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O advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, disse ontem (10) que
reitores de universidades federais que não informam os nomes de
professores e funcionários em greve serão responsabilizados por
improbidade administrativa.
Quando um reitor não informa ao governo quais são os servidores em
greve, todos permanecem recebendo os salários normalmente, mesmo sem
trabalhar. A paralisação nas universidades federais já dura três meses.
"Isso vai ter que ser apurado adiante, porque esses reitores, ou esses
agentes, estão em situação de improbidade", disse o ministro da
Advocacia Geral da União. Embora o governo já tivesse sugerido esse tipo
de procedimento punitivo nas últimas semanas, esta é a primeira vez que
um integrante do alto escalão fala em público a respeito.
Adams deu essa declaração no "Poder e Política",
projeto da Folha e do UOL. Segundo ele, a responsabilidade dos reitores
terá de ser apurada "pelo TCU [Tribunal de Contas da União], pela CGU
[Controladoria-Geral da União] e pelo próprio Ministério Público
Federal, que tem essas incumbências".
Trechos da entrevista com Luís Inácio Adams - 12 vídeos
Reitor que paga grevista pratica improbidade, diz AGU (1:58)
A improbidade por parte dos reitores estaria acontecendo "porque o
desconto é um dever do administrador. Não é um direito, não é uma
faculdade". Adams declara que "a faculdade que a greve oferece, que a
lei oferece, é negociar os dias parados". Já durante uma situação de
greve é preciso haver uma "suspensão da relação de trabalho". E essa
suspensão significa "que o servidor não está obrigado a prestar o
serviço, mas também o patrão não está obrigado a pagar".
O advogado-geral da União diz que o não pagamento de salários a
grevistas "é uma jurisprudência pacífica" do TST (Tribunal Superior do
Trabalho). O governo atuará nos próximos dias e semanas para que todos
os servidores parados não recebam mais seus vencimentos.
"Vão ser descontados. Tenha a certeza! Os servidores em greve, no
período em que permanecerem em greve, terão seus salários descontados",
afirma Adams, referindo-se não apenas aos professores de universidades,
mas aos de todos os setores da administração pública federal.
Indagado a razão de o governo não apoiar algum um projeto de lei já em
tramitação no Congresso para regulamentar as greves no serviço público,
Adams respondeu que "esse debate é extremamente complexo e difícil". Mas
ele acha que não existe uma situação de ausência normativa, pois a
Justiça tem tomado decisões e firmado jurisprudências sobre como podem
ser essas paralisações, estabelecendo limites e determinando como os
serviços essenciais devem ser mantidos.
MENSALÃO
Na entrevista, o advogado-geral da União, Luiz Inácio Adams, disse
também, de forma cuidadosa, mas sem deixar dúvidas, que no caso de o
Supremo Tribunal Federal (STF) julgar que houve desvio de dinheiro
público no mensalão, os condenados terão de ressarcir recursos ao
Estado.
"Se a decisão indicar ou afirmar o desvio, esse desvio vai ser
corrigido", declarou Adams ao "Poder e Política". "Quem for
responsabilizado pelo desvio tem que devolver. Agora é esperar para ver o
que vai ser decidido".
Como o mensalão se trata de uma ação penal, "o ressarcimento pode ser
obtido dentro da própria ação pelo Ministério Público, em princípio",
declara Adams.
INDICAÇÃO PARA O STF
Um dos ministros que mais tem contato com a presidente Dilma Rousseff, o
titular da Advocacia Geral da União está no posto desde 2009, quando
substituiu a José Antonio Dias Toffoli --nomeado para o Supremo Tribunal
Federal.
Gilmar Mendes, outro ex-ocupante da AGU, também é hoje ministro do STF.
Indagado sobre o fato de seu nome também circular listas de possíveis
nomeados ao Supremo, Luís Inácio Adams disse:
"Eu acho a posição é que é candidata, não a pessoa. Porque o
advogado-geral sempre é uma figura que tem uma importância dentro do
governo. Seja ele quem for". Dilma já falou com ele sobre o tema? "Não,
não tratou".
A transcrição completa da entrevista está disponível aqui.
A seguir, vídeos da entrevista (rodam em smartphones e tablets).