abrir a porta de casa e acolher quem busca algum tipo de ajuda, ou também pegar o carro e levar algum donativo para quem está faminto", relata José Alves, um dos colaboradores do espaço.
A missionária não esconde os constantes embates que enfrenta para continuar sua missão na capital baiana. Embora as autoridades de sua Congregação na Itália já a tenham convidado para retornar ao país de origem, a obediência à sua consciência a faz perceber que ainda há muito para ser feito.
O comportamento da Irmã Adele em enfrentar tais desafios reflete a importância de ser fiel à própria consciência e ao chamado interior. Sua dedicação sincera e seu espírito de sacrifício em prol dos outros ressaltam o valor da liberdade interior na vida religiosa, onde a obediência não é apenas seguir ordens, mas acompanhar o chamado de Deus, mesmo que isso signifique enfrentar desafios significativos. (Clécia Rocha)