Um dos principais protagonistas da Comissão Parlamentar de Inquérito da Petrobras, o deputado federal Antonio Imbassahy (PSDB-BA), vice-presidente da CPI, vai ouvir nesta terça, 19, em Londres, o depoimento de um ex-executivo da empresa holandesa SBM Offshore, que alugava equipamentos para a Petrobras e confessou ter pago propina a agentes públicos brasileiros na estatal petrolífera e em outras áreas. Antes de viajar, ele deu entrevista exclusiva ao A TARDEpara falar dos trabalhos da CPI e dos próximos passos da Comissão, como o provável futuro depoimento de Ricardo Pessoa. Diz que a CPI não vai acabar em pizza até pela dimensão que ela assumiu com as descobertas da Operação Lava Jato, comandada pelo juiz federal Sérgio Moro.
Quais os principais objetivos dessa CPI da Petrobras? Muita gente acha que ela surgiu apenas para atrapalhar o trabalho do juiz Sérgio Moro, que apura a Operação Lava Jato.
São dois objetivos principais. A investigação propriamente dita para alcançar os culpados por tudo que aconteceu no "Petrolão" e também um processo de soerguer, levantar a Petrobras. E ao final realizar alguma modificação na legislação brasileira que permita reduzir a impunidade, aumentando controles do Sistema Financeiro Nacional.
Mas os parlamentares foram com a disposição de cortar na própria carne, já que tem deputados e senadores envolvidos?
Eu até brinco e digo que, quando me matriculei na CPI, já fui determinado a fazer um bom serviço. E conversei com o presidente da CPI, deputado Hugo Mota (PMDB-PB), que era determinante a gente fazer um trabalho sério, à altura da expectativa da população. Até porque seria uma CPI muito acompanhada pelos brasileiros, dado o grau de indignação por conta do nível de corrupção da Petrobras, do descontrole da economia, da sensação de impunidade e da Operação Lava Jato. Se houvesse qualquer tipo de vacilo por parte dos dirigentes da CPI, isso seria extremamente negativo para a imagem da Câmara e dos membros da Comissão. Cheguei a dizer que se as pessoas perceberem que não é uma coisa séria, os membros da CPI serão hostilizados em restaurantes, avião de carreira, enfim, por onde andar.
Qual o nível de influência do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), um dos citados na Lava Jato, na CPI. A Comissão tem autonomia para responsabilizá-lo já que ele tem muita influência no Congresso?
Claro que no exercício da presidência da Câmara ele tem influência não apenas no funcionamento dessa Comissão e de tantas outras. Assim como líderes partidários tem influência por tudo que acontece na Casa Legislativa. Mas existe um distanciamento com relação à nossa autonomia e qualquer tipo de influência, de qualquer que seja, que possa interferir para conduzir a CPI em uma direção errada. Registro que não tem havido qualquer tipo de problema nesse aspecto.
O senhor acha que a própria pressão da sociedade, já que a CPI está sob holofotes, acaba impedindo isso?
Sim. Esse acompanhamento da população brasileira inibe qualquer ação. Até porque todo mundo sabe tudo. Qualquer coisa que se faça ali, será rapidamente percebido e a reação virá. E é bom que seja assim. Por isso que, desde o início, nossa posição é que todas as sessões fossem abertas, com a presença da imprensa. Me recordo que a primeira oitiva, do senhor Pedro Barusco, ele não queria que fosse aberta. Eu o convenci que era melhor para ele e para o Brasil que fosse com a imprensa assistindo.
Qual a importância desse depoimento que o senhor colherá em Londres, nessa terça, do empresário Jonathan Taylor, ex-diretor da SBM Offshore, empresa acusada de pagar propinas ao ex-gerente de Tecnologia da Petrobras Pedro Barusco?
A SBM é uma empresa que fornece equipamentos de sondas, navios de alto mar para a Petrobras fazer exploração e produção de petróleo. Ela tem nos seus registros uma ocorrência muito grave: passou o equivalente a US$ 139 milhões em propinas para técnicos da Petrobras e outros agentes públicos. Esse dirigente, Taylor, enviou mensagem para a CPI dizendo que gostaria de oferecer documentos de auditorias internas sobre o assunto que aconteceram na SBM. Seriam até documentos inéditos. Vamos fazer essa diligência, trazer esses documentos e revelar para a população brasileira tudo o que aconteceu.
Essa empresa está tentando devolver o dinheiro desviado dos contratos firmando um acordo de leniência...
