O Papa Bento XVI fez na manhã de hoje, 27/02, sua última Audiência
Pública na praça de São Pedro, no Vaticano, antes de renunciar ao
Ministério Petrino. Diante de uma assembleia de mais de 150 mil pessoas,
disse estar feliz por enxergar a Igreja viva e que jamais se sentiu
sozinho nesses oito anos de pontificado. O Santo Padre ainda recordou
que a Igreja não pertence a ele, mas a Cristo, e por isso, ela jamais
afundará, mesmo quando as águas estiverem agitadas. "Não abandono a cruz, sigo de uma nova maneira com o Senhor Crucificado, sigo a seu serviço no recinto de São Pedro", enfatizou.
A Audiência começou por volta das 10h40 locais (6h40 de Brasília). Ao
aparecer na praça de São Pedro no papamóvel, Bento XVI foi ovacionado
por uma multidão que gritava "Viva o Papa" e "Bento! Bento!". Claramente
emocionado, passeou pela praça por quase 15 minutos, agradecendo aos
fiéis que levantavam cartazes e o agradeciam. Foram distribuídos 50 mil
ingressos para os peregrinos participarem da catequese, mas segundo as
estimativas, o público presente era de mais de 150 mil pessoas.
O Papa ressaltou no seu discurso o significado do amor que se deve prestar à Igreja e a Cristo. "Amar
a Igreja significa também ter a valentia de tomar decisões difíceis,
tendo sempre presente o bem da Igreja, e não o de si próprio",
afirmou. Falando ao público de língua portuguesa, disse que "um papa não
está sozinho na condução da barca de Pedro". "Embora lhe caiba a
primeira responsabilidade, o Senhor colocou ao meu lado muitas pessoas
que me ajudaram e me sustentaram", declarou o pontífice.
Bento XVI convidou os fiéis a rezarem por ele e pelo próximo papa.
Ele agradeceu a Deus por tê-lo guiado nesses oito anos de papado e pediu
para que a Igreja amasse Jesus "com a oração e com uma vida cristã
coerente". "Deus ama-nos, mas espera também que nós o amemos!",
recordou. O Romano Pontífice falou também das várias cartas que recebeu
de pessoas simples enquanto esteve à frente da Igreja nestes últimos
anos. Afirmou que essas manifestações afetuosas permitiam "tocar com a
mão o que é a Igreja", pois ela não é uma organização ou uma associação
com fins religiosos ou humanitários, "mas um corpo vivo, uma comunhão de
irmãos e irmãs no Corpo de Jesus Cristo, que nos une a todos".
"Experimentar a Igreja neste modo e poder assim com que poder tocar com
as mãos a força da sua verdade e do seu amor, é motivo de alegria, num
tempo em que tantos falam do seu declínio", declarou o papa entre os
aplausos dos fiéis.
Bento XVI assumiu a Cátedra de Pedro em 19 de abril de 2005, aos 79
anos de idade. Nesses oitos anos de pontificado, presidiu 348 audiências
gerais, das quais participaram 4,9 milhões de pessoas até dezembro de
2012. Além disso, escreveu três encíclicas (Deus caritas est, Spe salvi e Caritas in veritate), a biografia de Jesus, na aclamada trilogia "Jesus de Nazaré",
participou de três Jornadas Mundiais da Juventude, sendo a última em
Madrid, Espanha, com a presença de mais de dois milhões de jovens e fez
mais de 50 viagens apostólicas por todo o mundo, incluindo o Brasil em
2007, quando veio para canonizar Frei Galvão e abrir a V Conferência
Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe.
A partir das 20h (locais) de amanhã, 28/02, se inicia o tempo de Sé
vacante, como estabeleceu o Papa Bento XVI no seu discurso em que
anunciou a renúncia. Segundo o porta voz do Vaticano, padre Federico
Lombardi, Joseph Ratzinger continuará a usar o nome de Bento XVI e o
título honorífico de "Sua Santidade". Ele deverá ser chamado de "Papa
emérito" ou "Pontífice Romano Emérito". Já o seu anel papal deverá ser
quebrado, como prescreve a tradição quando termina um pontificado. Bento
XVI foi o primeiro papa a renunciar em quase 600 anos.