domingo, 19 de agosto de 2012

O ARROCHA É DA BAHIA

I arrocha é bahiano


Quando o arrocha começou a aparecer com força, lá pelo final dos anos 90 e início dos anos 2000, na cidade de Candeias (Recôncavo baiano) muita, mas muita gente mesmo, torceu o nariz. Coube à então Tropical Sat (que o povão chamava de Tropical Saite), rádio pertencente à Rede Bahia,  realizar um evento batizado de Reino do Arrocha. Foi a consagração. Eu fui cobrir para o caderno Folha, do antigo Correio da Bahia. Cerca de 80 mil pessoas compareceram ao Parque de Exposições e dançaram ao som de nomes como Nara Costa, Nira Guerreira, Silvanno Salles, Márcio Moreno, Novo Tom,  Asas Livres (na época com Pablo nos vocais), entre outros.
Até então o arrocha era visto como o ritmo preferido dos moradores da periferia. A chamada classe A e B nem tchuns. Como dizia aquele comercial: o tempo passa, o tempo voa e o arrocha.... Bem, hoje o ritmo ou a cena musical, como prefiram chamar, tornou-se um filão rentável. Pablo seu maior nome. Nara Costa ainda reina. Silvanno Salles também. E os jovens caíram de amor pelo som que veio da periferia, criaram o arrocha universitário, do qual Kart Love é a estrela maior. Estava tudo indo muito bem até que, de repente, os novos cantores sertanejos, todos na cola do fenômeno Luan Santana, resolveram se apossar do arrocha. Principamente, em Goiás, berço das duplas sertanejas.
A Som livre lançou um CD de arrocha que não tem um artista da Bahia. Tudo bem. Todo mundo pode cantar arrocha, pagode, axé, rock, samba, salsa, merengue, o que for... Mas, querer negar ou não reconhecer que o arrocha surgiu na Bahia, no meio das chamadas classes menos favorecidas e que conquistou seu espaço com muita luta, aí já é demais.
Eu nem sei dançar arrocha. Nem cantar. Mas acho que essa galera merece respeito por tudo que representa. Você pode não gostar. Não ouça. Mas querer negar que essa turma foi à luta isso é sacanagem. Aí, tenho que recorrer a um grande sucesso de Nara Costa: “Faz do jeitinho que seu nego gosta/ arrocha/ arrocha/arrocha”. E a turma do axé, que tem poder de fogo na mídia em todo o Brasil, bem que poderia divulgar em seus megashows, micaretas ou Carnavais fora de época: o arrocha é produto da Bahia. O arrocha é nosso e ninguém tasca.
* Texto publicado na seção "Uma ideia", do Guia Correio, nesta sexta-feira (17)