Francisca de Matos Oliveira, 73 anos, a 'dona Lindinalva', como é
conhecida pelos vizinhos, casou-se em uma época em que pílula
anticoncepcional era algo remoto. Mas ela não reclama das 25 vezes em
que engravidou nos 54 anos de casamento com José Carvalho de Oliveira,
75 anos. Os sete filhos que 'vingaram' são valiosos e valem a lembrança
de cada nascimento. Hoje, são 20 netos e 12 bisnetos. "Era uma gravidez
por ano. Não tinha outro jeito. Hoje as pessoas têm como se prevenir",
justifica.
As filhas herdaram a fertilidade da mãe e
Lindinalva cuida não apenas dos filhos, mas dos netos que foram
nascendo e passando a morar sob o mesmo teto. "Moram todos, com neto
nascendo, bisneto nascendo. É tudo misturado. Quase sou eu quem crio
meus netos. A gente vive bem, na união. Tenho carinho, todo mundo
perto", diz.
Sobre o cuidado com os filhos, ela se mostra
resignada aos poderes divinos que levaram a maioria da prole antes
mesmo de completarem um ano de idade. "Adoecia e em pouco tempo morria.
Antigamente não tinham as vacinas como hoje. No começo, eu ficava bem
triste. Depois eu comecei a entender que era a vontade de Deus. Era
dele e ele queria levar", diz, conformada.
Para alimentar
tantas bocas, Lindinalva sempre ajudou o marido no sustento da família.
Mas sempre trabalhou em casa para não tirar os olhos dos filhos. O
casal manteve um bar durante muitos anos, o "bar do seu Zé", na praça
central de Maracanaú, na Grande Fortaleza, onde vivem há cerca de 40
anos. Atualmente, ela ajuda a filha mais velha em uma fábrica de
roupas. "A gente fica doente quando está parada", afirma.
Lindinalva e José se conheceram no Crato, no Sul do Ceará, onde ele era
empregado da Rede Ferroviária Federal (Refesa), depois da Sudene, mas
adoeceu e parou. Os dois se conheceram por meio do pai de Lindinalva,
que trabalhava com José. A paixão, que deu tantos frutos, ainda
permanece até hoje, ela garante. "Nós dois somos uma pessoa só. A mesma
paciência, o convívio", afirma.