O grupo de alunos com pior situação econômica teve os piores
desempenhos em matemática e português na Prova Brasil de 2009, mostra um
cruzamento de dados feito pela Fundação Lemann e fornecido ao UOL Educação.
A prova é aplicada a alunos do 5º e 9º ano do ensino fundamental de
escolas públicas e acontece a cada dois anos. Os dados de 2009 são os
mais recentes disponíveis.
Segundo Francisco Soares, especialista em avaliações em educação e
professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), a proficiência
do aluno reflete, ao mesmo tempo, todas as características dele,
inclusive as socioeconômicas. Os alunos que têm melhores condições
econômicas, diz, têm mais condições de se saírem melhor na escola.
“A proficiência do aluno reflete de forma muito próxima sua
característica sociodemográfica. Isto [a diferença nos resultados] é uma
prova de que a escola no Brasil não consegue cumprir sua função.
Aprendem principalmente os alunos que já trazem de casa as condições
adequadas para o aprendizado.”
Desempenho
Em matemática, no 5º ano, enquanto oito em cada dez (80,83%) alunos do
grupo “mais pobre” não atingiram o nível mínimo de aprendizado para a
série em que estão, pouco mais de cinco em dez (55,36%) do grupo “mais
rico” conseguiram o mesmo desempenho.
Isso significa dizer que esses estudantes não conseguem, por exemplo,
ler informações e números apresentados em tabelas ou identificar que uma
operação de divisão resolve um dado problema. Somente 17,69% dos
estudantes “mais pobres” e 31,74% dos “mais ricos” atingiram a categoria
de aprendizado “adequada”.
Proficiência em português (escala Saeb)
5º ano | 9º ano | |
Abaixo do básico | 125-150 | 125-200 |
Básico | 150-200 | 200-275 |
Adequado | 200-250 | 275-325 |
Avançado | 250-325 | 325-350 |
Proficiência em matemática (escala Saeb)
5º ano | 9º ano | |
Abaixo do básico | 125-175 | 125-225 |
Básico | 175-225 | 225-300 |
Adequado | 225-275 | 300-350 |
Avançado | 275-375 | 350-425 |
Já no 9º ano, na mesma disciplina, a distância entre os dois grupos que
não atingiram o nível adequado é menor: 94,37% dos “mais pobres” contra
83,01% dos “mais ricos”. Esses estudantes não consegue fazer operações
de adição, subtração, divisão ou multiplicação que envolvam centavos em
unidades monetárias e/ou resolver problemas com porcentagens.
“É um problema geral [do 9º ano]. Nem os ‘mais ricos’ estão conseguindo
aprender. Mas é bom lembrar que estamos falando de escolas públicas”,
afirma o economista Ernesto Faria, autor do levantamento.
Resultados
No geral, independentemente da classe econômica, o resultado é melhor
nos anos iniciais do ensino fundamental do que nos finais. Ainda que
bastante ruins e acima dos 50%, o total de estudantes do 5º ano que não
atingiu a categoria “adequado” é menor do que os do 9º ano, em que o
menor índice está em torno de 70%.
Para Faria, a própria dificuldade adicional da segunda fase do ensino
fundamental, em que são abordados conteúdos mais específicos em
matemática, por exemplo, ajuda a piorar os resultados. “A partir do
segundo ciclo, soma-se um grau de complexidade muito grande. Em língua
portuguesa, o vocabulário que vem de casa, ter contato desde criança com
diversas pessoas, ajuda. Em matemática, nem tanto”, diz.
A Prova Brasil é aplicada para alunos do 5º e 9º anos do fundamental de
escolas públicas municipais, estaduais e federais, de áreas rural e
urbana, que tenham, no mínimo, 20 matrículas na série avaliada. No ano
passado, houve outra edição da prova. Porém, os resultados ainda não
foram divulgados.
Tabela de pontuações
1 item | 2 itens | 3 itens | 4+ itens | |
TV | 1 | 2 | 3 | 3 |
Rádio | 1 | 2 | 3 | 3 |
Banheiro | 4 | 5 | 6 | 7 |
Automóvel | 4 | 7 | 9 | 9 |
Empregada mensalista | 3 | 4 | 4 | 4 |
Máquina de lavar | 2 | 2 | 2 | 2 |
Vídeo cassete | 2 | 2 | 2 | 2 |
Geladeira | 4 | 4 | 4 | 4 |
Freezer | 2 | 2 | 2 | 2 |