
Um rapaz diagnosticado com esquizofrenia foi agredido por populares e
amarrado pelo pescoço em um poste após quebrar o vidro de um carro que
estava estacionado na avenida Prudente de Morais, na tarde desta
sexta-feira (13), no bairro de Lagoa Seca, em Natal. A Polícia Militar
foi acionada e encaminhou Igor Carlo Guerra do Nascimento, de 26 anos,
para a Delegacia de Plantão da zona Sul. Não foi registrado boletim de
ocorrência nem por parte do dono do carro, nem por parte do rapaz
agredido.
Uma pessoa que passava pelo local registrou a agressão e enviou o vídeo
ao G1. O vídeo mostra o rapaz sendo amarrado pelo pescoço com uma corda
em um poste e levando chutes e murros de populares.
A mãe de Igor, a auxiliar de farmácia Minerva de Medeiros, de 49 anos,
contou ao G1 que o filho saiu de casa para ir a uma consulta com o
psicólogo. Ela terminava de se arrumar para acompanhá-lo, mas ele não
quis esperar. “Ele foi na frente e eu saí em seguida. Quando vi a
confusão na avenida Prudente de Morais me aproximei e vi que era meu
filho. Eu comecei a gritar, a pedir para pararem de agredi-lo. Fiquei
desesperada quando vi meu filho amarrado”, disse.
O soldado Nascimento, que atendeu a ocorrência, disse que ao chegar ao
local o rapaz estava amarrado pelo braço. "Ele não estava mais sendo
agredido. O caso dele é de hospital, não de delegacia, mas trouxemos ele
pra cá para evitar uma confusão maior no local. A mãe dele assumiu o
prejuízo e não foi preciso registrar ocorrência. É uma pena que a
população tenha agido dessa forma, mas a sociedade está tão cansada de
tanta violência que ninguém sabe como agir em uma situação como essa",
afirmou. O PM afirmou que a orientação à população é que acione a
polícia para que sejam tomadas as providências. O dono do carro estava
na delegacia, mas não quis falar com a reportagem.
Minerva de Medeiros contou que a doença do filho foi diagnosticada em
2008 e desde então ele faz acompanhamento médico e toma remédios
controlados. Ela apresentou o atestado onde consta que o filho tem
CID10: F25, que pela Classificação Internacional de Doenças significa
transtornos esquizoafetivos. “Ele tem esses rompantes, essas mudanças
repentinas de comportamento. Uma hora ele está bem, em outra fica
agressivo”, contou. Ela relatou que essa não é a primeira vez que ele
tem uma crise na rua. “Ele já agrediu um rapaz na rua uma vez sem razão
aparente e também já quebrou móveis e eletrodomésticos em casa”, disse.
Na delegacia, Igor relatou que quebrou o vidro do carro com uma
torneira de alumínio que ele levava no bolso. Perguntado sobre as razões
que o levaram a fazer isso ele respondeu apenas "não sei".
Emocionada, a mãe de Igor falou do preconceito enfrentado pela família.
“É muito difícil, as pessoas não entendem a doença, a sociedade ainda
tem muito preconceito, é injusta”, disse. Apesar das agressões sofridas
pelo filho, ela optou por não registrar boletim de ocorrência. “Eu não
quero mais problemas, tudo isso é muito difícil. Estar em uma delegacia
já é muito humilhante. Meu sentimento hoje é confuso”.
Fonte: G1