Desertificação em Irauçuba, no interior do Ceará
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RIO - Dentro de um Brasil admirado no mundo inteiro por seu
desenvolvimento econômico há outro país, ainda invisível ao progresso e
contaminado por um problema crônico — a aridez — que só faz piorar. A
nação da Caatinga, formada por 1.482 municípios espalhados por 1,3
milhão de quilômetros quadrados, vive sua maior estiagem dos últimos 30
anos. Só na Bahia, mais de 214 cidades já declararam estado de
emergência. Rios secaram a ponto de se restringirem à areia fina.
Este
evento extremo vai se resolver, mas, em breve, pode ser seguido por
outro. E, entre uma seca e outra, a produção agrícola entra em colapso —
fenômeno agravado pelo clima global.
Todas as projeções do Painel
Intergovernamental de Mudanças Climáticas apontam a Caatinga como o
bioma mais frágil do país. É, na verdade, a maior área do mundo
suscetível à desertificação. Em algumas regiões de Pernambuco, a
temperatura média já aumentou 3 graus Celsius desde 1960. Considerando
todo o Nordeste, os termômetros teriam ganhado, em média, 1,5 grau
Celsius no mesmo período.
— Um bioma consegue se regenerar com, no
mínimo, 50% da cobertura original. A Caatinga só tem 45% — alerta
Eduardo Assad, pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária. — A
chance de desertificação, portanto, é muito grande. E não há qualquer
ação coordenada para salvar esta região.
De acordo com a Embrapa,
haverá, em todo o Nordeste, uma grande queda na produção de milho,
arroz, feijão, algodão, girassol e mandioca nas próximas décadas. Estas
culturas conseguem sobreviver na Zona da Mata, onde há lençóis freáticos
que sustentam estas plantações, mas não no interior. No semiárido,
segundo Assad, sobrevivem planos de “convivência com a seca”, como
fruteiras que produzem jaca e manga, mas sem os devidos recursos e
divulgação.