Por Rose Amorim
Demarcação
de terras, desmistificação dos povos indígenas e a vida desses estudantes nas
universidades brasileiras foram os assuntos debatidos na noite da última
sexta-feira, 12, na sala 04 do prédio de Comunicação, pelos alunos do terceiro
semestre dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Faculdade
Anísio Teixeira. O debate teve também a participação de indígenas da etnia
Kaimbé e Tumbalalá e foi mediado pelo professor Ricardo Aragão.
Formado em Filosofia, militante das causas do
seu povo, Ângelo Kaimbé ressaltou para os alunos, a importância da demarcação
de terras indígenas. Segundo ele a autonomia do povo indígena está no
território. “Se a gente não tem nosso território, não somos nada. Temos a terra
não como um bem de consumo, mas como algo que faz parte de nós“, afirma. Além
disso, Ângelo Kaimbé explica que existe uma complexa mitificação dos povos
indígenas no aspecto cultural.
A falta de conhecimento, o preconceito e a
intolerância, resultantes da ideia de índio que foi construída historicamente,
promovem a marginalização destes na sociedade. “São 519 anos de história e a
cultura se transforma. Os Portugueses, Espanhóis e Holandeses tinham
vestimentas e costumes totalmente diferentes do que têm hoje e ninguém
questiona se eles deixaram de ser o que são, mas os indígenas as pessoas
questionam”, completou. Com relação à inserção de alunos indígenas nas
universidades, Maria Aparecida, egressa do curso de Agronomia na Universidade
Estadual de Feira de Santana e pertencente a etnia Tumbalalá, expõe as grandes
dificuldades para conseguir não só passar no vestibular, mas também a não
desistir após ser aprovada. Segundo a estudante, há várias atitudes
preconceituosas de alunos e professores no espaço acadêmico. Além disso, ela
ressalta as péssimas condições das residências que são disponibilizadas e
confirma a importância da ocupação de espaços para os povos indígenas. “Ter um
indígena na universidade, vai além de passar só em um curso. É uma questão de
reafirmação da identidade e aprender a se defender dos poderosos que estão a
todo tempo nos difamando na mídia”, explica.
Professor
do terceiro semestre de Jornalismo e Publicidade na disciplina Realidade
Brasileira e Regional, Ricardo Aragão afirma que a importância do debate
realizado encontra-se na necessidade dos alunos entenderem a história do Brasil
a partir das lutas dos povos indígenas, e compreender essa realidade. “É
fundamental para que os alunos descolonizem o pensamento. A presença deles faz
com que os estudantes tenham um depoimento em primeira mão de pessoas que estão
vivenciando a luta e faz com que os futuros profissionais se atentem para os
vários lados da mesma moeda”, ressalta. Kaimbé e Tumbalalá fazem parte das 14
etnias indígenas presentes no estado da Bahia, segundo o Instituto
Socioambiental. Estão localizadas em Euclides da Cunha e Abaré e Curaçá, às
margens do Rio São Francisco, respectivamente.