Ir. Augustina Obi |
O trabalho com as
profissionais do sexo sempre foi algo considerado perigoso e encarado com
preconceito. Mesmo diante desta problemática, a religiosa nigeriana, Irmã Augustina
Obi, que pertence a Congregação das Irmãs Missionárias do Santo Rosário, não
encontrou obstáculos para desenvolver a sua missão com as garotas de programa,
que atuam no cento de Feira de Santana.
Com sua inquietude
missionária, a religiosa que já mora em Feira de Santana há três anos, dedica
quase todo o seu tempo para trabalhar em prol das mulheres que vivem na
batalha, que para o historiador Antônio Rocha, são consideradas como escravas do sexo.”Ninguém
que se submete a deitar com dez homens no dia, vendendo seu corpo, passando por
humilhações, de certa forma são escravas do situação em que vivem”, disse.
Sem
temor algum, a freira Augustina vai ao encontro das garotas de programa,
conversa, orienta sempre para que as mesmas não sejam futuras portadoras do HI,
escuta a realidade de uma por uma. Becos, ruas, praças, vielas, todos esses são
lugares que a missionária desenvolve seu trabalho social.
A atitude da religiosa
ainda surpreende católicos, garotas de programa e pessoas de diversos segmentos
da sociedade. “Nunca vi uma freira sentada em uma praça, conversando com
prostitutas, abraçando-as, tratando com tanto carinho. Foi uma coisa
surpreendente, primeiro pela coragem dela, segundo; quem faz programa sofre
tanto preconceito que eu jamais imaginaria ser abraçada por uma religiosa e
ainda ser tratada com carinho, como gente”, disse uma profissional do sexo, de
nome não revelado.
O trabalho da destemida
religiosa é direcionado para as prostitutas de classe C, pois para a
missionária, todos os segmentos da sociedade são divididos em classes e isso
também está presente no meio das garotas que fazem programa.
Além de desenvolver seu
trabalho com as meninas, Augustina também realiza a mesma ação social com os garotos
de programa, segundo ela, que dedica seu tempo tentando mostrar aos
profissionais do sexo outras maneiras de sobrevivência. “Assim como existem
meninas que vendem seu corpo para ganharem dinheiro, também têm homens que
fazem o mesmo trabalho, assegura a religiosa..
Apoio
do arcebispo
O trabalho realizado
pela freira nigeriana é encarado pelo arcebispo Dom Itamar Vian como algo de
excelência, segundo ele, na Arquidiocese de Feira de Santana existe mais de cem
religiosas e todas elas trabalham na periferia da cidade e também do interior.
Conforme o arcebispo,
na Praça da Matriz tem o Centro Social Monsenhor Jessé, onde um grupo de
religiosas e leigos acompanham pessoas que dormem na rua dando alimentação,
vestuário, e coisas necessárias para sobrevivência.
De acordo com Dom
Itamar, o trabalho da freira nigeriana orienta, recupera, dá uma vida mais digna
as prostituas. “A religiosa Augustina com um grupo de pessoas procura oferecer
possibilidades para que essas mulheres tenham uma profissão, ela oferece cursos
de manicure, pedicure, penteado, limpeza de pele, arte culinária e tantos
outros”, contou.
Segundo o arcebispo, já
se formaram muitas das mulheres que estavam na prostituição, deixaram de ser
prostitutas e hoje exercem uma profissão mais digna. “A Igreja abençoa
evidentemente esse trabalho, que está sendo utilizado para recuperar pessoas, e
essas pessoas depois de recuperadas são muito agradecidas à Arquidiocese por
possibilitar o tipo de vida mais digna”, ressaltou.
A Arquidiocese de Feira
tem o lema de que SOMOS TODOS IRMÃOS e o arcebispo considera que a religiosa
nigeriana cumpre com muita dedicação o que diz o lema. “Além de cumprir o lema,
a irmã também cumpre o que está na Bíblia, na Carta de São Thiago, quando nos
diz que a Fé sem Obras é Morta”, observou, enfatizando, “muitas pessoas
freqüentam a igreja, passam horas de oração diante do Santíssimo Sacramento,
outras não perdem uma novena; isto é muito importante, mas não é suficiente”,
ressaltou.
Para Dom Itamar, ter fé
significa comprometer-se coma situação dos pobres, dos doentes, dos
necessitados, dos presos, dos sem-terra; e no caso do trabalho realizado pela
Ir. Augustina é comprometer-se com a vida dos seres humanos que vivem no
inferno, e através do trabalho da religiosa, as mulheres passam a viver um novo
paraíso.
Um lamento do arcebispo
é que alguns jornais e radialistas ocupam espaços de programas e páginas de
impressos com matérias pagas de políticos e não enxergam a importância dos
trabalhos sociais que são feitos em prol da promoção humana.
Clécia Azevêdo