domingo, 21 de novembro de 2021

O anonimato e as exigências com quem cuida

 


Não sei a razão, mas como protagonistas solitários desse drama familiar somos relegados ao anonimato, sem reconhecimento ou ajuda, nos consumindo juntos, até um fim sem perspectivas. Faço tal observação com base em relatos de filhos e esposas que cuidam de algum familiar com diagnóstico degenerativo ou em idade avançada e próximos ao fim da vida. 

Tomo como exemplo um salão de teatro, nele podemos encontrar os atores e aqueles que trabalham por trás das cortinas. Quem trabalha escondido tem a finalidade de encantar a plateia presente e são os responsáveis pelo sucesso ou insucesso da peça em cartaz. 

No caso de quem cuida, vamos dizer que são os que trabalham atrás das cortinas do espetáculo e quanto aos pacientes que cuidam, podemos associar a peça de teatro. 

O familiar que hoje cuida de um certo alguém sai da plateia e assume seu lugar atrás das cortinas quando a vida o obriga a assumir a tarefa de condutor da vida do outro. Neste exemplo, o protagonista será o familiar/paciente, que deverá sempre atender aos anseios de quem o assiste, a brecha para crítica não deverá existir. 

 A análise feita com um espaço teatral é apenas para mostrar que na vida de cada paciente bem cuidado ou não, alegre ou triste sempre tem um alguém responsável pelo sucesso e insucesso, sendo este último o mais apontado.  

Lamentavelmente a sociedade insiste em fazer de conta que o doente é personagem independente e isolado.  O cuidado com o paciente é sempre cobrado por todos que dele se aproximam, mas é interessante saber:  quem cuida de quem está cuidando?  

Confesso que em quatro anos de cuidadora informal eu só encontrei um profissional preocupado com a saúde física e mental do cuidador, trata-se do psicólogo e professor Ewerton Helder, que nas proximidades do Rio Amazonas exerce de maneira muito grandiosa a prática da atenta escuta com aqueles que possuem um grito entalado na garganta, que muitas das vezes só necessitam de um espaço para dizer que também é gente. O olhar do amazonense para aqueles que são forçados a ficarem no anonimato é um alento para a maioria dos que cuidam informalmente e quase sempre sozinhos.  

Asseguro por mim e por muitas que usufruem da atenção do Ewerton, que a prática da escuta especializada para quem cuida tem sido "remédio" para o exercício do contínuo cuidar. O principal sustentáculo do cuidador se encontra nos ouvidos dos profissionais de 
Psicologia.  

Seguindo com o questionamento de quem cuida do cuidador, ressalto que é comum escutar: " você é   forte, não pode adoecer...". Engana-se quem pensa que tal afirmativa vai nos tornar mais fortes ou nos engrandecer ao ponto de nos sentirmos como super mens ou no caso das cuidadoras, a mulher maravilha. Tem cuidadores que a infeliz colocação chega como uma pedrada no ouvido, pois de quem cuida é tirado o direito de ser gente, de se cuidar. 

Finalizo com um questionamento que persisto em buscar resposta: Quem cuida do cuidador? 


Foto: Psicologia Online

Texto: Clécia Rocha