Uma “casa” na passarela da Avenida Vasco da Gama vem atraindo a
atenção de pedestres e motoristas. Há três meses, Laudeci dos Santos, de
53 anos, reside, com o companheiro, em uma barraca de camping,
montada a uma altura de 20 metros.
Os brincos laranja, cordão com uma pedra verde e camisola rosa não
escondem que Laudeci é uma mulher vaidosa. De tudo já teve na passarela:
geladeira, fogão e televisão. “Nada disso para o meu uso: aqui é minha
casae também meu bazar. A geladeira, vendi por R$ 20”, explicou a
sem-teto.
Ela reside na passarela com um homem que conheceu há três meses e
que vende material reciclável. “Ele não quis mais me deixar trabalhar.
Manda que eu fique em casa esperando por ele”, conta.
Sem filhos, há pelo menos dez anos ela não vê os pais. Passou parte
da vida na Ladeira da Montanha: “Meu pai era do tipo durão. Daqueles
brabos. Não dava para viver junto. Nem sei se está vivo”.
Os moradores que utilizam a passarela já conhecem o casal. Muitos passam e cumprimentam Laudeci. “Aqui, todos me amam”, brincou.
Dados - Laudeci e o namorado são dois entre 3.289
pessoas em situação de rua na capital, segundo dados da Secretaria
Estadual de Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza (Sedes).
Segundo o órgão, 36% do público são catadores de material
reciclável, 18,7%, flanelinhas e vendedores informais, e 14% pedem
dinheiro para sobreviver.
Pelo menos 80% dos moradores em situação de rua trabalham. A Cidade
Baixa (Comércio, Calçada, Mares, Bonfim e Boa Viagem) concentra o maior
contingente: 30,8%.
A coordenadora da Rede de Proteção Social Especial da Prefeitura de
Salvador, Daniela Cova, garantiu que servidores realizam, diariamente,
abordagens sociais, oferecendo serviços às pessoas em situação de rua,
entre eles a atenção dos dois albergues de Roma, com capacidade para 180
pessoas.