quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Freira destemida foge á regra e realiza trabalho social com profissionais do sexo

 

 

Ir. Augustina Obi
Na Arquidiocese de Feira de Santana, um ato social para humanização foge à regra do que se costuma perceber na atualidade. Atitudes que são de competência das Secretarias de Saúde e Ação Social, normalmente vêm sendo realizadas pelas Congregações Religiosas que estão presentes na cidade, uma vez que muitas freiras dedicam uma boa parte o seu tempo realizando trabalhos sociais com moradores de rua, famílias carentes, idosos, usuários de drogas, pessoas hospitalizadas, e várias outras situações que interferem no cotidiano social da vida de uma pessoa.

O trabalho com as profissionais do sexo sempre foi algo considerado perigoso e encarado com preconceito. Mesmo diante desta problemática, a religiosa nigeriana, Irmã Augustina Obi, que pertence a Congregação das Irmãs Missionárias do Santo Rosário, não encontrou obstáculos para desenvolver a sua missão com as garotas de programa, que atuam no cento de Feira de Santana.

Com sua inquietude missionária, a religiosa que já mora em Feira de Santana há três anos, dedica quase todo o seu tempo para trabalhar em prol das mulheres que vivem na batalha, que para o historiador Antônio Rocha,  são consideradas como escravas do sexo.”Ninguém que se submete a deitar com dez homens no dia, vendendo seu corpo, passando por humilhações, de certa forma são escravas do situação em que vivem”, disse.

Sem temor algum, a freira Augustina vai ao encontro das garotas de programa, conversa, orienta sempre para que as mesmas não sejam futuras portadoras do HI, escuta a realidade de uma por uma. Becos, ruas, praças, vielas, todos esses são lugares que a missionária desenvolve seu trabalho social.

A atitude da religiosa ainda surpreende católicos, garotas de programa e pessoas de diversos segmentos da sociedade. “Nunca vi uma freira sentada em uma praça, conversando com prostitutas, abraçando-as, tratando com tanto carinho. Foi uma coisa surpreendente, primeiro pela coragem dela, segundo; quem faz programa sofre tanto preconceito que eu jamais imaginaria ser abraçada por uma religiosa e ainda ser tratada com carinho, como gente”, disse uma profissional do sexo, de nome não revelado.

O trabalho da destemida religiosa é direcionado para as prostitutas de classe C, pois para a missionária, todos os segmentos da sociedade são divididos em classes e isso também está presente no meio das garotas que fazem programa.

Além de desenvolver seu trabalho com as meninas, Augustina também realiza a mesma ação social com os garotos de programa, segundo ela, que dedica seu tempo tentando mostrar aos profissionais do sexo outras maneiras de sobrevivência. “Assim como existem meninas que vendem seu corpo para ganharem dinheiro, também têm homens que fazem o mesmo trabalho, assegura a religiosa..
Apoio do arcebispo
O trabalho realizado pela freira nigeriana é encarado pelo arcebispo Dom Itamar Vian como algo de excelência, segundo ele, na Arquidiocese de Feira de Santana existe mais de cem religiosas e todas elas trabalham na periferia da cidade e também do interior.
Conforme o arcebispo, na Praça da Matriz tem o Centro Social Monsenhor Jessé, onde um grupo de religiosas e leigos acompanham pessoas que dormem na rua dando alimentação, vestuário, e coisas necessárias para sobrevivência.

De acordo com Dom Itamar, o trabalho da freira nigeriana orienta, recupera, dá uma vida mais digna as prostituas. “A religiosa Augustina com um grupo de pessoas procura oferecer possibilidades para que essas mulheres tenham uma profissão, ela oferece cursos de manicure, pedicure, penteado, limpeza de pele, arte culinária e tantos outros”, contou.
Segundo o arcebispo, já se formaram muitas das mulheres que estavam na prostituição, deixaram de ser prostitutas e hoje exercem uma profissão mais digna. “A Igreja abençoa evidentemente esse trabalho, que está sendo utilizado para recuperar pessoas, e essas pessoas depois de recuperadas são muito agradecidas à Arquidiocese por possibilitar o tipo de vida mais digna”, ressaltou.

A Arquidiocese de Feira tem o lema de que SOMOS TODOS IRMÃOS e o arcebispo considera que a religiosa nigeriana cumpre com muita dedicação o que diz o lema. “Além de cumprir o lema, a irmã também cumpre o que está na Bíblia, na Carta de São Thiago, quando nos diz que a Fé sem Obras é Morta”, observou, enfatizando, “muitas pessoas freqüentam a igreja, passam horas de oração diante do Santíssimo Sacramento, outras não perdem uma novena; isto é muito importante, mas não é suficiente”, ressaltou.
Para Dom Itamar, ter fé significa comprometer-se coma situação dos pobres, dos doentes, dos necessitados, dos presos, dos sem-terra; e no caso do trabalho realizado pela Ir. Augustina é comprometer-se com a vida dos seres humanos que vivem no inferno, e através do trabalho da religiosa, as mulheres passam a viver um novo paraíso.
Um lamento do arcebispo é que alguns jornais e radialistas ocupam espaços de programas e páginas de impressos com matérias pagas de políticos e não enxergam a importância dos trabalhos sociais que são feitos em prol da promoção humana.

Clécia Azevêdo