Antes de viajar tive um contato com o ministro da Controladoria Geral da União, Valdir Simão. Depois com o chefe de recuperação de ativos e cooperação internacional do Ministério da Justiça, Ricardo Saad, e com o Itamaraty. Isso porque queremos fazer tudo de maneira consequente, séria, que não fique nenhum tipo de dúvida. Não se pode ter uma ação de parcialidade ou partidarismo em qualquer movimento da CPI. A SBM foi denunciada pelo Ministério Público da Holanda, que recebeu informação do MP da Suíça, que alcançou o Departamento de Justiça Americano. Veja como essa questão da Petrobras tem uma dimensão grande. A SBM já pagou uma multa de US$ 240 milhões e agora tenta fazer um acordo de leniência no Brasil. Existe dificuldade porque esse é um assunto polêmico e novo. O País nunca passou por uma situação dessas e tem dificuldades, às vezes, de entendimento entre os órgãos de fiscalização, mas eu acho que com o tempo, a maturação do processo vai se encontrar uma solução.
E em relação à convocação do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pela CPI, que alguns deputados tentar fazer?
Não conseguimos enxergar, e eu falo por vários membros da CPI, uma ligação entre o requerimento que foi apresentado pelo deputado Paulinho da Força, convocando dr. Janot e os objetivos da Comissão. De maneira que acho que esse assunto não vai prosperar.
O senhor destacaria algum ponto importante que a CPI já avançou em relação ao que o juiz Sérgio Moro descobriu?
Estive com o juiz Moro em Curitiba antes dessa reunião que tivemos semana passada quando ouvimos 14 presos da Lava Jato. Foi dito a ele que nosso propósito é convergente com o que ele estava fazendo. Na medida que a CPI revela os depoimentos dados à Justiça você vai respaldando politicamente, dando força política à Operação Lava Jato.
Mesmo com o episódio dos roedores que foram soltos no depoimento do ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, e da doleira cantando "Amada amante", que deu um caráter de circo, isso não empana a CPI?
Os roedores foram uma iniciativa isolada, que está sendo investigada. Não atrapalhou a sessão de Vaccari, que foi até eu que convoquei no exercício da presidência. Quanto à doleira Nelma Kodama, pelo que eu ouvi da Polícia Federal, é realmente uma criminosa de alta periculosidade no sentido de movimentar milhões de reais, lavar dinheiro não apenas nesse esquema que a gente está investigando, mas está envolvida no tráfico de entorpecentes. Ela protagonizou aquele episódio, mas foi repreendida pelo presidente da CPI que a colocou no lugar imediatamente.
Vocês vão convocar o empresário Ricardo Pessoa da UTC nos próximos dias?
Percebemos que aqueles que estão negociando delação premiada, por conta da legislação, não podem falar na CPI para não atrapalhar o acordo. Já tem 16 pessoas que fecharam acordo. Pessoa, pelo que eu li, já chegou no termo da delação premiada. Estamos aguardando o termo ser deferido pelo STF, ele depor na Justiça. Nessa semana vamos começar a ouvir os empresários que já fizeram acordo e estão em prisão domiciliar.
O que os membros da CPI esperam da delação de Ricardo Pessoa?
Tudo o que ouvimos é que a relação dele é muito forte no meio político e governamental. Se isso se confirmar vai abalar a estrutura da República.
O senhor acha que ele falará o que sabe? Ele pode ser seletivo...
Quando o cidadão decide aceitar a delação premiada, já pensou e repensou. Já conversou com a alma, com a família, com o orientador espiritual. Se ele decidiu fazer aquilo, espere que ele vai falar tudo. Não tenho dúvida quanto a isso. Ou ele fala tudo que sabe e daí tem os direitos que a delação premiada lhe oferece, como redução das penas, ou se não falar tudo que sabe terá sua pena quadruplicada. É bom para o País que ele fale.
Ele seria o principal nome para desmontar o esquema na Petrobras?
Não. Acho que o principal foi ex-diretor de Refino e Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa. O próprio procurador Janot me disse que, quando Costa percebeu que integrantes da sua família poderiam ser presos, resolveu contar tudo. Agora, pelas ligações do empresário Ricardo Pessoa, se ele falar tudo, o Brasil vai tremer.
Quando a CPI termina?
O prazo é de 120 dias. Já temos 60. Mas ela pode ser prorrogada, o que deve ocorrer. Ela não vai dar em pizza até pela dimensão que alcançou.