domingo, 2 de janeiro de 2022

Quase metade dos militares da FAB e do Exército não se vacinaram conta a Covid

 


Quase metade dos integrantes do Exército e da Força Aérea Brasileira (FAB) não completaram o esquema vacinal contra a Covid-19. O número de militares que recusaram a tomar o imunizante é de 32,2 mil (15%) e de 4,3 mil (6,6%) nas respectivas Forças (18,79% nas duas juntas).

Dados obtidos com exclusividade pelo Metrópoles, parceiro do Bahia Notícias, por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), cerca de 121,2 mil integrantes do Exército e 36,5 mil da Força Aérea Brasileira (FAB) foram completamente imunizados contra a Covid. Na prática, isso representa 56,3% e 54,9%, respectivamente, do total de militares das duas Forças.

 

A Marinha se recusou a fornecer a informação ao alegar não possuir os dados sobre vacinação. Os números foram pedidos e obtidos pelo Metrópoles em novembro.

 

Em comparação, mais de 142 milhões de brasileiros, o equivalente a 78,3% da população com mais de 12 anos, foram devidamente imunizados contra a Covid. Esses números foram atualizados nessa quinta-feira (26/12) pelo consórcio de veículos de imprensa.

 

As Forças Armadas exigem que seus servidores se vacinem contra a febre amarela, tétano e hepatite B – mas não contra a Covid.

 

No total, 182,9 mil militares da ativa do Exército e 62,1 mil da Aeronáutica tomaram ao menos uma dose da vacina.

 

Os dados revelam ainda uma baixa taxa de militares que tomaram a dose de reforço, o que, segundo especialistas, pode estar associada a um alto contingente de jovens na corporação.

 

Enquanto 24,5 milhões de brasileiros, o equivalente a 13,5% da população do país, já receberam uma dose extra da vacina, pouco mais de 2 mil militares do Exército (0,9%) completaram a imunização; na FAB, foram 544 (0,8%).

 

Para o epidemiologista da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Pedro Hallal, os dados confirmam a hipótese de que o negacionismo, que tenta se espalhar pelo Brasil. “Infelizmente, tem se espalhado mais nas Forças Armadas do que na sociedade civil”, aponta ele.

 

O Ministério da Defesa esclareceu, sobre a vacinação contra a Covid-19, que “os militares das Forças Armadas seguem as mesmas regras adotadas para a população brasileira”.

 

A reportagem questionou se a pasta fez alguma campanha interna para incentivar seus servidores a se vacinarem, mas não houve respostas. Os comandantes do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira; da Marinha, almirante Almir Garnier Santos; e da Aeronáutica, tenente-brigadeiro Carlos Baptista Júnior, também foram procurados para informar se foram vacinados contra a Covid, mas também não se manifestaram.

 

Até a mais recente atualização desta matéria, a FAB não havia respondido os questionamentos da reportagem.

 

A baixa taxa de vacinação entre os militares contrasta com a alta quantidade de infectados pelo novo coronavírus nas fileiras das Forças Armadas. Como revelou o Metrópoles, em novembro do ano passado, ao menos 67,4 mil militares foram diagnosticados com a Covid-19, e 175 morreram em decorrência da doença. Esses dados incluem a Marinha.

 

Ao todo, as Forças Armadas – Marinha, Exército e Aeronáutica – têm 359 mil militares. Na prática, isso significa que 18,8% do efetivo total foi diagnosticado com o novo coronavírus (Sars-CoV-2).

 

Ou seja, praticamente um a cada cinco militares pegou a doença. A taxa de contaminação é quase o dobro se comparada à da população em geral.

 

O médico infectologista Julival Ribeiro, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), questiona se os militares, durante a pandemia, cumpriram as medidas preventivas contra a disseminação do novo coronavírus, como o uso de máscara e o distanciamento mínimo. “Se isso não aconteceu, a probabilidade de transmissão vai ser maior entre eles”, explica o médico.

 

Ribeiro ressalta também que os militares das Forças Armadas são, em sua maioria, jovens. Isso ajuda a explicar a alta contaminação e, também, paradoxalmente, o baixo número de mortes entre os membros do Exército, da Marinha e da Aeronáutica.

 

Levando em conta as 175 mortes registradas entre os militares, a taxa de letalidade é de 0,26%; a mesma taxa, entre a população geral do país, é de 2,8%.