Na contemporaneidade, a "indústria cultural" prospera superlativamente em receita e em público, fazendo que o mercado do entretenimento seja um dos mais lucrativos. Trata-se basicamente de entretenimento fácil, anódino, descartável. Programas de tevê de baixa qualidade, super produções hollywoodianas, muitos jogos de video-game ou de computador violentos, best-sellers ordinários, entre outros, tudo isso é diversão barata que não aciona a reflexão crítica do público, ou ao menos a anestesia, devido a recursos apelativos, como por exemplo o abuso de efeitos especiais, que fazem o delírio da massa.
Ora, a literatura, a boa literatura, não é só entretenimento nem é só reflexão crítica, é a síntese de ambos, e isso faz dela uma atividade peculiaríssima e indispensável às nossas vidas. Embrenhar-se na leitura das aventuras de Tom Sawyer, dos contos perturbadores de Edgar Allan Poe ou da saborosa ficção científica de Júlio Verne é atividade que pode ser também muito divertida para os jovens tanto quanto os jogos eletrônicos ou a programação medíocre imposta pela maioria das redes de televisão. O fato é que esses jovens devem ser estimulados a manter -- preferencialmente desde a infância -- um contato fecundo com as obras literárias. No entanto, esse contato não deve ser à força nem colocado sob um prisma meramente bacharelesco; pelo contrário, deve-se mostrar que a literatura não é só seriedade ou só um conjunto de enigmas "indecifráveis": a leitura antes de tudo é prazer, e é começando pelo fruição estética que se mostrará aos potenciais leitores que a leitura da literatura não é tão "inútil" ou "chata" quanto se pensa. Por isso são fundamentais projetos como o Sarau da Cooperifa, por exemplo, que agregam leitores de comunidades carentes, contribuindo para a difusão e a conservação do mais que salutar hábito de ler literatura.
A cultura literária tem chances com a cultura de massa? É evidente que não, mas, como já disse no início desta postagem, a sobrevida da literatura passa pela crise, e tal fato me convence, definitivamente, que o mundo sempre esteve em crise, ainda que as aparências sugiram o contrário.