terça-feira, 16 de março de 2021

‘Meu pai deve estar se revirando no túmulo’, diz filho de Anísio Teixeira sobre situação da educação no Brasil

 

O médico psiquiatra e professor, Carlos Teixeira, foi o entrevistado de hoje (16) no Jornal da Cidade. Na conversa com James Martins o professor não falou sobre psiquiatria, mas lembrou da memória do pai, Anísio Teixeira, nome importante para a formação da educação pública brasileira. Sobre a situação atual da educação no país, Carlos não tem dúvidas: “Meu pai deve estar se arrepiando no túmulo”, acredita. 

O psiquiatra lembra dos conceitos que o pai defendia como fundamentais para uma boa educação. “Para meu pai educação precisava treinar a crítica. Educar alguém sem exercitar atitude e atividade crítica é de um absurdo e antagonismo total ao que seria educação. A educação no Brasil está mais do que desprezada. Estamos vivendo um momento em que os valores de cidadania, se assemelham à Idade Média. A educação não está sendo levada a sério”, acredita Carlos.

Falecido em março de 1971, Anísio Teixeira foi figura fundamental para a formação da educação pública brasileira. O filho lembra de como o trabalho do pai sofreu com críticas. “Meu pai era um homem, simples, extremamente modesto, que tinha a educação como seu projeto essencial, principal. Para falar de meu pai, seguramente é preciso falar de educação. Ele sofreu muito com críticas, às vezes justificáveis, com ideias tidas como utópicas, inviáveis na prática, o achavam muito teórico”, relata.

Outro ponto curioso quando se fala de Anísio é sua posição política. “Meu pai nunca foi comunista, nunca militou em partido político. Ele era um livre pensador como ele mesmo se intitulava, o que implicava em seguir suas ideias até onde elas o levassem. Nesse sentido, meu pai seria, quando muito, um homem de esquerda. Mas comunista não. Lutava por uma educação eficiente, prática, contrária ao modelo tradicional, acadêmico e verbal”, conta Carlos. Mais cedo, o professor João Augusto de Lima Rocha conversou com Mário Kertesz e Malu Fontes sobre seu livro, que também conta parte da história de Anísio.

Na memória do filho, quando o assunto é educação, o desejo do pai de levá-la ao “patamar de maior problema político do Brasil”. A forma de educar com senso crítico passava também por dentro de casa. “Meu pai era radical no sentido de ir à raiz da questão, adorava discutir e por uma discussão ele ia até o fim. Tinha uma lógica implacável e era difícil discutir com ele. E se você concordasse com ele de pronto, ele nao gostava nao. Gostava de ser contrariado. De contra argumentar e quando não havia ele mesmo promovia essa argumentação. Ele dizia que não tinha compromisso civil com suas ideias. Dizia que adorava mudar de ideia, de pensamento. A verdade para ele é como para a ciência: relativa”, conta.  Perguntado do que mais sente saudades ele responde emocionado. “Das conversas com ele. Ele era um homem de um diálogo fascinante” (Metro)