Brasil tem a maior taxa entre sete países da América Latina, diz Proteste; o segundo colocado, Peru, fica bem atrás, com juro de 55% ao ano
17 de julho de 2012 | 7h 49
Hugo Passarelli, do Estadão.com.br
SÃO PAULO - Pagar apenas parte da fatura do cartão de
crédito e acionar o gatilho do juro rotativo é um risco cada vez maior
para o consumidor brasileiro. Estudo da Associação Brasileira de Defesa
do Consumidor (Proteste), obtido com exclusividade pelo Estado, mostra
que os juros anuais médios dessa modalidade subiram de 237,9% em janeiro
para 323,14% em junho. No mesmo período, a Selic, a taxa básica de
juros da economia, caiu de 11% para 8,5% (sem contar o corte da última
reunião do Copom, para 8% ao ano).
VEJA TAMBÉM
A pesquisa compara o juro do cartão de crédito no Brasil com outros
seis países da América Latina e constata que as taxas brasileiras são
quase seis vezes maiores que o segundo colocado, o Peru (55% ao ano),
seguido pelo Chile (54,24%) e Argentina (50%). Na outra ponta do ranking
está a Colômbia, com juro do cartão de crédito em 29,23% ao ano.
"Não há uma explicação econômica para isso. A partir do momento que a
Selic cai, os juros ao consumidor deveriam acompanhar essa trajetória",
afirma Hessia Costilla, economista da Proteste. O pagamento do chamado
juro rotativo ocorre quando o consumidor não quita a totalidade da
fatura do cartão. Depois disso, é como se o consumidor refinanciasse o
restante da dívida, com a desvantagem de desembolsar juros altíssimos
por isso.
Falta de concorrência e de educação financeira são os principais
fatores que geram essa situação, avalia o professor da escola de
economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Samy Dana. "Há poucos bancos e
pouca informação, ninguém sabe o que significa pagar juros de mais de
100% ao ano", diz.
O aumento da inadimplência, um dos argumentos das instituições
financeiras para a manutenção do juro alto, é descartado por Dana. "Esse
é o negócio central dos bancos (fornecer ou não crédito), eles têm o
poder discriminatório na concessão", diz. Assim, ele conclui, os bancos
não deveriam repassar o prejuízo dos inadimplentes para aqueles que
estão com as contas em dia.
A Proteste pesquisou as taxas praticadas por bancos (públicos e
privados) e financeiras. São eles: Banco do Brasil, Banrisul, BMG,
Bradesco, BV Financeira, Caixa Econômica Federal, Citibank, Itaú
Unibanco, HSBC, Ibi, Losango, Panamericano e Santander.
Primeiro, foram levantados os juros das instituições financeiras pela
internet. Depois, o órgão foi às agências para levantar quanto, de
fato, é cobrado do consumidor quando uma conta é aberta. Procurados,
Banco do Brasil e Bradesco disseram que não iam comentar o resultado da
pesquisa. HSBC e Ibi informaram que não tinham porta-vozes disponíveis.
As demais instituições não responderam o pedido de entrevista ou não
foram encontradas.
Cheque especial
O cheque especial é outra modalidade que ainda apresenta custo
elevado ao consumidor. Dados do Banco Central mostram que o juro médio
anual dessa operação caiu apenas 3,82 pontos porcentuais em 13 anos. De
maio de 1999 até o mesmo mês deste ano, a taxa passou de 173,27% para
169,45% ao ano. Para se ter uma ideia, nesse período, a Selic caiu 21
pontos porcentuais - de 29,50% para 8,5% ao ano (taxa de junho).
Os especialistas recomendam que os consumidores evitem o uso do juro
rotativo ou cheque especial. "A pior coisa que o consumidor pode fazer é
ficar devendo nessas duas modalidades. É preferível pedir um
empréstimo, por exemplo", afirma Dana.
Mesmo entre as linhas de crédito que reduziram suas taxas, a Proteste
sustenta que a redução do juro não veio desacompanhada. "Tivemos
inúmeros apelos da presidência para forçar as instituições a baixar os
patamares dos juros. Após isso tivemos vários anúncios de quedas dos
tais juros, só que atrelados a inúmeras avaliações de relacionamento",
diz o órgão na divulgação da pesquisa.
Na avaliação da Proteste, a transparência das informações bancárias
também tem sido prejudicada desde que os bancos entraram na "corrida"
pela redução dos juros. "Todos os bancos dizem que o consumidor tem de
abrir conta, contratar cartão, cheque especial e receber o seu salário
por essa conta para, assim, eles avaliarem qual a taxa de juros que será
valida", conclui.