domingo, 6 de outubro de 2013

Direitos fundamentais ainda são desrespeitados, dizem especialistas




Não são apenas os direitos sociais previstos na Constituição – como a garantia à saúde gratuita – que não são integralmente respeitados. Especialistas dizem que há violações diárias a um dos capítulos mais celebrados quando o texto constitucional foi promulgado em 1988: o dos Direitos e Garantias Fundamentais, que estabelece que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”.
A vendedora Ana Keila Pasko, por exemplo, se sentiu discriminada por não ter a chance de remarcar um teste físico em um concurso público de agente penitenciário realizado neste ano. Com uma gravidez de risco, ela não podia se submeter ao exame na data prevista. E, mesmo com a apresentação de atestados médicos, acabou sendo desclassificada. “É um direito garantido, eu não deveria ter de entrar na Justiça por causa disso. Não quero deixar de fazer o teste físico; apenas quero ter uma nova oportunidade”, diz.
O advogado Fabiano Alves de Melo da Silva, que atende o caso de Ana e vários outros parecidos, conta que situações como essa são cotidianas e revelam até uma falha do texto constitucional. “A Constituição assegura direitos para todos os cidadãos. Em casos de concursos públicos, por exemplo, é preciso transcrever no edital aquilo que é razoável e isonômico no entender dela, mas é difícil chegar a um parâmetro.”
Para o advogado e cientista político Marcelo Navarro, mesmo com a necessidade de inclusão dos direitos e garantias fundamentais no texto constitucional, a lei por si só não garante sua efetividade. “Há uma diferença entre a formalidade do texto e a prática. Mas a lei ao menos impõe um limite.”
O professor de Direito Constitucional da PUCPR Alvacir Nicz avalia que, à medida que as gerações vão se sucedendo e que a população vai tendo mais educação, a tendência é que a Constituição seja mais efetiva. “Sem dúvida nenhuma avançamos nesse ponto [na educação], mas ainda temos muito a investir. De outro lado, os maiores problemas estão na atenção à saúde e na segurança pública”, afirma Nicz.