Apoio
cultural da Prefeitura Municipal garante mais um ano de alegria para o
folguedo de Bumba-meu-boi em Santo Estevão. Tradicional, o boi Janeiro
volta às ruas em mais um ano de festa. É domingo, dia 23 de junho, a
partir das 13:00 horas, saindo do Cruzeiro do Monte em cortejo pelo
Centro Histórico da Cidade. Não percam!
Abaixo a imagem promocional 2013.
O boi no tempo
O
Auto de bumba-meu-boi teve origem no Ciclo do Gado, no século XVIII, e
resultou das relações desiguais que existiam entre os escravos e os
senhores nas casas grandes e senzalas. Refletia as condições sociais
vividas pelos negros e índios à época.
Ele é contado e recontado através dos tempos na tradição oral nordestina.
A
lenda da origem do bumba-meu-boi adquire contornos de sátira, comédia,
tragédia e drama, dependendo do lugar em que se insere, mas sempre
levando em consideração a história de um homem e um boi.
Há um contraste entre a fragilidade do homem e a força bruta do boi.
Existe
também uma lenda que conta a história de um vaqueiro de prenome Chico,
que para atender o desejo da mulher Catrina que estava grávida, matou o
melhor boi que existia na fazenda onde residiam para tirar a língua,
sendo necessário o uso de rezas para reviver o boi, caso contrário, o
patrão mataria o vaqueiro. Essa é a mais emocionante história, vez que o
Auto de Bumba-meu-boi traça os contornos da morte e ressurreição do
boi.
Em nossa terra ele recebe o nome de boi JANEIRO.
O
bumba-meu-boi tem nomes, ritmos, formas de apresentação, indumentárias,
personagens, instrumentos, adereços e temas diferentes a depender da
região onde é apresentado. Ele é conhecido por Boi-Bumbá, Pavulagem, Boi
Calemba, Bumbá, Boi de Reis, Boi Surubim, Boi Zumbi, Boi Janeiro, Boi
Estrela do Mar, Dromedário, Mulinha-de-Ouro, Boi de Mourão, Boi de
Mamão, Bumba, Folguedo do Boi, Boizinho, Boi de Jacá e Dança do Boi.
A festa tem quatro momentos: a Entrada ou Juntada, quando os participantes se organizam para sair, o Lá Vai, que é o aviso para o dono da casa ou do lugar indicando que o grupo está chegando, a Licença, que é o pedido para dançar na frente da casa ou lugar escolhido, e por fim a Despedida ou Levanta, que é quando a o grupo sai e segue para outro lugar.
E
o bumba meu boi nos ensina a aprender e conviver com a crítica, porque
foi ela quem marcou no tempo, há muito, a nossa existência. Veja o que
disse o padre pernambucano Miguel do Sacramento Lopes Gama sobre o boi
em 1840:
A estultice do bumba-meu-boi
De
quantos recreios, folganças e desenfados populares há em nosso
Pernambuco, eu não conheço um tão tolo, tão estúpido e destituído de
graça como o aliás bem conhecido bumba-meu-boi. Em tal brinco não se
encontra nenhum enredo, nem verossimilhança, nem ligação; é um agregado
de disparates. Um negro metido debaixo de uma baeta é o boi; um
capadócio, enfiado pelo fundo de um panacu velho, chama-se o
cavalo-marinho; outro, alapardado sob lençóis, denomina-se burrinha; um
menino com duas saias, uma da cintura para baixo, outra para cima,
terminando para a cabeça com uma urupema, é o que chama a capoira. Há
além disto outro capadócio que se chama o pai Mateus.
