Todos os anos, milhares de meninas da África e do Oriente Médio sofrem mutilação genital.
Segundo as Nações Unidas, o procedimento, que consiste na remoção
parcial ou total da genitália externa feminina, afeta cerca de 125
milhões de mulheres em todo o mundo.
Embora duramente criticada por organizações humanitárias, a prática resiste culturalmente em muitas comunidades.
É o caso de uma família somali que imigrou para o Reino Unido 20 anos atrás. Duas gerações dela foram submetidas às mutilações.
A avó Fatma e sua filha Lu passaram pelo ritual, mas a neta Samira, que nasceu em Londres, não.
Fatma apresenta o tipo mais severo de mutilação genital, realizada sem anestesia.
Ela conta que tinha sete anos e foi submetida ao procedimento junto com
outras quatro meninas. Fatma diz que não poderia fugir sob pena de ser
vítima de humilhação.
Ainda assim, Fatma diz que submeteu sua
filha à mesma mutilação, pois acreditava que era a coisa certa a fazer
de acordo com a pregação do Islã.
- Samira, cuja mãe e avó passaram pelo procedimento de mutilação genital, na Somália
Já a estudante e modelo Samira foi a única das três gerações da família
a não ter seguido o mesmo caminho. A jovem, porém, pôde ver ao vivo a
prática que marcou para sempre sua mãe e sua avó.
Samira voltou à
Somália a convite da BBC como parte de um documentário sobre mutilações
femininas. Ela conta ter ficado horrorizada com o que viu.
A
jovem diz considerar errada a prática, especialmente com crianças que,
segundo ela, não tem a menor ideia do que está acontecendo.
Ajuda
Em Londres, clínicas espalhadas pela cidade ajudam mulheres submetidas a mutilações genitais.
A responsável pelo local classifica o procedimento como abuso infantil. Mas quem o pratica não o vê dessa forma.
Comfort Momoh diz que os pais consideram a mutilação um ato de amor com
suas filhas, uma forma de prepará-las para a vida adulta, um rito de
passagem ou até mesmo uma obrigação.
Para ajudar as mulheres vítimas de mutilação, o governo britânico criou um serviço de atendimento via telefone.
A Promotoria, por sua vez, está tentando levar a julgamento alguns dos
mutiladores, mas até agora ninguém foi preso pela prática.
Parlamentares acreditam que os dados colhidos nos hospitais podem ajudar a acabar com o ritual.
Para a parlamentar Jane Ellison, os hospitais têm de oferecer um
atendimento especializado para as vítimas e garantir sua prevenção e
proteção.
Ativistas, no entanto, cobram uma solução mais dura para impedir que uma prática considerada arcaica perdure.