O
sujeito do cavalo-marinho é o senhor do boi, da burrinha, da caipora e
de Mateus. Todo o divertimento cifra-se em o dono de toda esta súcia
fazer dançar, ao som de violas, pandeiros e de uma infernal berraria, o
tal bêbado Mateus, a burrinha, a caipora, o boi (que com efeito é animal
muito ligeirinho, trêfego e bailarino). Além disto o boi morre sempre
sem quê nem para quê, e ressuscita por virtude de um clister que pespega
o Mateus, coisa muito agradável e divertida para os judiciosos
espectadores. Até aqui não passa o tal divertimento de um brinco popular
e grandemente desengraçado. Mas de certos anos para cá não há
bumba-meu-boi que preste, se nele não aparece um sujeito vestido de
clérigo, e algumas vezes de roquete e estola para servir de bobo da
função. Quem faz ordinariamente o papel de sacerdote bufo é um
brejeirote despejado, e escolhido para desempenhar a tarefa até o mais
porco e nojento ridículo. Em um país católico romano consente-se e
aplaude-se que na maior publicidade sirva de bobo um bandalho disfarçado
em sacerdote, e com as vestimentas do culto. E para complemento de
escárnio esse padre bufo ouve de confissão ao Mateus, o qual negro
cativo faz cair de pernas ao ar o seu confessor, e acaba, como é
natural, dando muita chicotada no sacerdote! Quem acreditará que tal se
consinta e aprove em uma província das mais polidas do império? Como é
possível ludibriar e escarnear mais o estado sacerdotal? (...) Querem
sinal menos equívoco de desprezo e abjeção a que tem chegado entre nós o
ministério sagrado, e conseguintemente a religião?
O Carapuceiro, n. 2 (11/01/1840)
Em SANTO ESTEVÃO essa
tradição começa por volta de 1943, durante a 2ª guerra mundial. Era uma
alegria só quando Bernardino de Inácio, acompanhado de seu filho
Pereira (mais conhecido por Sêo Pereira), Conrado, Cezínio (da galinha),
João de Eustáquio (já falecidos), Antonio do Morro (residente na
Avenida Rio Branco próximo ao Cemitério), Estevão do Morro (primo de
Antonio do Morro), Tonho Braga (policial já falecido) e Tonho de Caboclo
da Serrinha, este último que dava vida e movimento ao boi (ele era o
tripa, como chamamos). As apresentações do bumba-meu-boi ocorriam no
centro histórico de Santo Estevão, nas ruas conhecidas por Pulo do Bode,
Praça da Lua, Rua do Padre, Rua das Quinze Casas, Rua Benjamin
Constant, Praça da Prefeitura e Rua do Cemitério. Era o centro que
existia até a metade do século XX. As apresentações dess grupo se
seguiram até 1962. Em 1982, Fiim de Inês (neto de Bernardino e filho de
Sêo Pereira) juntou-se aos amigos Péu de Pedro Soldado, Djalma de
Dolores (Bob), Têvo de Buque e Chico de Inês, dentre outros, retomando
as apresentações nas ruas de nossa cidade até 1995. Em 1999 o professor
Francisco Anísio (Chico), primo de Fiim de Inês, monta um Bumba-meu-boi
para apresentações na Escola Tancredo Neves, onde lecionava. Já no ano
de 2005, após iniciar as atividades do bar Vivenda do Monte, Francisco
Anísio e seus familiares montam uma apresentação de Bumba-meu-boi,
revivendo a saga do boi, saindo do Cruzeiro do Monte, passando pelas
ruas do Centro da cidade, indo até a Praça Sete de Setembro onde se
realizam os festejos juninos promovidos pela Prefeitura Municipal. Daí
em diante não mais parou o festejo. 2013 é mais um ano de festa sob o
comando de Chico, acompanhado de seus familiares, Jaí de Dê, Têvo de
Buque, Mazinho, Tataí, Bulôfo e diversos outros moradores das ruas do
Monte, Alto do Cruzeiro, Matadouro, Santo Estevão, Mutirão e outros
logradouros vizinhos, além dos tantos visitantes de outras comunidades.
Esta festa é uma justa homenagem a quem manteve e mantém viva as tradições populares do nosso povo.
Este
texto foi produzido a partir de relatos de pessoas da comunidade,
dentre elas Chico de Marcílio, Maria Adélia, Antonio do Morro, Fiim de
Inês, além da coleta de informações disponíveis na internet.
Nomes
históricos podem não haver sido citados por desconhecimento. Se você
tem informações ou teve participação no Bumba-meu-boi de Santo Estevão,
envie para o e-mail: francisacp2@yahoo.com.br. Fotografias antigas são
muito bem vindas.
As
mensagens, imagens e músicas inseridas no Auto possuem valor cultural, e
o registro de autoria se encontra disponível em nossa sede.
Informes de Francisco Anisio